Não é possível pagar a dívida

Manuela Ferreira Leite não se arrepende de ter assinado o manifesto a pedir a reestruturação da dívida

Manuela Ferreira Leite considera que Portugal não conseguirá pagar a dívida pública e não se arrepende de ter assinado, em 2014, o Manifesto dos 70 que preconizava a reestruturação. “Temos uma dívida. É possível pagá-la? A minha posição é que não é possível pagá-la, porque todos os cálculos se baseiam em determinados níveis de taxas de juro, défices orçamentais primários e taxas de crescimento que não se vão verificar sempre”, disse, no parlamento, a ex-ministra das Finanças.

Ferreira Leite foi ouvida no grupo de trabalho para avaliar o endividamento público e alertou que, mesmo que se mantivessem as atuais condições, Portugal demoraria 30 anos a pagar a dívida pública. “Trinta e tal anos não é um projeto que se possa apresentar a um país”. A ex-ministra das Finanças de Durão Barroso congratulou-se com o facto de existir “uma situação orçamental mais equilibrada e, portanto, não geradora de dívida”, mas não deixou de frisar que esta situação tem “custos para as pessoas” e a prova disso é “a degradação dos serviços públicos”.

Para Manuela Ferreira Leite, “o problema da consolidação orçamental” e da dívida pública não terá solução sem crescimento económico e, apesar de concordar com algumas medidas que estão a ser aplicadas por Mário Centeno, tem “sérias dúvidas sobre a sustentabilidade deste caminho”.

Ferreira Leite foi uma das subscritoras, no tempo da troika, de um manifesto que defendia a reestruturação da dívida e que reuniu personalidades de direita e de esquerda. O então primeiro-ministro Passos Coelho criticou a iniciativa por “enviar a mensagem errada a todos aqueles que esperam que Portugal cumpra as suas realizações”.

Quatro anos depois, Manuela Ferreira Leite garante que “não se arrepende de o ter assinado” e que “se fosse hoje assinava outra vez”. A ex-ministra defendeu, porém, que situação é diferente, porque a União Europeia é menos rígida. “O ambiente e a rigidez das posições da União Europeia têm estado muitíssimo mais amenos”.