Joe Jackson, o patriarca ‘tirano’

O controverso pai do clã Jackson continua a despertar reações extremadas – e opostas – até entre os seus descendentes. Paris Jackson, filha de Michael, elogiou-o

Joe Jackson, o patriarca ‘tirano’

Durante décadas, Joe Jackson, o pai da realeza pop americana foi o mau da fita. No ano passado, e já diagnosticado com demência e preso a uma cadeira de rodas, Joe Jackson confessou a amigos estar arrependido da agressividade usada com os filhos. Em nome da disciplina, defendia. «Não queria que fossem moles. Só batia neles com um cinto. Nunca os espanquei», contou.

O pai dos nove Jacksons – Rebbie, Jackie, Tito, Jermaine, La Toya, Marlon, Michael, Randy e Janet – o décimo, Brandon, morreu pouco depois de nascer, fruto da sua relação com Katherine, com quem foi casado durante mais de 60 anos – era visto como um pai tirano desde que o mais popular dos filhos, Michael, despediu o progenitor do papel de manager em 1979, em vésperas de descolar para a imortalidade nos decisivos Off The Wall e Thriller. 

Em entrevistas, Michael Jackson contava episódios de retaliação quando ele e os irmãos ensaiavam com os Jackson 5. Se algum deles errava um passo de dança ou uma nota, era de pronto agredido fisicamente. Segundo os relatos, a pressão era tanta que a simples imagem de Joe provocava ansiedade e vómitos. O rei da pop queixava-se ainda de o pai lhe chamar feio.

Internado nos últimos tempos em estado terminal com um cancro no pâncreas, Joe Jackson perdeu a vida aos 89 anos esta quarta feira.

Nascido em 1928, casou em 1949 com Katherine Jackson, teve 11 filhos – o 11.º de uma relação extraconjugal –, responsáveis por tornar famoso o apelido. 

Nos anos 50, Joe e o irmão Luther formaram uma banda, os Falcons, mas foi nos anos 60, quando juntou cinco filhos nos Jackson 5 ( Michael, Jackie, Tito, Jermaine e Marlon) que ganhou fama e fortuna como mentor e empresário do grupo que projetaria Michael Jackson para uma carreira estratosférica. 

O patriarca da família cedo percebeu que as vozes dos filhos eram o passaporte para sair do meio pobre de Indiana. E viu em Michael Jackson um talento singular que moldou já a solo. «Apareci com um grupo de miúdos que toda a gente no mundo adorou. E tratei toda a gente bem», defendeu em entrevista à CNN em 2013. «Ainda bem que era duro, pois vejam o resultado», respondia ainda. 

E o resultado é o rei da pop e as princesas – nos anos 80 e 90 – Janet e La Toya Jackson, a realeza entre carreiras mais envergonhadas mas relevantes. Janet Jackson afirmou diversas vezes não ter um relacionamento próximo com o patriarca, a quem, aliás, não chamava pai, mas sim Joe – ou Joseph, o seu nome de cédula. La Toya foi ainda mais reveladora e, na autobiografia publicada em 1991, confessava ter sofrido abusos sexuais em casa, tal como a irmã Rebbie. Mais tarde, haveria de se desmentir a si mesma. 

O cadastro de maus-tratos que justificou com a busca pela perfeição ofuscou o papel visionário de Joe Jackson como empresário. Michael Jackson não o incluiu no testamento, deixando a herança à mãe e aos irmãos. O patriarca recorreu à Justiça para mudar o castigo. Em vão. Nos últimos anos passou a cobrar por entrevistas e palestras.

«Ele era um assessor brilhante, mas o que eu realmente queria era um pai», disse certa vez Michael Jackson citado numa das suas biografias, afirmando que se sentiria um órfão para sempre.

Em 2012, Katherine Jackson terminou o casamento de longa data, afirmando que Joe não passava de um «mulherengo» cuja única preocupação na vida era ter acesso à fortuna deixada pelo filho.

Apesar de um passado repleto de verdadeiros buracos negros, alguns membros do clã prestaram-lhe homenagem após a sua morte. Paris Jackson, filha de Michael Jackson, usou um tom elogioso para reagir à morte de Joe nas redes sociais. Na sua conta de Instagram, a neta do patriarca dos Jackson e que aparentemente o considera uma lenda afirmou que tinha sido uma «benção dizer tudo o que precisava antes de dizer adeus». E acrescentou: «Todos os que te foram visitar chegaram com amor, respeito e muito orgulho nos corações. Orgulho de ti, orgulho de serem teus filhos, orgulho de serem teus netos, orgulho de serem teus bisnetos, orgulho da tua força e de dividir contigo a dinastias que criaste. Orgulho de serem um Jackson. Tu foste o primeiro verdadeiro Jackson, a lenda que começou tudo isto». 

Também o irmão, Prince, publicou uma mensagem similar nas redes sociais. As mensagens não terão caído bem a Janet Jackson que, de acordo com o Daily Mail, continuava a manter uma «péssima relação com o progenitor».

*Com Mariana Madrinha