‘Rio optou por querer ser em 2019 um orgulhoso derrotado’

Líder da ‘jota’ retirou militantes das eleições no Porto por ‘ingerência na autonomia’ e diz ao CDS que não é controlável. Sobre o PSD, acredita que será apenas uma muleta do PS.

Francisco Rodrigues dos Santos , presidente da Juventude Popular desde 2015 e advogado, desafiou a direção do CDS nas últimas eleições para a distrital do Porto ao retirar os militantes da ‘jota’ do ato eleitoral. Em entrevista ao SOL, a partir dos Açores, explica que não está zangado com a líder centrista e até gostaria de ver Assunção Cristas como primeira-ministra. 

Foi recebido pelo Presidente da República e propôs que as juventudes partidárias passem a constar na lista de precedências do protocolo. Por que é tão importante para si integrar o protocolo do Estado?

Por uma circunstância muito particular: os jovens até aos 30 anos, apesar de representarem mais de 30 por cento da população, não deixam de ser um grupo que está sub-representado politicamente. Qual deve ser o papel do Estado na opinião da JP? Valorizar os setores da sociedade, nomeadamente através do reconhecimento do estatuto político das organizações de âmbito nacional mandatadas para defender os seus interesses, como é o caso das juventudes partidárias.  As novas gerações têm de ser avaliadas consoante o seu mérito, o seu pefil, as suas competências. Não queremos favores.

O Presidente da República  foi sensível aos seus argumentos?

O Presidente da República foi bastante sensível ao facto de existir essa sub-representação dos partidos e preocupado com o situacionismo que se gerou em relação à participação jovem.

Como avalia a operação Tutti Frutti com a realização de buscas ao PSD e ao PS?

Em primeiro lugar, seria uma boa medida regulamentarmos o lóbi em Portugal, porque conferiria uma maior transparência. Em segundo lugar,   sinto que em Portugal existe algum sentimento de impunidade face aos atos nocivos sobre o bem comum que são praticados por partidos políticos. Sem querer fazer juízos, nem antecipar julgamentos, vejo como positivo quando a Justiça atua de forma previdente, na fiscalização de dados potencialmente criminosos. A política tem de dar um exemplo à sociedade, de serviço, de idoneidade e de promoção da defesa intransigente das liberdades e garantias dos cidadãos. Que se rompa com a bolha de interesses do bloco central de negócios e que possa transmitir valores e não transigir na troca de favores. 

Por falar em valores, as eleições para a distrital do CDS-Porto foram polémicas, com a exclusão de militantes da JP nos cadernos eleitorais. A JP foi essencial para o resultado final que ditou a derrota de Cecília Meireles e a eleição de Fernando Barbosa?

Essa análise é pragmática, mas quero dizer que a Juventude Popular não tomou uma posição com o objetivo de influenciar o resultado eleitoral.

Mas retirou 367 militantes do ato eleitoral na sequência do impedimento de alguns militantes da JP de Vila Nova de Gaia de exercerem o seu direito de voto.

O que a Juventude Popular fez foi apelar à desmobilização dos militantes que se encontravam em condições de exercer o seu direito de voto, bem como à renúncia das candidaturas individuais. Entendemos que deveria ser salvaguardado o cumprimento dos estatutos e da autonomia da JP face ao CDS no que diz respeito à gestão política e jurisdicional dos seus processos eleitorais. Creio que a JP agiu na defesa de todos os militantes da Juventude Popular, evitando qualquer tentativa de ingerência no quadro regular do seu funcionamento. 

A sua direção foi ameaçada? Por quem?

Eu sou um institucionalista. O  que é do foro privado dos partidos deve ser discutido  dentro de portas. Mas quero dar-lhe apenas um sinal bastante categórico: só se deixa ameaçar quem é controlável e está dependente da política e não é o meu caso.  O mundo está a tornar-se cada vez mais estranho quando é preciso fazer o que está certo.

No CDS inclusivé?

Estou a falar do  mundo em sentido lato.  Não sou controlável. Devemos ser um exemplo de lisura, de cumprimento de legalidade e das boas práticas políticas.

Não houve lisura no processo Porto. É isto que me está a dizer.

Eu não digo que não houve lisura. Não houve o respeito pelas obrigações que estão redigidas contratualmente entre a Juventude Popular e o CDS. E, nessa medida, ocorreu uma ingerência que não poderia ter tido lugar. E transmitimo-lo ao CDS. Agora decidimos avançar com esta medida.

Retirar os militantes de um ato eleitoral foi uma medida extrema.

Não foi. Uma medida extrema seria a JP ter tomado posição junto dos órgãos de comunicação social e esgotar a via de diálogo com o CDS. O que se passou foi: a Juventude Popular não veio para a praça pública esmiuçar esta situação antes de tomar uma posição de força.E prestámos solidariedade para com os militantes que foram irregularmente impedidos de votar por  um órgão incompetente para proferir aquela decisão. Foi isso que fizémos e não foi uma opção ou decisão violenta. Decisão violenta seria  impugnar o ato eleitoral.Tratou- se de  uma reivindicação face a um abuso de poder.

Assunção Cristas teve responsabilidades neste processo? 

Confesso que não falei com a presidente do partido sobre este processo. Assunção Cristas não foi uma parte ativa na marcha deste processo eleitoral, por isso, aguardarei uma conversa que espero ter com a presidente do partido em momento próprio para retirarmos ilações para o futuro e regularizar a boa prática democrática que é tradicional entre a JP e o CDS.  Quem censurou os cadernos da JP foi o presidente do plenário distrital do Porto.  

Alguém da direção do CDS lhe transmitiu que poderia estar em causa o seu lugar nas eleições legislativas de 2019?

Não vou comentar essa matéria, porque não acho que beneficie o CDS nem a Juventude Popular estar a aprofundar temáticas que não dignificam quer um, quer outro. Não vou comentar.

Pergunto-lhe de outra forma: Acredita que o líder da JP tenha um lugar nas listas das Legislativas de 2019?

Sou franco, o que move o presidente da Juventude da Popular não é a obtenção de contrapartidas pessoais, nem o objetivo desesperado de ocupar uma cadeira no Parlamento. O que me move, como líder de uma juventude partidária com 22 mil filiados, é lutar pelos valores em que acredito. E quando os princípios são certos não se impõem a ninguém. Oferecem-se esses princípios ao partido. Julgo que estamos que perante um momento histórico em que o CDS se pode modernizar e dar uma resposta no quadro dos nossos valores tradicionais, do liberalismo, do conservador e do humanismo cristão. 

Acha que a líder do CDS está a fazer o caminho certo?

A presidente do CDS precisa da Juventude Popular para fazer este percurso, porque o CDS precisa da  alavancagem das novas gerações para prosseguir e atingir o crescimento que legitimamente ambiciona, quebrar o bipartidarismo instalado, assegurar a renovação da sua classe política e conquistar novas franjas do eleitorado. Quando tomei posse como presidente da Juventude Popular, tínhamos 17 mil filiados. Hoje em dia estamos perto dos 22 mil. Creio que existem algumas espécies invasoras da política e as juventudes partidárias têm os instrumentos necessários para eliminá-las.

Quem são essas espécies?

No caso da corrupção, o bloco central de interesses que mata a árvore da alternativa democrática e se alimenta  dos valores do Estado, a demagogia, cujos frutos envenenados somam desilusões e irresponsabilidade, o politicamente correto que serve de fertilizante à uniformidade de pensamento, a dependência dos partidos que corta a liberdade individual, o amiguismo que elimina o mérito. A JP tem  uma visão bastante desempoirada e estamos definitivamente obrigados a acabar com essa república do centrão.

Existe o risco de um bloco central com a liderança de Rui Rio no PSD?

Ainda bem que toca nesse ponto. Temos de desapertar o colete de forças que normalmente existe em Portugal, porque manietou os jovens que rejeitavam o socialismo, mas que acabaram  barricados no seu espaço sucedâneo, que é a social-democracia. 

Mas há esse risco com a liderança de Rui Rio ou não?

Rui Rio optou por querer ser, em 2019, um orgulhoso derrotado em vez de querer ser um vencedor improvável. Quis, com o sentido de cumpridor do código da estrada,  tentar ultrapassar o PS pela esquerda, como se isso fosse uma estratégia que o levasse a vencer eleições. Hoje acredita mais que o papel do PSD pode ser uma muleta do PS, viabilizando o próximo Governo. Isso ficou bem nítido desde que tomou posse.

O anúncio de Pedro Santana Lopes da criação de um novo partido baralha alguma conta?

Tenho simpatia por Pedro Santana Lopes , mas não vou fazer discutir futurologia. Tradicionalmente é difícil imporem-se novos partidos no nosso quadro político-partidário. O que eu sei é que  o PSD demitiu-se de fazer uma oposição séria e construtiva ao Governo do PS. Atribuo isso a uma similitude e a uma afinidade muito grande pelas políticas que estão a ser seguidas. O CDS, ao contrário do PSD, tem que rejeitar essa ideia de diletantismo político, de avançar à esquerda e piscar o olho à direita, e de fomentar a ilusão de que o centrão é solução para alguma coisa.

Vê-se algum dia sentado na cadeira de presidente do CDS?

Atualmente não tenho essa ambição, porque prefiro honrar o compromisso que firmei com a Juventude Popular. Eu não descarto essa possibilidade no futuro, mas terei que fazer uma avaliação casuística no dia em que essa hipótese se colocar.  É um cenário que não se põe e creio que a liderança está bem entregue à professora Assunção Cristas. Acreditamos num bom resultado nas eleições legislativas, serão o foco da JP e, se possível torná-la primeira-ministra de Portugal.