Santana não desiste. ‘Não se enervem’

Santana Lopes anunciou que a relação com o PSD acabou e abriu a porta a um novo partido. Garante que não «é uma disposição circunstancial ou um estado de alma». 

Pedro Santana Lopes fez esta sexta-feira 62 anos e começou o dia a escrever na sua página do Facebook: «não se enervem mas não pensem que é uma disposição circunstancial ou um estado de alma. Todos temos direito a seguir o caminho que consideramos certo». A mensagem era destinada «a todos os que vão opinando, divagando, apoiando, criticando, sugerindo, recordando» e «apelando».

A decisão de que se prepara para sair do PSD foi anunciada, a meio da semana, numa entrevista à revista Visão. Pelo caminho, Santana voltou a abrir a porta à criação de «uma nova organização partidária». A decisão apanhou o PSD de surpresa. Nem os mais próximos sabiam que o ex-primeiro-ministro iria anunciar que a relação com o PSD acabou. «Mas acabou mesmo!», garantiu. Nenhum dirigente do partido comentou a ameaça do ex-líder do partido. Ao SOL, foram vários os responsáveis do partido a rejeitar falar do assunto.  

Miguel Relvas, que abandonou a política ativa e tem criticado a liderança de Rui Rio, foi dos poucos a falar para dizer que espera que isso não aconteça. «Foi presidente do PSD, foi primeiro-ministro, é um político no ativo há muitos anos», disse Relvas ao jornal Público. 

Guilherme Silva, ex-líder parlamentar nos tempos em que Santana liderou o partido, também manifestou ao jornal i a esperança de que seja apenas um desabafo. «É indiscutivelmente uma mais-valia para o PSD e tem mostrado sempre uma disponibilidade total para servir o partido. Não vejo com satisfação qualquer iniciativa da parte dele, que naturalmente respeitamos, de afastamento e menos ainda de adesão ou desenvolvimento de uma força política concorrente do PSD».

Na entrevista, Santana não deixou grande margem de recuo. Garantiu que a sua intervenção política não se fará «mais dentro do PSD. Isso acabou. É uma relação que acabou».  O que está na cabeça do enfant terrible do PSD poucos sabem. O ex-presidente do partido, entre novembro de 2004 e abril de 2005, admite que poderá avançar para a criação de uma nova força política para «lutar pelo meu país», mas também diz que quer «sossego». 

Pedro Santana Lopes e o Partido Social Liberal 

A primeira vez que foi noticiado que Santana iria criar um novo partido foi em 1996. A primeira página do jornal Independente, que esta semana circulou nas redes sociais, era quase toda ocupada com a notícia de que Pedro Santana Lopes estava a preparar um partido e até já tinha nome:Partido Social Liberal. Curiosamente as mesmas iniciais do nome do fundador da nova força partidária. 

O agora Presidente da República era o líder do PSD e o jornal garantia que Santana não acreditava na «recuperação do partido e muito menos na liderança de Marcelo Rebelo de Sousa». Santana desmente que, nessa altura, tenha tido a intenção fazer um partido novo. «Se a notícia fosse verdadeira ou tivesse alguma declaração minha, teria sido, de qualquer modo, há mais de 20 anos. Muito se passou desde então. Mas era falsa e talvez que quem a fez já possa contar a história».

A hipótese voltou a ser colocada em 2011 com Pedro Passos Coelho na liderança do partido. «Quero ser livre, gosto de ser livre. Não quero ter peias. Este é o meu estado de espírito. Não tenho a decisão tomada». 

A possibilidade de Santana Lopes criar um novo partido foi um dos temas da campanha interna do PSD. Pacheco Pereira revelou ter sido convidado por Santana, no hotel da Lapa, para ajudar a fundar a nova força partidária, porque o PSD estava «morto». Santana negou que se tenha encontrado com Pacheco Pereira com esse objetivo.

Na sexta-feira, na Quadratura do Círculo, o militante social-democrata recordou o episódio. «Quando houve a campanha, entre Rui Rio e Santana Lopes, eu contei um facto que se tinha passado comigo. A outra personagem negou. Eu só tenho um provérbio português para dizer: ‘mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo’. Toda a gente percebe». Pedro Santana Lopes esteve muito ativo durante esta semana nas redes sociais. «Estou convicto, firme e sereno», garantiu, no dia em que completou 62 anos.