‘O Bloco contra a natureza’

Os comportamentos conformes à nossa natureza são mais suscetíveis de nos trazerem felicidade do que aqueles  que se lhe opõem 

Estou globalmente de acordo com o artigo de José António Saraiva com o título O Bloco Contra a Natureza, saído em 26 de maio.

Na generalidade, concordo com outros artigos do autor na mesma linha de pensamento. Penso que exprimem uma forma de pensar basicamente correta, a meu ver partilhada por muita gente, mas com muito pouco eco na comunicação social – o que os torna ‘politicamente incorretos’.

Fico, no entanto, com pena que JAS não aprofunde e leve mais longe a lógica das suas opiniões.

O que diz acerca do caráter antinatural da maior parte das medidas fraturantes que o BE tem introduzido (com o apoio do  PS e de personalidades de outros partidos, é bom lembrar) implica o reconhecimento de um ‘bem’ naquilo que é natural. Ou seja: que os comportamentos conformes à nossa natureza são mais suscetíveis de nos trazerem felicidade do que aqueles que se lhe opõem. 

E também implica o reconhecimento de uma ‘moral natural’, e que os atos contra essa moral são imorais, nos empobrecem e fazem menos felizes. Isto é verdade quanto à promoção do aborto, do divórcio, dos comportamentos homossexuais, das barrigas de aluguer, da eutanásia, etc.

Ora, creio que esta observação conduz a dois tipos de ilações: uma de caráter social, outra de caráter pessoal (a respeito do autor).

A de ‘caráter social’ é que não é provável que isto aconteça por mero acaso. Ou, pegando nas suas palavras, porque sim. Não apenas estes passos surgem sempre de um lado bem definido do espetro político, como se inserem em linhas de ação que encontramos  noutros países do mundo ocidental. 

É como se existisse (ou porque existe) uma intenção obstinada de demolir os parâmetros de conduta moral que têm sido característicos destas mesmas sociedades. E que são parâmetros de conduta de natureza cristã. É como se o objetivo fosse mesmo destruir os alicerces dos comportamentos morais e sociais herdados do cristianismo. E como, entretanto, grandes segmentos da sociedade (e dos meios de comunicação) deixaram de perceber o sentido desses alicerces, tornaram-se mais vulneráveis à argumentação superficial e facilitista que procura destruí-los.

A de ‘caráter pessoal’ é a seguinte. A moral natural faz sentido porque é conforme à natureza. Tem valor próprio, sem ser preciso invocar mais razões. Mas é lógico que nos perguntemos também se será por mero acaso que os comportamentos ditos ‘morais’, aqueles que trazem mais felicidade (para além da facilidade imediata), são conformes à natureza. Ou, por outras palavras, se esta concordância entre o nosso apelo íntimo para a felicidade e a nossa natureza não resultarão de uma intencionalidade criadora, que nos deixou uma marca indelével que aponta nesse sentido – apesar da facilidade em cair no mal, que também reconhecemos em nós. 

E na ausência de um referencial absoluto, é mais fácil compreender que tudo o mais possa ser considerado relativo, e possa levar à «ditadura do relativismo», de que fala Bento XVI.

Fica claro que sou católico. Não sou inconsciente (nem indiferente) acerca dos meus erros e dos da Igreja a que pertenço. Mas que, ao fim de dois mil anos, continua a ser o veículo transmissor da fé que faz ver o sentido destas coisas todas, e de toda a vida, da única maneira que é… conforme à nossa natureza.

Fernando Mayome Martins