TAP abana com atrasos e anulações

No Portal da Queixa as reclamações disparam 133% no 1.º semestre e já é a companhia área com mais queixas. AirHelp diz que compensações aos passageiros afetados atinge os 39 milhões.

A trasos e voos cancelados ou anulados têm marcado nos últimos meses o dia-a-dia da TAP. Essa realidade é reconhecida pela companhia aérea, que, ao SOL, reconhece que «os constrangimentos e limitações do aeroporto de Lisboa, a que se juntam também os de controlo do tráfego aéreo, têm vindo a agravar-se e têm causado sérios danos à pontualidade da TAP, provocado atrasos significativos em toda a operação da companhia», nas palavras de fonte oficial da empresa. 

A estas perturbações juntam-se também desafios operacionais, mas que a TAP promete resolvê-los em breve com a chegada de novos aviões e com o recrutamento, em curso, de mais tripulantes. Para já, para resolver esta questão, a empresa tem recorrido a voos de parceiros através de outros aeroportos europeus para fazer face ao tráfego da época de férias e aos constrangimentos do aeroporto e controlo de tráfego aéreo em Lisboa. 

«Devido ao intenso tráfego desta época do ano, associado a restrições e constrangimentos quer da infraestrutura aeroportuária quer do controlo de tráfego aéreo em Lisboa, nalguns casos, a TAP tem prevenido algumas situações pontuais de perdas de ligação dos passageiros, no ‘hub’ em Lisboa, transportando-os em voos de outras companhias e através de outros aeroportos europeus», diz a transportadora. 

Também o ministro do Planeamento e das Infraestruturas admitiu, esta semana, no Parlamento que a TAP está a «sofrer dores de crescimento» e está a responder a ineficiências operacionais, nomeadamente através da alteração do «processo de instrução» dos pilotos.

Pedro Marques revelou ainda que a transportadora criou uma estrutura interna para gerir os cancelamentos e que a Comissão Executiva da empresa já transmitiu ao Governo que «espera estabilizar significativamente a operação».

Madeira afetada 

A região da Madeira tem sido uma das afetadas tanto pelos atrasos como pelos cancelamentos de voos. A TAP diz ao SOL que têm existido «vários constrangimentos na origem das irregularidades, sendo um dos mais relevantes o fator meteorologia, que se tem agravado este ano».

No ano passado, entre janeiro e maio, foram cancelados 22 voos por razões meteorológicas. Este ano, no mesmo período, foram cancelados 139 pelo mesmo motivo. Mas a empresa garante: «Mais importante do que os custos desses constrangimentos é a segurança dos seus passageiros, que é inegociável».

Esta situação já levou o Governo Regional da Madeira a avançar com um processo contra a transportadora por considerar que está a prejudicar a economia local com os atrasos e cancelamentos de voos. Em causa estão os cerca de 70 cancelamentos de voos da empresa de aviação para a Madeira desde o início do ano, o que, de acordo com o chefe do Executivo insular, afetou aproximadamente 10 mil passageiros.

«Temos assistido nos últimos meses ao que é uma vergonha, que é a forma como a TAP tem tratado os madeirenses e prejudicado a nossa economia», declarou o líder madeirense.

Nos últimos dias, a transportadora garante que houve apenas um cancelamento em relação à Região Autónoma da Madeira, devido a uma «avaria da aeronave». Ainda assim, garantiu estar a trabalhar nos «desafios» elencados, acrescentando que os passageiros afetados têm sido transportados em voos alternativos e que há «empenho em encontrar as soluções adequadas», bem como estão a ser respeitados os regulamentos e leis.

Reclamações disparam 

Só nos primeiros seis meses do ano, o Portal da Queixa recebeu 252 reclamações da TAP, o que representa um aumento de 133% face a igual período do ano passado (foram recebidas 108 reclamações no mesmo período). De acordo com os dados a que o SOL teve acesso, a esmagadora maioria das reclamações são referentes a ‘voos cancelados’ (52%) e ‘atrasos nos voos’ (28%), as restantes distribuem-se entre reclamações a ‘falta de apoio ao cliente’ (8%), ‘pedidos de reembolsos’ (7%) e a problemas com bagagem (5%). 

No primeiro semestre do ano, no Portal da Queixa a TAP lidera o ranking das reclamações, seguida pela Ryanair (97 queixas) e Easyjet (45). 

Também a AirHelp admite que o volume de reclamações contra a TAP tem vindo a aumentar nos últimos 12 meses, sem adiantar números, mas lembrando que há cada vez mais pessoas a recorrer à empresa de defesa dos direitos dos passageiros aéreos para «os ajudar a resolver situações de atrasos, cancelamentos ou impedimento de embarque». 

A AirHelp analisou o período entre 1 de janeiro e 30 de junho de 2018 e concluiu que cerca de 109 mil passageiros afetados por perturbações em voos da TAP de e para Portugal são elegíveis a receber compensações. No total, segundo a empresa, os pedidos de compensações poderão representar para estes passageiros afetados um valor global de cerca de 39 milhões de euros.

«Neste período, cerca de 39% dos voos da TAP que partiram de Portugal sofreram perturbações. Cerca de 13.400 tiveram atrasos entre 15 e 180 minutos, cerca de 180 tiveram atrasos superiores a 180 minutos e cerca de 890 foram cancelados», diz ao SOL Bernardo Pinto, brand manager e especialista em direitos dos passageiros da empresa.