Descemos à terra

Salve Dr. António Costa!, que na questão dos professores meteu os interesses do coletivo à frente de certas clientelas 

Eliminados do Mundial, deposto Bruno de Carvalho, valeu-nos o folhetim da transferência de CR7 para Itália para manter viva a chama do futebol nos media, já que nem sequer o futuro dos ‘fugitivos’ de Alvalade causa emoções. Foram tantas as injeções de bola nestes quatro meses, que o adepto comum se encontra saturado de tanta discussão estéril. Entrámos finalmente no defeso – e entre uns mergulhos na praia para os que estão de férias, e o finalizar de trabalhos para os que anseiam pelas férias, as notícias do futebol indígena despertam pouco interesse.

Tal como o futebol pastoso que exibimos contra Marrocos ou Irão, e o futebol sem criatividade contra o Uruguai, o regresso a casa traz-nos a monotonia da política. Apenas aqui ou ali uns momentos mais picantes, como uns arrufos da esquerda perante o pragmatismo de Marcelo sobre a necessidade de aprovação do OGE 2019. Entre PCP e Bloco – encostados às cordas por um Costa que sai desta ‘geringonça’ como o único que marca o ritmo – as declarações reivindicativas sucedem-se, com a certeza adquirida de que o PS, com a faca e o queijo na mão, pouco ou nada irá ceder nas negociações do Orçamento.

 

Mas, para mim, houve por estes dias algo de marcante na política nacional: Costa ter sido taxativo, na cerimónia das obras do IP3 – e a propósito da recuperação do tempo de serviço dos professores -, dizendo que é preciso fazer opções. Por estas ou outras palavras, disse: «Fomos até onde podíamos, mas não temos capacidade financeira para responder adicionalmente às reivindicações». Finalmente, adquiri uma certeza: Costa, pressionado ou não por Marcelo ou Centeno, pela dívida pública ter ultrapassado os 250 mil milhões de euros e pelos riscos de subida das taxas de juro, vestiu o papel de um primeiro-ministro que mete os interesses do coletivo à frente de certas clientelas. Salve Dr. António Costa! 

Assim nos entendemos, sem discutir justiças ou injustiças que aqui não cabem. Ou seja: dar o que podemos dar, sem comprometer (ainda mais) as futuras gerações, que irão pagar estes desvarios de um povo remediado a fazer figura de rico. A economia não vai crescer como necessitávamos para suportar todos os encargos estruturais distribuídos nestes anos. Nalgum momento tínhamos de descer à Terra, como sucedeu com a Seleção, em que não foi possível Ronaldo fazer mais milagres. Mais vale tarde que nunca! 

 

P.S. – Santana Lopes volta ao PSD? Não volta ao PSD e funda novo partido? Para mim, a resposta é muito simples: Santana quer ser o líder da direita portuguesa, percecionando uma oportunidade única entre uma Assunção sem o carisma de Portas e um Rio que não soube unir o PSD. Santana é uma personagem brilhante, de inteligência luminosa, um criativo de ideias, um impulsionador de organizações, como se comprovou na gestão dos municípios da Figueira da Foz e Lisboa. Mas isso não chega. Para começar, tem um azar: esse lugar de líder natural da direita portuguesa tem um candidato de peso – Passos Coelho -, hoje na reserva mas amanhã quase de certeza de regresso! Acresce que Santana tem contra si a imagem pública de enfant terrible, quiçá injusta, mas ganha com múltiplas histórias que dele se contam.

 

Economista