NOS Alive, dia 2: Passagem de testemunho

Os Queens não dão maus concertos e ainda não é desta que perdem créditos

Convincentes mas não esmagadores, os Queens of the Stone Age puseram fim ao ensaio sobre o tédio dos The National. Branko e os Eels deixaram marca.

Há três palcos maiores, além do coreto, da comédia e do fado. Cada um deles, aponta numa direcção clara: rock no palco NOS, as alternativas possíveis no Sagres e dança no Clubbing.

No palco NOS, os Black Rebel Motorcycle Club passam à segunda velocidade depois de os Kaleo terem rodado a chave da ignição. Domina o rock mas também a nostalgia.

Para agregar multidões com guitarras, é preciso ser caranguejo e recuar (no tempo). "Whatever Happened To My Rock'n'roll' é a pergunta que se impõe.

A bola segue para os Eels, o combo do inefável Mr. E. O Palco Sagres está cheio de alternativos, fação Louis C.K.

Politicamente correto é tudo o que E nunca foi. Quando apresenta a banda ao público, começa por si mesmo, motivando uma gargalha generalizada.

Há humor a rodos mas estas histórias são para levar a sério. E vêm eletrificadas, como a bem envelhecida (e transfigurada) "Novocaine For The Soul". 

Os Kooks falham a chamada e vêm os Blossoms, a melhor-banda-inglesa-da-próxima-semana-a-ser-esquecida-em-três-dois-um…Adiante para o romance com os The National.

Matt Berninger desce ao público e ouvem-se gritos de histeria. Um pouco de êxtase em mais de uma hora de tédio e impasse têm o dom de espertar mas não salvam o enésimo concerto dos The National de ser isso mesmo.

Um longo bocejo, simétrico ao percurso de uma das bandas mais sobrevalorizadas da década, eficaz para os fãs mas que deve fazer questionar os próprios, agentes e promotores, se o lugar certo é o de festivais para 50 mil pessoas. Como já acontecera com os Arctic Monkeys na noite anterior.

Só os Queens of the Stone Age podem quebrar o gelo. Que no Clubbing orquestrado por Branko nunca se nota – através das câmaras ou em visitas de médico ao palco, observam-se sempre corpos em perda compulsiva de calorias.

As Rainhas sentam-se no trono mas tardam em dominar. Ouve-se a banda sonora da "Laranja Mecânica" antes de os pés caminharem sobre "Feet Don't Fail Me".

"The Way You Used To" chama pelas ancas mas motores em marcha só à quarta canção: "Smooth Sailing". E a sequência "You Think I Ain't Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire", "No One Knows", "I Sat by the Ocean", "Burn the Witch" e "My God Is The Sun" salva vidas.

Os Queens não dão maus concertos e ainda não é desta que perdem créditos. Josh Homme apela às mulheres antes de "Make It With Chu", uma falha no sistema elétrico. 

E repete o "we love you" ao longo do concerto – impensável nos tempos de mau-feitio de Nick Oliveri como co-piloto. O saldo é positivo, há quem repita o estafado discurso de "o rock está salvo". Chegou? Sim. Foi memorável? Não.

Ainda há forças? Siga para o Clubbing, onde Sango, um hipotético convidado de honra de Branko, tem uma péssima mistura para uma óptima seleção que vai da remistura de "God's Plan" de Drake a produções próprias ou da Príncipe.

Por isso, é sobre Branko que recai a responsabilidade de repôr a tenda a dançar. E a missão é cumprida com os pontos cardeais de "Atlas", como "On Top", remisturas de "Reserva Pra Dois" e "Coisas Bunitas", de Sara Tavares, e convidados: Milles From Kinshasa, Dino D'Santiago e Rincon Sapiência.

Ou como fazer de uma pista um laboratório de ideias e desafios sem perder o pé.