Augusto Santos Silva deverá ser o cabeça de lista do PS nas eleições europeias

Augusto Santos Silva, número 2 do Governo, é o mais provável candidato a número 1 do PS nas eleições para o Parlamento Europeu, em 2019. Algum do seu discurso recente pode ser lido a esta luz.

Augusto Santos Silva deverá ser o cabeça de lista do PS nas eleições europeias

Augusto Santos Silva deverá ser o cabeça de lista do PS nas eleições europeias, sabe o SOL. António Costa avançará com o nome do seu ministro dos Negócios Estrangeiros e número 2 do Governo para um teste eleitoral decisivo em 2019 para todos os partidos, já que acontece cinco meses antes das eleições legislativas. 

É neste contexto que também devem ser lidas as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros na entrevista ao Público e Renascença e que António Costa foi obrigado a desmentir. Esta semana, Augusto Santos Silva afirmou que uma nova geringonça depois das eleições de 2019 só seria possível se Bloco de Esquerda e PCP estivessem de acordo com a política externa e europeia. «Se nós caminharmos para a renovação da atual solução política, ela exigirá certamente um nível de comprometimento nessa solução que será superior àquele que se verifica neste mandato», disse Santos Silva, defendendo um acordo «que signifique um avanço no que diz respeito a políticas estruturais que o país precisa», nomeadamente «política económica e também na política externa e europeia». 

Na mesma entrevista, Augusto Santos Silva afirma a importância das europeias no plano nacional: «Será um teste interessante porque será uma área em que as posições dos partidos que apoiam o atual Governo serão muito diferentes, senão contraditórias. Mas estou seguro que procederão na campanha das europeias de forma a não enfraquecer a atual solução política». 

Avançar com o número 2 – e ideólogo – do Governo para principal protagonista da candidatura socialista às europeias é um sinal da aposta total de Costa num discurso centrista para umas eleições que vão servir como uma ‘grande sondagem’ das legislativas. E se pode ser fundamental para o PS descolar do Bloco e do PCP – como defendem alguns socialistas – haverá alguém melhor do que o protagonista-mor dessa descolagem? Na verdade, Augusto Santos Silva foi o primeiro peso-pesado socialista a defender o recentramento do partido, ainda antes do Congresso, e as alegrias da Terceira Via protagonizada por Tony Blair.

Costa obrigado a desautorizar número 2

Ao colocar uma fasquia impossível para a repetição da geringonça em 2019, Augusto Santos Silva provocou a ira dentro do PS menos centrista. Manuel Alegre foi o porta-voz do descontentamento acusando Santos Silva de «inviabilizar a continuação da geringonça e passar-lhe uma certidão de óbito», em declarações ao Expresso. 

António Costa que participava, ao lado de Augusto Santos Silva, na cimeira da NATO, sentiu-se obrigado a desautorizar o seu número 2. Numa declaração ao Público, disse: «Este é o grau de compromisso possível com a convergência que alcançámos. Ora, o que corre bem não deve ser perturbado nem interrompido». Mais: «Nem um optimista irritante como eu acredita que seja possível superar divergências que são identitárias. Mas também não considero que seja necessário». 

Também Carlos César, presidente do PS e líder parlamentar, se demarcou da linha dura de Santos Silva. Ontem, no encerramento do debate do Estado da Nação, renovou os votos de confiança na solução de Governo que preserva «a identidade e a autonomia» de cada um dos seus protagonistas. As palavras de agradecimento a Bloco e PCP que tinham faltado no Congresso foram agora ouvidas: «O Governo e o PS contaram com o apoio e o impulso dos seus parceiros parlamentares (…) para partirmos donde partimos e para chegarmos onde chegámos. Isso significa que partilhamos com eles os nossos sucessos da mesma forma que repartimos as nossas dificuldades».  César defendeu que deve ser reinventada a gerigonça, numa «convergência que nunca prejudicou e que nunca prejudicará a identidade e a autonomia de cada uma das forças políticas envolvidas nessa cooperação». 

Quem parece que está a perceber o filme é Francisco Louçã, fundador do Bloco de Esquerd, que vê nas recentes ações de Augusto Santos Silva – nomeadamente quando afirmou rejeitar «ultimatos» do Bloco de Esquerda no Orçamento – «uma estratégia pessoal». E aconselhou calma nas negociações do Orçamento aos partidos à esquerda do PS: «Os partidos de esquerda devem perceber que Santos Silva está a tentar atiçar um conflito para confirmar a sua estratégia pessoal e que a melhor forma de responder à diplomacia prussiana é mesmo trabalhar para um orçamento consistente», escreveu.   

É verdade que a estratégia pessoal a que se refere Louçã é a da defesa do Bloco Central. Mas todo o discurso de recentramento do partido que Augusto Santos Silva foi fazendo antes do Congresso do PS e depois dele foi basicamente apoiado por António Costa. Só que desta vez Costa achou que era preciso que os ataques do Governo e do PS à geringonça baixassem de tom. 

Nos bastidores do PS, também se fala na hipótese António sampaio da Nóvoa, ex-candidato a Presidente da República, para número 1 às europeias. Se é verdade que Nóvoa não iria ‘malhar na esquerda’, também é evidente que o seu peso político é reduzido.