Mas afinal o que vai acontecer à pesca da sardinha?

Ana Paula Vitorino defende não haver razão para proibir a pesca da sardinha em 2019

De acordo com a ministra do Mar, “o Conselho Internacional para a Exploração do Mar dá um parecer científico com base na informação que tem, mas o que é facto é que muitas vezes peca por excesso”. E é por isso que, segundo Ana Paula Vitorino, o governo tem estado “a fazer um trabalho aprofundado sobre a matéria”.

"A sardinha tem vindo a diminuir paulatinamente na nossa costa e para se conseguir cumprir o primeiro objetivo temos de garantir que as capturas são de modo a que continuemos a ter sardinha no futuro", sublinhou a responsável pela pasta do Mar, acrescentando que é a solução deve ser encontrada no equilíbrio entre a captura e a sustentabilidade. E relembra: “A sardinha faz parte da cultura dos portugueses e da economia".

Polémica sem fim

No final do ano passado, um parecer científico aconselhava o fim da pesca da espécie já este ano. O governo resistiu e começou, desde cedo, a dizer que se tratava de um recurso de interesse estratégico. Para os pescadores, o alerta era um insulto.

O alerta chegava da parte do Conselho Internacional para a Exploração do Mar (ICES), que considerava importante travar a captura da espécie de forma a fazer face à redução acentuada do stock na última década.

De acordo com a entidade científica consultada pela Comissão Europeia, o caminho a fazer não podia ser mais claro: “Deve haver zero capturas”. Na base da avaliação do ICES está o facto de o stock ter vindo a decrescer a um ritmo muito acelerado: de acordo com o organismo, passou de 106 mil toneladas em 2006 para 22 mil em 2016.

Até porque, para o ICES, mesmo que não existisse pesca, seriam necessários cerca de 15 anos para que o stock de sardinha chegasse a um nível considerado “acima do limite de biomassa desovante adequado”.

O alerta não foi bem recebido no setor e obrigou a Comissão Europeia a esclarecer que não foi tomada qualquer decisão em relação à pesca em Portugal e Espanha. No entanto, o parecer bastou para criar polémica e obrigou o Ministério do Mar a reagir de forma a assegurar a continuação do “empenhado em manter a pesca de sardinha em níveis que permitam a recuperação”. Até porque “a sardinha é um recurso de interesse estratégico para a pesca nacional, cuja sustentabilidade ambiental, económica e social importa garantir, atento o impacto deste recurso nas comunidades piscatórias, na indústria conserveira e comércio de pescado, nas exportações do setor, na gastronomia e no turismo”.

Insulto aos pescadores

Também a Associação das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco reagiu rapidamente e considerou o parecer do ICES “radical e um insulto a todos os pescadores portugueses que, nos últimos quatro anos, têm realizado grandes sacrifícios para assegurar a melhoria do estado do stock da sardinha em águas portuguesas”.

De acordo com o presidente desta associação, as conclusões divulgadas, em outubro do ano passado, estão “em total contradição com a perceção dos pescadores de que a abundância de sardinha nas nossas águas é muito mais significativa que a que observaram nos últimos anos”.