Venda da comporta na reta final

Sociedade gestora escolheu a proposta feita pelo empresário britânico Mark Holyoake e pela portuguesa Portugália, mas serão os acionistas a ter a palavra final no dia 27. 

Dia 27 será o dia D para saber quem será o próximo dono da Herdade da Comporta. A Gesfimo, sociedade gestora, selecionou o consórcio Oakvest/Portugália/Sabina, mas a decisão final caberá aos acionistas que, reunidos em Assembleia Geral, irão votar a proposta vencedora. Ainda assim, por exigência do Novo Banco, nessa altura serão avaliadas as três propostas apresentadas por uma questão de transparência. A par deste consórcio também em cima da mesa está a proposta da empresária Paula Amorim e do francês Claude Berda e uma terceira proposta apresentada pelo francês Louis-Albert de Broglie. 

O consórcio Oakvest/Portugália/Sabina apresentou a proposta mais alta: 36,5 milhões, ou seja, 30% mais que o valor avançado pela empresária portuguesa (28 milhões de euros), avançou o i esta semana. Ao mesmo tempo,  assume a resolução integral dos atuais problemas do fundo, assim como a assunção da responsabilidade integral da dívida existente na Caixa Geral de Depósitos (CGD) e garantias bancárias que rondam os 120 milhões de euros. Feitas as contas, totaliza quase 160 milhões de euros.

Mas o SOL sabe que esta decisão não caiu bem junto da empresária Paula Amorim e do francês Claude Berda ao revelar, numa carta enviada à sociedade gestora,  que a Gesfimo «não torna claro que os preços oferecidos não incluem os mesmos ativos. A proposta Holyoake prevê que no preço de € 36, 5 milhões de euros oferecido esteja incluída a venda da Casa da Encosta L7 (2 lotes) e os créditos detidos pelo Fundo na DCR & HDC, Lda». 

Mas as diferenças entre as duas propostas são mais significativas. Enquanto a proposta da Oakvest prevê a aquisição dos ativos da subsidiária DCR & HDC (sociedade detida pelo fundo da Comporta que desenvolve atividade imobiliária), a proposta Berda e Amorim não inclui os créditos do fundo sobre a DCR & HDC (avaliados em 8,2 milhões) nem os lotes das Casas da Encosta (avaliados em 852 mil euros).

Além disso, a correção feita nos dossiês das propostas pôs Paula Amorim e Claude Berda num plano de desvantagem, já que o valor global da sua proposta ficará cerca de 8 milhões de euros aquém da oferta concorrente de Mark Holyoake e da Portugália. Para trás fica também a proposta apresentada pelo francês Louis-Albert de Broglie, que oferece uma contrapartida única de 115 milhões de euros, ou seja, um montante insuficiente para liquidar a dívida à Caixa.

Numa apresentação enviada aos participantes no fundo da Comporta, o consórcio argumenta que «ao contrário do que é sugerido pelo fundo, quando corretamente comparada, a proposta apresentada pelo consórcio é a que aporta mais valor». Além disso, afirma que esta é a proposta que «melhor defende os interesses não só dos participantes do fundo (…) como dos credores e da própria região de Alcácer do Sal e Grândola, dado que dispõe dos meios económicos e financeiros e know-how para ali desenvolver um resort único em Portugal».

Raio-X

A Herdade da Comporta – composta por mais de 12 500 hectares entre Alcácer do Sal e Grândola – era o retiro da família Espírito Santo, que a tinha comprado em 1987, e foi colocada à venda quando o Grupo Espírito Santo (GES) faliu. A venda deste ativo é uma das formas de obtenção de receitas pelos curadores de insolvência, de forma a conseguirem arrecadar algum valor para os seus credores. É o caso, por exemplo, da Pharol e do BES ‘mau’.

A verdade é que o processo de venda da herdade tem sofrido vários avanços e recuos. A sua alienação recomeçou em setembro. Depois de uma tentativa falhada, os tribunais acabaram por autorizar o processo de venda, contornando assim a razão que anteriormente travou a operação: o arresto dos bens da família.

O empresário Pedro Almeida fez uma oferta, no verão passado, que não foi concluída porque o Ministério Público não levantou o arresto da Herdade da Comporta – à época, a avaliação era de 420 milhões de euros –, rejeitando a venda da propriedade por considerar que o processo não reunia condições de «isenção, transparência e objetividade». 

Na altura, o empresário pretendia transformar a Comporta num «resort exclusivo e altamente atrativo para o mercado internacional». O objetivo do empresário passava por comprar também a Herdade da Comporta — Atividades Agrossilvícolas e Turísticas, a empresa que gere os arrozais da zona.