Em defesa dos telhados de Lisboa

Lisboa é a cidade do Tejo, das colinas, da calçada, mas também dos telhados. Os telhados de Lisboa são também parte da sua fisionomia e da sua identidade. Subindo as colinas de Lisboa avista-se o rio, o casario da cidade e os seus telhados vermelhos que dão cor à cidade. A luz de Lisboa, tão…

Lisboa é a cidade do Tejo, das colinas, da calçada, mas também dos telhados. Os telhados de Lisboa são também parte da sua fisionomia e da sua identidade.

Subindo as colinas de Lisboa avista-se o rio, o casario da cidade e os seus telhados vermelhos que dão cor à cidade. A luz de Lisboa, tão referida e valorizada como característica impar da cidade, seria igual à de tantas outras cidades iluminadas pelo mesmo Sol se não fosse o rio, a calçada e também os telhados a refleti-la de forma única.

Os telhados de Lisboa, cantados no fado ou pintados por Maluda, são parte da identidade da cidade que importa preservar.

A vista sobre Lisboa está na moda. Os terraços e ‘rooftop’ que vão sendo criados na cidade aumentam os pontos de vista sobre Lisboa, assistindo-se a uma aparente contradição entre a criação de terraços no cimo dos edifícios que substituem telhados e a importância dos mesmos na valorização da vista da cidade.

A promoção da vista panorâmica sobre a cidade pode e deve ser incentivada como fator de valorização da cidade. Mas importa não descaracterizar a Lisboa eliminando um dos fatores que enriquecem a vista da cidade.

Deve haver margem para responder à procura de espaços para usufruir das vistas de Lisboa. Mas a prioridade deve de ser a de garantir que Lisboa salvaguarde a sua identidade através das suas características.

O Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina é um bom exemplo do cuidado em relação à manutenção dos telhados cuja preservação está minuciosamente prevista. Porque não estender a toda a cidade a salvaguarda dos telhados característicos de Lisboa?

Os telhados devem ser a regra em Lisboa. E não colhe o argumento das soluções de materiais mais modernos e alegadamente mais eficientes no isolamento térmico ou na impermeabilização. Os telhados tradicionais apresentam hoje características de igual eficácia. Os terraços devem ser a exceção e apenas na condição de proporcionarem utilização que permita tirar proveito da vista sobre a cidade.

Havendo vontade política, deverão ser impostas regras para a reabilitação ou para a construção que respeitem a preservação e promoção dos telhados de Lisboa enquanto fator de identidade da cidade.

E para quem esteja menos atento ou tenha dúvidas, que observe Lisboa a partir dos miradouros da cidade ou dos terraços e ‘rooftop’ tão em voga e observe a diferença de uma paisagem em que os telhados dominam e outras (cada vez mais frequentes) em que os terraços preenchidos com aparelhos de ar condicionado ou alguns telhados cinzentos predominam. Numa veremos a cor, a luz e a identidade de Lisboa. Noutra observa-se a descaracterização da cidade.

Lisboa está a mudar, a modernizar-se e a adaptar-se. A cidade pode seguir o caminho da uniformização e indiferenciação, oferecendo características e uma imagem idênticas a outras cidades, ou então afirmar a sua personalidade através da preservação das suas características.

As colinas e o Tejo dificilmente poderão ser eliminados. Mas a cor e a luz de Lisboa dependem também da cidade que se construir e reabilitar. Os telhados de Lisboa são parte da identidade da cidade que deve ser preservada e promovida.