Calções de lycra

Há uma piada que avisa: «Depois dos cinquenta, o ridículo não é andar de bicicleta, é usar calções de lycra». A frase pode ferir, mas não deixa de ser verdade.  A sensibilidade do tema justifica que a crónica seja antecedida de uma respeitosa explicação aos zeladores do falar ‘correto’, com desculpas antecipadas se, acaso, ferir…

Há uma piada que avisa: «Depois dos cinquenta, o ridículo não é andar de bicicleta, é usar calções de lycra». A frase pode ferir, mas não deixa de ser verdade. 

A sensibilidade do tema justifica que a crónica seja antecedida de uma respeitosa explicação aos zeladores do falar ‘correto’, com desculpas antecipadas se, acaso, ferir a sua fina sensibilidade. É que, apesar do que ‘ensinam’ as televisões, ainda não me habituei a chamar inverdades às mentiras, nem invisuais aos cegos, e outras pérolas do género. E ninguém conseguirá fazer-me dizer ‘portuguesas e portugueses’. Manias de quem fez a instrução primária na primeira metade do século passado.    

Porquê a prevenção? Porque abordo uma realidade que tem tanto de simples como de crua: o envelhecimento. Ninguém o deseja, mas ninguém consegue fugir às consequências da passagem dos anos.

A seriedade da questão não está na perda do vigor físico e da agilidade mental, que ocorre de forma inelutável para todos, mas nas alterações demográficas que fazem rarear os jovens na nossa terra. Ainda agora, fazendo notícia de um Verão triste – com ajustada correlação com as alterações climáticas – e da consequente baixa frequência das praias algarvias, um dos canais mostrou imagens com um efeito perturbador: todas as pessoas ouvidas tinham bem mais de 60 anos. E não terá sido escolha da repórter. Simplesmente, em nenhum dos planos mostrados se conseguia vislumbrar algum banhista mais novo.

Em mim, as imagens têm um impacto porventura semelhante ao provocado nos EUA pela publicação do livro Silent Spring, de Rachel Carson, justamente reconhecido como um dos marcos para o lançamento dos movimentos ambientalistas (*). 

De regresso à casa onde tinha nascido, a autora surpreendeu-se por não ouvir o canto dos pássaros que recordava da infância. Procurou indagar a razão e descobriu que os inseticidas usados para eliminar os parasitas dos campos de milho estavam, também, a matar a natureza. 

Coisas sérias à parte, segue a observação socialmente incorreta: as senhoras que vi na televisão seriam, provavelmente, as mesmas que falavam para as câmaras há uns 30 anos… só que insistem em usar biquíni. Não devem… Para a coisa ficar equilibrada, suspeito que os cavalheiros serão também os mesmos… só que estão ‘grávidos’. O bom senso recomenda que cada um se aceite como é. Porém, há quem prefira parecer o que há muito deixou de ser. Feitios…

(*) O livro foi publicado em 1962, nos EUA. Menos de um ano depois, já um notável pedagogo, Dragomir Knapic, professor de Geografia Económica no Instituto Comercial de Lisboa, dedicava uma aula inteira a exemplificar os malefícios da exploração intensiva, na agricultura e na indústria, e a alertar para a necessidade de proteção do meio ambiente. E dois exemplares do livro ficaram na sala até ao fim do ano, à disposição dos interessados. Tempos em que os professores tinham como prioridade a formação dos alunos, em todas as áreas do conhecimento e da consciência cívica.