Dennis Hof. Do bordel para a política com inspiração em Trump

Dennis Hof é o dono de seis bordéis – um deles o famoso ‘Rancho das Coelhinhas’ – no Nevada, o único estado dos EUA onde a prostituição é legalizada. Este tema é um dos quais vai defender na sua campanha (que tem apoiantes e também detratores) para a assembleia estadual do Nevada.  

É um conhecido dono de bordeis do Nevada, onde a prostituição é parcialmente autorizada, e venceu as eleições primárias pelo Partido Republicano para assembleia daquele estado da costa oeste dos EUA.

Dennis Hof, que gosta de se comparar com o presidente norte-americano Donald Trump, derrotou o deputado regional James Oscarson no condado de Nye, um distrito rural conservador, prometendo menos impostos e defendendo o direito ao porte de armas.

Hof, de 71 anos, lutará em novembro com a democrata Lesia Romanov por uma cadeira na assembleia do estado. Romanov centrou sua campanha em uma melhor educação, gestão dos fundos públicos e defesa dos recursos naturais.

Hof – um antigo funcionário dos correios que, além de sete bordéis, tem postos de gasolina e restaurantes – foi a estrela do reality show da HBO Cathouse (traduzido em Portugal como ‘O Rancho das Coelhinhas’), que acompanhava a vida de várias prostitutas.

O título do seu livro de memórias, The Art of Pimp, é uma referência ao livro de Trump The Art of Deal e o seu lema de campanha é «O Trump de Pahrump», localidade de 36 mil habitantes do distrito onde Hof é favorito a vencer as eleições de novembro.  

Nevada é o único estado americano onde a prostituição é parcialmente legal, autorizada em certas áreas rurais. A legalização desta profissão é, aliás, uma das políticas defendidas por Hof.

Uma palestra em Oxford 

Há poucos anos o empresário esteve na Universidade de Oxford, em Inglaterra, onde defendeu exatamente a legalização da prostituição: «Temos de legalizar a prostituição para a tirarmos das mãos dos criminosos». Segundo Hof, num sistema legal, é obrigatório «um rastreio e se houver qualquer ilicitude» a licença para exercer esta atividade é perdida. 

Hof apresenta até argumentos relativos à saúde pública: «Se uma rapariga vier trabalhar para nós tem de passar por todos os testes de saúde e depois obter uma licença para exercer a profissão». Ou seja, explica, a «polícia pode verificar se tem idade legal e condições mentais para exercer a profissão» e aí «passa a ser uma oportunidade de emprego».  

«Não gosto da exploração», afirma, acrescentando que detesta o que acontece às prostitutas: «são mortas, exploradas». Na sua opinião, é incorreto que as «máfias, que controlam um negócio que vale milhares de milhões de euros», não deem «um cêntimo desse negócio à sociedade». Se forem «legalizadas as prostitutas pagam impostos», acrescenta Hof. 

A «proibição não funciona», sentencia, pelo que “está na altura de lidar com este problema”.  

O candidato republicano dá como exemplo o «Bunny Runch [nome do seu bordel], que tem 57 anos e é a prova de que a legalização funciona». Daí que o estabelecimento esteja a considerar «aceitar pagamentos através de bitcoins». 
Hof, que além do Bunny Ranch tem mais seis bordéis no Nevada, diz que «está a considerar aceitar bitcoins devido às solicitações de seus clientes», entre eles, diz, alguns dos homens mais ricos do mundo.

Segundo Dennis Hof a natureza anónima desta moeda adequa-se aos clientes que têm muito a perder caso seus negócios sejam expostos às pessoas erradas. Para além disso, salienta, os clientes trazem muitas vezes malas de dinheiro para pagar pelos serviços nos seus estabelecimentos, o que é uma forma de pagamento que acarreta inúmeros riscos. 

Ainda assim o Bunny Ranch não será o primeiro negócio do ramo da prostituição a aceitar pagamento em criptomoedas. O Dr. Nights – um ‘resort adulto’ na República Dominicana – aceita o pagamento em criptomoedas, incluindo Bitcoin, Dash, Litecoin e Ethereum. 

Na República Dominicana a prostituição é legal e todas as mulheres são sujeitas a um check-up e submetidas a exames regulares de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Toda esta informação é armazenada numa base de dados da polícia local.

A legalização da prostituição está também na campanha do Nevada e defensores e opositores colocam o seu peso político no apoio ou oposição a Dennis Hof, que se apresenta como o proxeneta mais conhecido da América e cuja ascensão política reflete a mudanças nos padrões eleitorais do partido republicano na era do presidente Donald Trump. 

«Este é o verdadeiro movimento Trump», diz Dennis Hof. «As pessoas colocam de lado, por algum tempo, as suas convicções morais, crenças religiosas, para eleger alguém que seja honesto», afirma, adiantando: «Trump é o pioneiro, é o Cristóvão Colombo da política honesta». 

Esta honestidade de que fala é uma das razões que tem levado a que Hof tenha apoio inclusivamente dos evangélicos, um grupo em ascensão e com cada vez maior influência na política norte-americana. 

Quando perguntado porque é que um evangélico pode apoiar um proxeneta, um pastor afirmou que a resposta é simples: «Temos políticos que podem dizer palavras bonitas, que não dormem com prostitutas, que são bons vizinhos, mas nas suas decisões têm maldade no coração. Dennis Hof não é assim».

Alguns evangélicos do seu distrito que o apoiam dizem que Hof, tal como Trump, é um homem de negócios rico e um estranho à política, e por isso vai limpar a política e não ficar refém de grupos de interesse e do dinheiro destes. Para além disso afirmam que Hof vai proteger os direitos religiosos. E a origem da sua fortuna – os bordéis – não dissuade os seus apoiantes. 

Mas ao mesmo tempo a defesa da legalização da prostituição também leva a que Hof perca apoio. Uma coligação de grupos religiosos e ativistas contra o tráfico sexual está a promover um referendo para acabar com a legalização de bordéis no Nevada.

Os membros da campanha dizem que muitas mulheres não se prostituem por escolha mas por pobreza ou outras situações. Dennis Hof já se pronunciou sobre o tema e afirma que o referendo, agendado para novembro, está a ser liderado por defensores da moral unidos aos seus opositores políticos na corrida para a assembleia estadual. 

«É horrível que haja pessoas que queiram impor os seus valores morais sobre as outras», diz Hof. «Sou meio rico, meio famoso, e estou rodeado de mulheres sexy. Não me importo o que digam sobre mim», garante.