Zimbabué. Mugabe vira costas ao seu partido e vota na oposição

O antigo chefe de Estado diz que não pode votar em quem o “colocou nesta posição”

Remeteu-se ao silêncio desde que foi destituído do cargo de presidente do Zimbabué mas, em vésperas de eleições no país, Robert Mugabe, presidente deposto num golpe de Estado em novembro, decidiu vir a terreiro para dizer que não votará no seu partido, o Zanu-PF, ou no seu sucessor, Emmerson Mnangagwa, de 40 anos. 

“Não posso votar no partido ou naqueles que estão no poder e que me colocaram nesta posição. Não posso votar neles. Não posso”, disse Mugabe em conferência de imprensa na sua casa, em Harare. E se a sua recusa não bastasse para dar origem a um reboliço político, o ex-presidente disse ainda que irá votar no Movimento pela Mudança Democrática, principal partido da oposição, e no seu candidato, Nelson Chamisa, de 25 anos. “Ele [Chamisa] parece estar-se a sair muito bem nos seus comícios. Desejo conhecê-lo se ganhar. Independentemente de quem ganhe, desejo-lhe sorte e que aceitemos o resultado”, admitiu. O impato das suas declarações no comportamento dos eleitores é imprevisível. 

Mugabe, que governou o país com mão de ferro durante 37 anos, nunca aceitou o seu afastamento do poder através de um golpe de Estado e continua a afirmar que o atual governo é “inconstitucional e ilegal”. O ex-chefe de Estado considera que tinha legimitidade eleitoral por, ao longo das décadas, ter realizado eleições de cinco em cinco anos, ganhando-as sempre com vasta maioria absoluta. No entanto, os atos eleitorais por si convocados foram sempre alvo de acusações de repressão da oposição e fraude eleitoral. 

“Com quem estavam a combater aqueles tanques que avançaram por todo o país? Quem era o inimigo? Estávamos a lutar por nós próprios. O exército virou-se contra o povo contra o qual lutaram. Digo que é errado”, criticou Mugabe. 

Espera-se que os 38 milhões de zimbabuanos se dirigiram às urnas para votarem no que se espera serem as primeiras eleições legislativas, presidenciais e locais verdadeiramente democráticas das quase últimas quatro décadas. Ainda que as eleições presidenciais contem com 28 candidatos presidenciais, espera-se que a disputa seja essencialmente entre Mnangagwa e Chamisa. O governo resultante do golpe de Estado está a ser internacionalmente pressionado para abandonar as anteriores práticas de vício eleitoral de Mugabe. E a forma como as eleições – e os resultados – decorrerem influenciará o futuro do país.