Rui rio longe de sarar feridas internas no PSD

Miguel Relvas, antigo homem-forte de Passos, diz ao SOL que existe ‘um erro do posicionamento estratégico do PSD’. No partido já se fala em congresso após a votação do orçamento.

Rui rio longe de sarar feridas internas no PSD

O PSD está mais longe de sarar feridas internas, apesar de Rui Rio  ter cinco meses de liderança. A entrevista que deu à TVI acabou por ampliar as diferenças de visão e estratégia com o seu potencial adversário, Luís Montenegro, antigo presidente do grupo parlamentar. Fontes partidárias ouvidas pelo SOL admitem que o presidente social-democrata seja avaliado no Natal, depois da votação do orçamento de 2019. 

«Se António Costa brilhar – o orçamento for aprovado – e o PSD ficar sem mensagem», confidenciou ao SOL um militante com responsabilidades internas, cansado de ver o «sentimento depressivo» de alguns colegas de partido. Assim, cresce a ideia de que no Natal, depois da votação do Orçamento do Estado para 2019, possa haver a tentação para se convocar um congresso extraordinário. Tudo depende das sondagens, mas também do posicionamento das distritais do partido. Resta saber se chega para que alguns críticos da direção possam  tentar mudar a liderança, antes do partido se preparar para as Europeias e as Legislativas. Neste ponto, Luís Montenegro já fez saber que não será por ele que Rio não termina o mandato.  E disse-o na entrevista à SIC: «Não me parece que possa haver congresso extraordinário antes das Legislativas, nem acho que deva haver uma mudança de líder do PSD». Oficialmente,  Luís Montenegro quis «espicaçar» Rui Rio a mudar de estratégia, e disse-o duas vezes na entrevista, exortando o líder a abandonar a «ideia de derrotismo no PSD». Mas o discurso deixou lastro e começam a surgir vozes, sob anonimato, a reconhecer, por exemplo que  existe um problema «de perceção da agenda». E fazem-se comparações: Luís Montenegro, antigo líder parlamentar, surgiu com três propostas na entrevista à SIC: descida do IRC de 21 para 19 por cento, aproveitar a proposta de Miguel Cadilhe de baixar o IRC para os 12,5% no interior e a aposta no debate sobre a economia digital. Já o antigo autarca do Porto preferiu desafiar António Costa a viabilizar um Governo PSD/CDS se o orçamento não for aprovado e atacou o condicionamento do PS à esquerda, com o BE e o PCP.   Algumas fontes parlamentares, ouvidas pelo SOL, preferiam  ter ouvido Rui Rio a atacar mais o PS.

O líder do PSD  avisou o partido de que primeiro estará sempre Portugal e só depois o PSD. Uma estratégia  pensada para fora em  nome da captação de votos ao centro e na abstenção. O rumo trilhado por Rio tem custos e riscos associados à imagem de aproximação ao PS de António Costa.

Mas Rui Rio justifica a opção. «A minha convicção é que o meu espaço ideológico e onde me situo bem é na social-democracia que se situa no centro do espetro político», afirmou na quinta-feira.

Miguel Relvas, antigo homem-forte de Passos Coelho e apoiante de Santana Lopes nas últimas eleições diretas, é arrasador com a atual linha do PSD: «Infelizmente, o tempo está-me a dar razão. Decorre de um erro do posicionamento estratégico do PSD», afirma ao SOL. E reitera o que já escreveu  num artigo de opinião no Expresso, designadamente que « a liderança social-democrata não tem uma agenda para o país. A partir do minuto em que se predispôs a a aliar-se ao PS, perdeu de forma imediata e inexorável o seu espaço de atuação, anulou a margem de se constituir como alternativa».

Distritais na expectativa

Com apenas cinco meses de liderança será difícil encontrar críticas nas distritais do PSD. O discurso é de expectativa e justificativo da estratégia do líder. A norte, o presidente da distrital de Braga, José Manuel Fernandes, prefere atacar a solução de esquerda governativa. «Cada dia que passa percebe-se que há um esgotamento. Aquilo é mais uma desengonça». Mas depois reconhece que é preciso tempo para passar melhor a mensagem e agenda do PSD. «Admito que as pessoas não tenham essa perceção. E não é um exclusivo do líder. É um trabalho de todos. E quando digo que é preciso paciência, quer dizer que é evidente, a cada dia, a ausência de trabalho do PS. E a ausência de trabalho  [ do PS ] demora tempo a ser percecionado», explica ao SOL José Manuel Fernandes. 

O recém-eleito presidente da distrital do Porto, Alberto Machado, faz suas as palavras do líder Rui Rio na entrevista à TVI. «Não é uma corrida de 100 metros», assegura, repisando a ideia do presidente social-democrata  sobre a tendência das sondagens.   «Tenho de fazer uma corrida, mas não é um sprint» defendeu Rio logo na terça-feira.

Próximo do líder ‘laranja’, Alberto Machado lidera uma das maiores distritais do PSD e assegura que «há uma grande vontade em contribuir para que o PSD unido seja cada vez um partido de confiança e credibilidade aos olhos dos eleitores».  Carlos Peixoto, da Guarda, acrescenta que « a ideia cada vez mas instalada é que a  de que o seu ritmo   [de Rui Rio e do PSD] está a impor-se cada vez mais». São discursos de distritais que estão ao lado de Rui Rio, tal como Manuela Ferreira Leite, antiga líder e sua apoiante. À TVI24,  a ex-dirigente considerou que  Rio fez bem em reposicionar o PSD porque «a política só tem sentido útil se não se estiver a pensar numa estratégia de captar votos». Resta saber se será suficiente para cumprir o mandato e renová-lo depois de 2019.

Europeias sem pressão

As diferenças entre Luís Montenegro e Rui Rio residem na estratégia, na forma como se lida com o PS de António Costa- sobretudo porque não ganhou as eleições – e na escolha das palavras sobre o Orçamento de 2019. Para Montenegro, Rio já devia ter sido mais claro, sabendo, no entanto, que o PSD irá votar contra o documento socialista. Ora, só existe um ponto em que  ambos estão de acordo. O resultado das Europeias não deverá obrigar à saída de um líder. O antigo presidente da bancada do PSD lembrou, na SIC, o caso de 2009, em que Manuela Ferreira Leite ganhou as Europeias, graças ao cabeça de lista Paulo Rangel, e perdeu, frente a José Sócrates, para o PS. 

 A relação entre PSD e CDS mudou e os centristas apressaram-se a lançar com um ano de antecedência o candidato, neste caso o recandidato, Nuno Melo. O objetivo é o de garantir a eleição tanto do eurodeputado como de Pedro Mota Soares. A campanha  começou esta quinta-feira com uma viagem de comboio entre Cascais e Lisboa para demonstrar a falta de investimento do Governo socialista. E as eleições serão em maio de 2019.  A esta distância,  o PSD ainda não abriu o dossiê, apesar de Paulo Rangel poder manter-se à frente da lista. Esta é a convicção de vários parlamentares ouvidos pelo SOL.  Já os centristas não quiserem, apenas, antecipar-se ao PSD nas Europeias. Assunção Cristas, líder do CDS, revelou esta semana, na TSF,  que o partido admite apoiar o PSD numa solução futura, sem ir para o Governo. Os democratas-cristãos desconfiam dos « ziguezagues» de Rio.