Um estúpido é mais perigoso que um bandido

O título pertence a Carlo M. Cipolla (As Leis Fundamentais da Estupidez Humana) e vem a propósito da incompetência de quem governou a Europa nos anos do subprime. Invoca-se, como atenuante, o facto de se tratar da primeira crise global, mas nada justifica a cegueira de políticos, reguladores, académicos e comentaristas, cúmplices de uma devastação…

O título pertence a Carlo M. Cipolla (As Leis Fundamentais da Estupidez Humana) e vem a propósito da incompetência de quem governou a Europa nos anos do subprime. Invoca-se, como atenuante, o facto de se tratar da primeira crise global, mas nada justifica a cegueira de políticos, reguladores, académicos e comentaristas, cúmplices de uma devastação só explicada pela ignorância de uns e pela demagogia de outros: diagnóstico errado, terapêutica falhada, doença agravada!   

O medo apossou-se de quem tinha construído prestígio à custa de efeitos pirotécnicos nos anos da abundância, em que só não cresceram os absolutamente inaptos. 

Anúncios de quatro páginas para exibir lucros recorde tinham um objetivo preciso: promover gestores vaidosos. Eram os maiores! 

Depois, veio a crise, a batota ficou a descoberto e os ilusionistas sumiram. Sobrou o artista-mor, hoje remetido a uma prudente discrição.

Com a derrocada, veio o discurso da moral e da ética, que sempre triunfa nos momentos de viragem política e económica. 

Começou no FED, no FMI e nos bancos de investimento americanos, que tinham vendido lixo com rótulo de produtos de alto rendimento, e alastrou à Zona Euro. As lições de moral vieram dos bancos centrais, que estiveram a dormir quando deviam ter estado vigilantes, e as purgas ficaram para os que estão no mercado a enfrentar os clientes. 

Nada de inédito. Na Idade Média, quando vinha a peste, os primeiros a arder na fogueira eram as bruxas e os feiticeiros, logo seguidos dos agiotas e banqueiros. Na Islândia, os responsáveis pelas políticas públicas não foram poupados, mas foi a exceção, nos países do euro a ‘regeneração’ poupou os políticos e os supervisores, que tinham incentivado o endividamento público e privado.

Em Portugal, a troika decretou a desalavancagem do crédito. Governantes, Banco de Portugal, académicos e comentaristas papagueavam a ladainha: «Andámos a viver acima das nossas possibilidades», repetindo a cobardia do PREC, quando a ‘pesada herança fascista foi o álibi que justificou a destruição da indústria e das empresas lucrativas. 

Associações patronais e sindicais não estão isentas de culpas: deveriam ter denunciado o crime. O corte cego do crédito atirava para a falência empresas viáveis, com perda de negócios, quebra no PIB e explosão do desemprego.

Perante uma imposição estúpida, o dever dos dirigentes – públicos ou privados – é resistir e denunciar, e não agravar a estupidez. 

Em 1976, o FMI também nos visitou, mas o Governo não se vergou e avançou com os Contratos de Viabilização, que salvaram as empresas que se debatiam com dificuldades conjunturais. Em 2011, os bancos venderam os créditos e contabilizaram prejuízos. Uma bênção para os Fundos que compraram imóveis ao desbarato e estão a acumular os lucros que a inépcia deitou pela borda fora. 

A crise atingiu as economias ibéricas da mesma forma – mas, seis anos passados, os bancos espanhóis estão mais fortes… e compraram os portugueses. É no que dá assinar de cruz.