Exportações reforçam lucros na indústria do papel

As atenções têm estado viradas para aquelas que são as verdadeiras estrelas da bolsa nacional. As empresas desta indústria têm conseguido resultados históricos 

Muito se tem falado nos últimos dias de exportações e importações, principalmente porque, apesar do desempenho das exportações, a tendência de serem as importações a levar a melhor persiste. Nos primeiros três meses deste ano, as compras ao exterior cresceram mais do dobro das exportações. Falamos de um período em que o défice da balança comercial de bens sofreu um agravamento para 1 207 milhões de euros. E o que veio a seguir não foi melhor. De acordo com os dados do Banco de Portugal, divulgados este mês, o saldo conjunto das balanças corrente e de capital degradou-se até maio. Em comparação com o mesmo período de 2017, a diferença é de 359 milhões de euros. Em maio do ano passado, o défice externo era de 952 milhões. Este ano é de 1 311 milhões. Mas que bens é que estão a ser mais exportados?

Não há como negar que os automóveis para transporte de passageiros estão no topo da lista, ainda que o resultado seja justificado pela produção dos T-Roc da Autoeuropa. Estamos a falar de uma categoria de bens que quase duplicou no trimestre terminado em abril, passando de 465 milhões de euros para 899 milhões. Mas existe um outro bem que tem vindo a ganhar protagonismo. No final do ano passado, a indústria do papel e a indústria gráfica e transformadora do papel quiseram reforçar a aposta nas vendas ao exterior para recuperar dos anos de crise. A Associação Portuguesa de Indústrias Gráficas e Transformadoras do Papel (Agrif) admitiu mesmo que era necessário procurar «novos mercados, porque obrigatoriamente o crescimento assenta na exportação». E destacou o peso das vendas para «zonas geográficas de proximidade, como Espanha e França», e a «relação muito interessante com os países de expressão portuguesa em África».

Recorde-se, aliás, que, de acordo com dados divulgados este ano, em 2016 um quinto das exportações portuguesas tinham origem em apenas três concelhos. Lisboa foi o concelho do país com maior volume de exportações (11,8% do total). Em segundo aparecia Palmela (4,6%), à boleia do já conhecido efeito Autoeuropa, e a fechar o pódio vinha Vila Nova de Famalicão (4,1%). Destacavam-se ainda os concelhos da Maia (3%) e Vila Velha de Ródão (2,9%), este último devido ao forte peso das indústrias de celulose e pasta de papel. Aliás, Vila Velha de Ródão apresentava-se como o concelho com maior excedente comercial, acima dos 1,3 mil milhões de euros, impulsionado pelas exportações de celulose e pasta de papel.

A verdade é que, nos últimos anos, se tem falado do diagnóstico feito em 2014: é preciso exportar mais, inovar, aproximar a indústria gráfica à do papel, e ajustar o negócio às necessidades dos clientes.

E a verdade é que as contas da indústria do papel também recuperaram e têm dado motivos para sorrir. Foram, aliás, das empresas que mais conseguiram aumentar os lucros este ano. No primeiro trimestre, só a Navigator viu os lucros subirem 50%. Agora, os resultados comunicados à Comissão de Mercados de Valores Mobiliários (CMVM) mostram que a evolução continuou a ser positiva. Nos primeiros seis meses do ano, o resultado líquido da empresa atingiu os 119,4 milhões de euros, o que representa um crescimento de 24%.

Os resultados vêm, aliás, reforçar que falar das cotadas do setor da pasta de papel é falar das estrelas da bolsa nacional. Foram mesmo atingidos máximos históricos. Desde o início do ano, a sua valorização rendeu 1,5 mil milhões de euros ao PSI 20.

No geral, pode dizer-se que as empresas da bolsa portuguesa arrancaram 2018 com o pé no acelerador quando o assunto é lucrar. Nos primeiros três meses do ano, ganharam ao todo 765 milhões de euros. Foram mais 130 milhões, ou seja, mais 20%, do que no mesmo período do ano anterior. A justificar a recuperação e os bons resultados está, sobretudo, a retoma da economia e a subida dos preços das matérias-primas.

De acordo com a análise da Patris Investimentos, o destaque tem de ser dado às empresas da indústria do papel. A Semapa viu os resultados duplicarem. A Navigator aumentou os lucros em quase 50%, para os 53 milhões.

Na apresentação de contas referentes ao primeiro semestre de 2018, também a Altri surpreendeu. Os lucros da empresa subiram 77%, para 73,8 milhões de euros. Só no segundo trimestre deste ano, os lucros aumentaram 68,5%, para 41,2 milhões.

«A Altri reforçou o seu perfil exportador ao colocar nos mercados externos 246,9 mil toneladas de pasta» no segundo trimestre, e «o volume de exportações atingiu 158,5 milhões de euros, representando um acréscimo de 2% face ao período homólogo de 2017», refere a empresa. No semestre, o volume de exportações ascendeu a 289,5 milhões de euros. Também a Semapa viu os lucros subirem 36%.

Ainda assim, é necessário nesta equação ter em conta a quantidade de papel que se compra ao exterior. Em 2016, as importações neste setor chegaram a mais de 990 milhões de euros e muitos começaram a admitir que a tendência fosse para continuar a importar cada vez mais matéria-prima. Um dos países que mais vendeu aos empresários portugueses foi a Espanha, mas outros foram ganhando terreno, nomeadamente, a China.