A vergonha das obras à vontade do freguês

Há uns bons alguém me contava que no país onde trabalhava – creio que o fazia na Alemanha – nenhum organismo ou empresa podia fazer obras na rua sem consultar todas as outras entidades com interesse na referida artéria. Dando exemplos práticos: se a eletricidade lá do sítio quisesse abrir buracos para reparar ou fazer…

Há uns bons alguém me contava que no país onde trabalhava – creio que o fazia na Alemanha – nenhum organismo ou empresa podia fazer obras na rua sem consultar todas as outras entidades com interesse na referida artéria. Dando exemplos práticos: se a eletricidade lá do sítio quisesse abrir buracos para reparar ou fazer a mudança de cabos, teria de saber se o serviço das águas ou das telecomunicações não estavam a pensar fazer o mesmo nos próximos tempos, conseguindo dessa forma menos transtornos para os habitantes. 

Em Portugal, como sabemos, isso é uma miragem. Além de as obras em lugares de veraneio só serem feitas quase em cima do início do Verão – ainda há um mês um dos lugares turísticos mais caros e que atrai milionários do mundo inteiro, a Quinta do Lago, estava com um dos seus principais acessos cortados – como se o nosso país tivesse invernos rigorosos, também os organismos públicos parecem ignorar-se, por completo, uns aos outros. Vejamos: a linha do Metro irá transformar parte de Lisboa num enorme estaleiro, obrigando mesmo a um desvio da Linha de comboios da CP na zona do Cais do Sodré.

Não falando das queixas, mais do que justas, do presidente da Câmara de Cascais, que diz estar a perder-se uma oportunidade única para revitalizar a decrépita linha de comboios de Cascais, o que dizer do estudo de impacto ambiental que foi feito para a expansão do Metro não referir em momento algum as obras do Plano de Drenagem que implicarão a construção de dois túneis que terão como função escoar a água em excesso provocada pelas chuvadas? Essas obras, que terão uma duração de quatro anos – à semelhança das do alargamento do Metro – e deverão começar este ano, irão afetar, e muito, as zonas de Campolide, Avenida da Liberdade, Santa Marta, Avenida Almirante Reis, Santa Apolónia, Chelas e Beato. Dizem os estudos desta empreitada que não haverá grandes transtornos porque os dois túneis estarão a uma profundidade de 70 metros, o de Monsanto-Santa Apolónia, e de 50 metros o de Chelas-Beato. Se há quem seja otimista, há também quem diga que não vai ser assim, já que as obras do alargamento da linha do Metro transformarão as zonas da 24 de Julho, Cais do Sodré, Álvares Cabral, Rua do Quelhas e Campo Grande numa enorme confusão para os automobilistas e moradores.

Digamos que a cidade vai ficar, outra vez, um inferno e ninguém parece preocupar-se com isso. Como é possível depois de anos de confusão generalizada com a feitura de canteiros e vias pedonais para turista ver, embora haja quem goste e muito, Lisboa vá outra vez ficar de pernas para o ar sem que os responsáveis das duas empreitadas – necessárias e úteis – tenham feito um anúncio em conjunto, revelando a estratégia para minimizar os incómodos para todos aqueles que usam as ruas da capital? E será que depois disso ainda haverá mais ruas esburacadas por causa das águas, eletricidade e telecomunicações, já para não falar nos esgotos?

Será que é assim tão difícil explicar a todos o que se vai passar e qual a razão para as obras andarem ao sabor do vento, leia-se dinheiro que vem da Comunidade Europeia? Esta falta de estratégia significa, além dos transtornos para os habitantes e turistas, milhões de euros de prejuízo provocados pelos atrasos nas pessoas chegarem aos seus empregos, aos seus negócios ou ao seu lazer.

Quando é que Portugal será um país do primeiro mundo?

vitor.rainho@sol.pt