Caos nos voos e prejuízos pressionam governo

Operação está no limite e a falta de opções tem causado muitos transtornos, principalmente para quem quer fazer ligações. Solução mais otimista só para 2020, com ou sem Montijo.

A capacidade do aeroporto de Lisboa e a perspetiva de ter uma outra solução no Montijo continuam a ser temas que marcam a agenda da aviação civil em Portugal. Com o número de passageiros a aumentar, levantam-se vozes com novas exigências e torna-se imperativo para muitos arranjar soluções. A discussão em torno do que será o futuro e dos prejuízos que a falta de capacidade do aeroporto de Lisboa pode ter no turismo levaram o Governo a admitir que o aeroporto da capital terá, em 2020, capacidade para 48 movimentos por hora – ou seja, mais dez do que a média atual. 

De acordo com o ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, as simulações que têm sido feitas mostram que é possível contar com 72 movimentos por hora, quando a solução do Montijo estiver pronta. No entanto, o governante assegura que, antes disso, «pode ser antecipado o sistema point merge (procedimento que visa melhorar as operações de chegada através da tecnologia) para 2020 no caso do Aeroporto Humberto Delgado». 

Para que seja possível aumentar em breve a média atual dos movimentos para 48 é preciso, diz o ministro, que a ANA Aeroportos faça o trabalho necessário para «acelerar a disponibilização das condições físicas». 

Para Pedro Marques, importa recordar que o novo sistema de navegação, já contratado, ficou «abaixo do orçamento de 40 milhões de euros de investimento global».

A verdade é que a tão falada falta de capacidade do aeroporto da capital portuguesa tem obrigado a várias reuniões. Segundo o responsável pela pasta do Planeamento e das Infraestruturas, estão já a ser tomadas medidas urgentes para que seja possível ter «mais voos numa das pistas do aeroporto de Lisboa». Este objetivo deverá ficar cumprido através do recurso a esta novo sistema e espera-se que tudo esteja a funcionar já no «final deste trimestre». 

No pacote dessas medidas estão  estão ainda o «reforço de meios do handling» e novos equipamentos de segurança. Tudo para que seja possível melhorar a situação deste aeroporto, que está «saturado e muito congestionado porque atingiu praticamente o limite da sua capacidade». 

«Estamos a falar de medidas de disponibilização de novos instrumentos para controlo de segurança, mais rapidez no despacho dos passageiros, estamos a falar de reforço de recursos humanos quer por parte da TAP quer por parte da gestora do aeroporto (ANA) para as situações em que há atrasos ou cancelamentos, uma melhor gestão das novas áreas de check-in e a certificação dos caminhos de circulação interna dentro do aeroporto para que o handling se possa fazer com mais rapidez», esclarece Pedro Marques. 

No meio de todas estas medidas está ainda um investimento de 6 milhões de euros para tornar a operação de bagagens mais eficiente. A par de tudo isto, a TAP deverá avançar com a contratação de mais 300 novos pilotos para agilizar o movimento de aviões.

Recorde-se que, de acordo com os dados mais recentes, nos primeiros três meses do ano passaram por este aeroporto seis milhões de passageiros, o que representa «um aumento de tráfego na Portela de 12,8%».

Um dos problemas que se tem levantado no meio de todo este cenário de falta de capacidade para dar resposta a tanto movimento tem a ver com a atual situação da Madeira. O Governo Regional, cujo turismo tem sido penalizado pelos caos que acontece com as conexões em Lisboa, admite que já começou a estudar a possibilidade de começar a usar Barcelona como hub para os voos que chegam do exterior. Fica ainda em cima da mesa a possibilidade avançar com um processo contra a TAP e administração do aeroporto da capital. 

Hora de ponta chega ao céu

Já tínhamos dito que o céu parecia estar a ficar pequeno para tantos aviões. No entanto, falar disto não era falar de um novo recorde no mundo da aviação. De acordo com a FlightRadar24, que monitoriza o tráfego aéreo, só no dia 29 de junho, 202 157 aviões cruzaram os céus. Nunca se tinham registado tantos voos e pode mesmo falar-se de «hora de ponta acima das nuvens». No pico do dia mais movimentado, estiveram no ar mais de 19 mil aviões. 

Recorde-se que, por norma, agosto é o mês em que se regista mais tráfego aéreo, mas nem nesta altura tinham tinham sido detetados mais de 20 mil voos em apenas um dia.

Ou seja, falamos de um aumento que é global. O facto de haver mais pessoas a voar é ponto assente.  Portugal tem atraído cada vez mais turistas. Seja pelo sossego, pela paisagem ou pela segurança, a verdade é que o país está cada vez mais na rota das preferências de quem escolhe o melhor local para passar uns dias de férias. Prova disso tem sido o aumento de voos internacionais que têm cidades portuguesas como destino. Basta uma pesquisa rápida na Internet para constatar o aumento do número de lugares em viagens com destino a cidades portuguesas.

Negociação para o Montijo

A moda começou a intensificar-se em 2015 e o aumento da procura de Portugal como destino começou a ameaçar a capacidade do aeroporto de Lisboa. Contas feitas, pode mesmo dizer-se que, no ano passado, o aeroporto da capital recebeu 27 milhões de passageiros e, em maio deste ano, já tinha passado a barreira dos 11 milhões.

Entretanto, a ANA Aeroportos fez saber no final do ano passado que vai aprofundar o estudo de impacte ambiental para a construção do novo aeroporto do Montijo. O trabalho foi pedido pelo Governo e servirá para fornecer mais elementos relativos à avifauna. 

De acordo com o Jornal de Negócios, o estudo deverá fica pronto dentro de dois meses. Fonte oficial da ANA esclarece mesmo que «face às dúvidas que surgiram foi decidido desencadear este processo, mas, em paralelo, estão a decorrer a bom ritmo as negociações com o Governo para a construção do aeroporto do Montijo». 

A mesma fonte admite ainda que é expectável que as negociações entre a ANA e o Governo para arrancar com as obras do novo aeroporto fiquem fechadas já em setembro. 

Recorde-se que, até hoje, foram levantado argumentos a favor desta localização, mas também se levantaram várias vozes contra a solução encontrada. Aves, subida do nível do mar, igrejas e monumentos foram questões levantadas no decorrer do ano passado.

A verdade é que quando se fala num novo aeroporto em Portugal tiram-se da arca estudos e alguns problemas. O Montijo não foge à regra. Ambientalistas, pilotos e câmaras protestaram e surgiram estudos para todos os gostos. Uma vez foram as aves, outra foi o Cristo Rei e até uma igreja no Montijo surgiu na rota dos aviões. Foram levantadas questões ambientais, de favorecimento político-partidário, de falta de capacidade para juntar uso militar e uso comercial. Mas, a somar a tudo o que já vem sendo dito, surgiu ainda o facto de o Cristo Rei ser um obstáculo e até o nível do mar quis comprometer a solução Portela+Montijo.

Ainda assim, o Governo tem vindo a insistir nas vantagens desta solução. Acima de tudo, Pedro Marques sublinha, desde o início, que se trata de uma opção financeiramente mais comportável: «O custo por ser integralmente suportado através das receitas aeroportuárias, mantendo a competitividade destes aeroportos face aos principais concorrentes».