Política ambientalista é a culpada pelo maior incêndio da história da Califórnia, diz Trump

Bombeiros garantem que não falta água no estado norte-americano, mas o presidente dos EUA diz que água é desperdiçada no Pacífico

O maior incêndio da história da Califórnia deverá continuar a queimar floresta até ao final do mês, naquele que já é considerado o maior desastre natural do género desde que há registos. Apesar dos milhares de bombeiros que procuram combater as chamas nas 16 frentes ativas que ardiam ontem sem controlo por todo o estado, as condições climatéricas de calor e vento contribuíam para tornar árdua a tarefa.

O presidente Donald Trump declarou os incêndios, que já mataram nove pessoas, como uma “grande calamidade” – disponibilizando o fundo federal para as obras de recuperação -, mas aproveitou no Twitter para acusar as políticas ambientalistas estaduais pelos fogos e alegar erradamente que a água que podia estar a ser usada para apagar as chamas estar “a ser estupidamente desviada para o oceano Pacífico”.

Afirmação já contrariada por bombeiros e membros do governo estadual. Daniel Berlant, o subdiretor da Cal Fire, a agência de fogos da Califórnia, respondeu no Twitter: “Temos água suficiente para combater estes incêndios, mas vamos ser claros: é o nosso clima em mudança que está a levar a que haja fogos mais graves e destruidores”.

De acordo com fontes citadas pelo “New York Times”, Trump deve estar a referir-se a uma disputa entre agricultores e ambientalistas sobre água que nada tem a ver com o assunto e que acontece em muitas zonas do globo. Os agricultores querem mais água para irrigar as plantações, os defensores do ambiente alegam que isso teria um impacto no nível da água dos rios e provocaria a morte dos peixes.

Trump aproveitou para juntar os dois temas e tirar daí uma conclusão mais consentânea com a visão da sua administração de que não existem alterações climáticas e que as políticas ambientalistas trazem problemas e não soluções.

“Os incêndios da Califórnia estão a ser ampliados & a tornar-se muito piores pelas más leis ambientais que não permitem que uma enorme quantidade de água já disponível seja usada devidamente”, escreveu o chefe de Estado norte-americano.

Mas ninguém parece perceber muito bem o que Trump quis dizer com a sua afirmação e a Casa Branca não quis esclarecer, salientando a proteção civil e os bombeiros da Califórnia que os bombeiros têm água, tal como os meios aéreos que se abastecem em lagos e lagoas.

Catorze mil bombeiros

Ontem, de acordo com o “Mercury News” havia 16 grandes frentes de incêndio em todo o estado da Califórnia que estavam a ser combatidos por 14 mil bombeiros. Só o Fogo Complexo de Mendocino,  uma mistura de dois incêndios, o River Fire e o Ranch Fire, bateu ontem o recorde do maior incêndio alguma vez registado na Califórnia, tendo já ardido ontem ao final da manhã 97 841 hectares, uma área maior que as de San Jose, San Francisco, Oakland e Sacramento combinadas.

Apesar dos esforços, os bombeiros acreditam que só a 1 de setembro conseguirão conter o incêndio que durante o fim de semana destruiu mais 75 casas, elevando para mais de 2000 as residências devastadas pelo avanço das chamas.

“Por todo o estado, o fogo a estar muito ativo”, garantiu ontem o porta-voz da Cal Fire, Scott McLean. As condições climatéricas também não ajudam, ontem o Serviço Nacional de Meteorologia emitiu alerta vermelho para grande parte dos condados de Santa Barbara, Ventura e Los Angeles, com temperaturas a subirem até aos 35 ºC e 42 ºC para o vale de San Fernando. Um misto de baixa humidade e ventos superiores a 90 km/h aumentavam o risco de incêndios no sul da Califórnia.

De acordo com Scott Stephens, professor de Ciências do Fogo da Universidade da Califórnia em Berkeley, cinco anos de seca deixaram muito material combustível para ser consumido, a que se juntam mais pessoas a viver em zonas rurais e as temperaturas mais altas devido às alterações climáticas e temos as razões para estes incêndios.

Em contraste, os bombeiros continuam a combater os fogos da mesma maneira que o faziam no passado: “Estamos a usar ferramentas e estratégias velhas de décadas para combater fogos que são muito diferentes do que eram há 30 ou 40 anos”, explica Edward Struzik, autor de “Firestorm: How Wildfires Will Shape Our Future” (Tempestade de fogo, como os incêndios moldarão o nosso futuro).

Struzik, citado pelo “Daily Express”, dá um exemplo, a Cal Fire está à espera de receber uma dezena de helicópteros Black Hawk, enquanto isso mantém ao serviço uma frota de Hueys que serviram na guerra do Vietname.