Passa-se tudo em segundos

Por mil e um motivos, aquilo que associamos ao lazer e à diversão – as piscinas – pode revelar-se fatal

Um dia destes recebemos a visita de um casal de primos. Ele foi ao carro e deixou o portão de casa aberto. Imediatamente a mulher chamou-lhe a atenção e disse-lhe que o fechasse. «É só um minuto!», respondeu ele, ao que ela ripostou: «Cá em casa não contam os minutos, contam os segundos». ‘É mesmo isto’, pensei eu. Embora fosse preciso muito azar, a verdade é que bastam segundos para uma criança sair a correr pelo portão e ser atropelada pelo primeiro carro que passe, por exemplo. E todos temos conhecimento de acidentes absurdos e facilmente evitáveis que em segundos se tornam devastadores.

Nessa mesma noite foi noticiada a morte da filha de 19 meses do esquiador americano Bode Miller afogada numa piscina. Já na semana passada lemos o relato perturbador dos pais de um menino britânico de cinco anos que faleceu sugado pelo filtro de uma piscina no Algarve, que voltou a causar angústia sobretudo aos pais de crianças.

Esta sucessão de acontecimentos recordou-me quando em pequena me contaram que a piscina onde eu estava a divertir-me tinha sido palco de um cenário de terror. Certa noite, uma menina entrou na água e, ao caminhar em direção à zona mais funda, foi surpreendida pelo acentuado desnível, o que lhe provocou um ataque cardíaco. E quem não se lembra das horas de desespero, há 25 anos, à procura de duas crianças no desde então condenado Aquaparque?

 

Está aí em todo o seu esplendor o tão desejado mês de agosto, que para a grande maioria das pessoas representa umas merecidas férias! Ou seja, bom tempo, praia, família, brincadeira, descanso e… perigo! Seja por causa de uma queda acidental na piscina, por afogamento secundário, por causa dos filtros, das tubagens, dos desníveis, das ondas ou das correntes do mar, aquilo que associamos ao lazer e à diversão pode revelar-se fatal.

Nos meios que não são os nossos, como a água, todo o cuidado é pouco. Por isso neste momento os anúncios de casas de férias com grandes piscinas parecem-me mais sinónimo de perigo e de ansiedade do que de descanso.

O afogamento é a segunda causa de mortalidade infantil no nosso país e é quase totalmente evitável. É essencial combater esta tendência assustadora. Na água o divertimento pode ser a 100%, mas sempre seguindo todas as medidas de segurança que estiverem ao nosso alcance. Um bebé pode não conseguir levantar a cabeça mesmo num alguidar com 2,5 cm de água, por isso é preciso ter sete olhos sempre postos sobretudo nos mais novos.

Claro que não vamos deixar de aproveitar as férias com medo que algo de mau possa acontecer. Mas não nos queremos descuidar e correr o risco de nunca mais voltar a ter umas férias tranquilas.

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