Início do fim do BE ou apenas de Catarina Martins?

Catarina Martins não pode defender à exaustão um seguidor de Frei Tomás, que toda a gente já percebeu que atua na vida privada como qualquer capitalista

Catarina Martins ainda não percebeu uma série de coisas ou, tendo-as percebido, pretende passar um atestado de menoridade aos portugueses que seguem o BE, vulgo atirar-lhes poeira aos olhos.

Antes do mais, Catarina Martins não pode defender à exaustão um seguidor de Frei Tomás, que toda a gente já percebeu que atua na vida privada como qualquer capitalista e publicamente clama contra os que fazem de Lisboa uma cidade para ricos, com a terrível agravante de ser Ricardo Robles vereador em Lisboa.

Muito menos percebeu Catarina Martins que não pode justificar a incoerência do seu vereador com uma qualquer lei que se encontrasse para promulgação na Presidência da República, o que para compor mais as coisas nem era verdade, conforme declarações do próprio Presidente. Mas independentemente disso, o mais grave é Catarina Martins considerar ser necessária legislação para impedir que um seu vereador tenha possibilidade de contribuir, também ele, para que Lisboa se torne num «condomínio só para ricos» (palavras do próprio).

Mal vai a política – com mais uma terrível agravante de, no presente caso, ser a de esquerda – quando só o temor da lei impede os políticos de atuarem à imagem dos que criticam.

Mal vai um partido quando os que se arrogam lídimos defensores dos interesses dos carenciados têm como líder uma pessoa que faz afirmações como as que se ouviram a Catarina Martins, que podem resumir-se ao seguinte: agarrem-no com a lei ou ele especula.

 

Catarina embeveceu-se e mirou-se ao espelho com alguns dos resultados eleitorais obtidos pelo BE e com a circunstância de considerar que algumas vezes – na realidade e felizmente, não muitas – o PS dependeu do seu voto.

Mas os espelhos, como alguns políticos de esquerda, podem ser mentirosos ou pode suceder que não lhes sejam colocadas as questões certas, por exemplo as seguintes:

– «Espelho meu, terá o Bloco de Esquerda um eleitorado fiel que, façamos o que fizermos, continua a votar nele?»

Aqui o espelho explicaria a Catarina que o que ela tem por serem as vitórias do BE ficou a dever-se, no essencial, a duas circunstâncias convergentes à época das eleições de 2015. Uma derivada da política de austeridade seguida por Passos Coelho e de que os portugueses estavam fartos; e outra, de não menor importância, provocada pela desilusão relativamente a José Sócrates, em quem haviam acreditado muitos dos votantes de esquerda.

O espelho poderia aconselhar Catarina Martins a deixar cair o seu vereador, mas isso já não apagaria as palavras que saíram da boca de Catarina e que se lhe tatuaram. É que o eleitorado pode perdoar comportamentos e palavras menos próprios a políticos de direita ou do centro, por entender que já se sabe que são mesmo assim. Mas não perdoa nem esquece esses comportamentos e essas palavras vindos dos que se arrogam ser os verdadeiros defensores daqueles que a sociedade menos bafejou.

 

Ricardo Robles acabou por renunciar ao lugar de vereador e a todos os que ocupava no partido. Era o mínimo que poderia fazer por si e por quem o colocou nas listas. Ficou-lhe bem o gesto, mas não chega para apagar a nódoa que empapou o BE. E muito menos para apagar a insustentável posição assumida por Catarina Martins, que como qualquer criança apanhada em falta não assumiu as consequências dos atos e apressou-se a defender o indefensável.

António Costa devolveu confiança pessoal aos portugueses. Rui Rio é ainda praticamente desconhecido. O PCP mantém o seu eleitorado fiel. E o BE? A continuar neste caminho…

É assim a vida, Catarina. Existem mais palcos para além dos da política, onde com certeza não lhe exigem que seja verdadeira.