Discurso de Trump pode levar a ataques contra jornalistas, diz Alto Comissário da ONU

O Alto Comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Zeid Ra’ad al-Hussein, disse que a administração Trump contrasta com a das anteriores administrações por desvalorizar os direitos humanos

O Alto Comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Zeid Ra'ad al-Hussein, disse que a retórica anti-imprensa do presidente Donald Trump está "muito perto do incitamento à violência". Uma retórica, continuou o comissário, que poderá levar à auto-censura dos jornalistas ou motivar ataques contra os profissionais. 

"Começamos a ver uma campanha contra os media que poderá, e ainda pode, colocar em movimento uma cadeia de eventos que facilmente poderá resultar em ferimentos a jornalistas que apenas estão a fazer o seu trabalho e levar a alguma autocensura", disse Zeid em entrevista ao "Guardian". "Nesse sentido, está muito perto de incitamento à violência". 

O Alto Comissário irá abandonar o cargo que ocupa desde 2014 no final deste mês e recusou candidatar-se para um segundo mandato de quatro anos. Zeid acusa as principais potências mundiais, como os Estados Unidos, a China e a Rússia, de não se comprometerem com a defesa dos direitos humanos.

A postura da administração Trump não é apenas distinta das anteriores no que aos jornalistas diz respeito, mas também a todos os direitos humanos. Para o comissário, Washington tem avançado com uma retórica contra as minorias nos Estados Unidos, relembrando o pior do século XX entre as duas guerras mundiais. E o exemplo de Trump já começa a ser seguido por vários outros líderes mundiais pelo mundo fora, alertou, referindo o exemplo do líder cambodiano Hun Sen, que usou de uma retórica semelhante antes de encerrar todos os meios de comunicação social independentes no país. 

"Os Estados Unidos criaram um exemplo, que depois é seguido por outros países onde as lideranças tendem a ser mais autoritárias ou que aspiram a sê-lo", disse o Alto Comissário.