Robert Redford. Fechar a porta ao grande ecrã

Para Robert Redford, chegou a altura de parar. Pelos menos, como ator. Depois de quase 80 filmes e prestes a completar 82 anos o eterno galã dos cabelos arruivados está pronto para dizer adeus a uma carreira de quase seis décadas.

Chegou a hora de dizer adeus, entende Robert Redford. Depois de quase seis décadas dentro dos ecrãs o eterno Sundance Kid dá por terminada a sua carreira como ator. Esta semana, prestes a completar 82 anos, Redford confirmou à revista Entertainment Weekly que o filme The Old Man and the Gun, de David Lowery, será o último da sua carreira. No filme – com estreia marcada em Portugal para 8 de novembro –, Redford interpretará Forrest Tucker, um calejado assaltante de bancos. 

«Nunca digas nunca, mas penso mesmo que este terá sido o fim em termos de representação», disse o ator lembrando que começou a carreira aos 21 anos. «Pensei: acho que já chega. E porque não sair com algo que é tão positivo e otimista?». O desejo não é, contudo, recente. Já há dois anos, Redford tinha demonstrado vontade em dedicar-se unicamente à pintura e ao desenho, hobbies que lhe prendem cada vez mais a atenção. 

Um dos eternos galãs de Hollywood, Redford chegou à representação na década de 50, quando se estreou nos palcos da Broadway. Depois ainda passou pela televisão antes de se estrear no cinema com Tall Story (1960), filme que, curiosamente, marcou também o debute de Jane Fonda. Cinco anos depois, ao lado de Natalie Wood, chama definitivamente a atenção da crítica em O Estranho Mundo de Daisy Clover, de Robert Mulligan, ao interpretar um homem bissexual que se casa com a protagonista, uma enfastiada estrela de Hollywood. O papel valeu-lhe o Globo de Ouro de Melhor Esperança Masculina. 

Ao lado de Paul Newman, em Dois Homens e Um Destino (1969), foi o mítico Sundance Kid, um personagem que teria tanta importância que o ator lhe foi buscar o nome para batizar o Festival Sundance que, desde 1978, continua a dar palco a novos cineastas e a produções independentes. Em 1976, foi escolhido para interpretar o jornalista Bob Woodward em Os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula numa altura em que o caso Watergate – que culminou com a demissão do então presidente dos EUA, Richard Nixon, em 1974 – estava ainda bem vivo na memória coletiva.

Como realizador, contudo, Redford admite que a porta pode estar apenas encostada. Redford, que assinou dez filmes, conquistou mesmo um Óscar deste lado da câmara (em Gente Vulgar, 1980) algo que nunca chegou a alcançar como ator. A única vez que tal hipótese esteve sobre a mesa foi em 1973, quando interpretou o papel de um aspirante a vigarista em A Golpada – também de George Roy Hill e novamente ao lado de Paul Newman. O filme conquistou, entre outros, o Óscar de Melhor Filme e de Melhor Realizador e Redford foi nomeado para a estatueta dourada de Melhor Ator, que acabaria por ser entregue a Jack Lemmon. 

Nos anos 80, dá vida a Denys Finch-Hatton ao lado de Meryl Streep e da sua baronesa Karen Blixen para formar o par romântico que, em África Minha, de Sydney Pollack,  pôs uma geração inteira a sonhar com as paisagens intocadas de um Quénia no início do século XX. 

Saltando para os últimos cartuchos e antes deste filme que será, pelos vistos, o derradeiro, Redford ainda entrou numa produção da Netflix, Our Souls at Night (2017), ao lado da colega de longa data, Jane Fonda. No ano passado, a dupla foi homenageada em Veneza com o Leão de Ouro de carreira.

No total, foram quase 80 filmes como ator, 50 como produtor e 10 como realizador, que se juntam a quase 82 anos de vida. Muitos números que, todos juntos, não chegam – é que afinal nisto da representação o dom de vestir outras vidas é maior do que qualquer cifra.