Morandi. Governo italiano quer multar até 150 milhões de euros empresa que geria a ponte

O número de vítimas mortais subiu hoje para as 39. Dez pessoas continuam ainda desaparecidas.

Centenas de equipas de socorro continuam à procura dos desaparecidos entre os escombros de uma parte do troço da ponte Morandi, em Génova, Itália. Hoje, o governo italiano anunciou que o número de vítimas subiu para as 39, com dez pessoas desaparecidas entre toneladas de escombros. “Não vamos perder a esperança. Já salvámos uma dúzia de pessoas dos escombros”, disse um responsável dos bombeiros, Emanuele Giffi, à AFP. “Vamos trabalhar sem parar até a última vítima estar a salvo”, garantiu. Soube-se ainda que as autoridades deslocaram um total de 632 pessoas dos onze edifícios que se encontram nas proximidades da ponte por temerem novos desabamentos. Hoje, o governo italiano declarou o estado de emergência em Génova e disponibilizou cinco milhões de euros às populações afetadas. 

Enquanto as operações de busca e salvamento continuam sem parar, as exigências de responsabilidades por membros do executivo italiano não se fizeram esperar. O ministro do Interior Italiano, Matteo Salvini, voltou hoje à carga para dizer que os responsáveis irão “pagar,  pagar tudo e pagar caro”. E como seria de esperar, o ministro dos Transportes e Infraestruturas italiano, Danilo Toninelli, alinhou no mesmo discurso, exigindo a demissão dos responsáveis da empresa que geria a ponte. “Os diretores da Austostrade per l’Italia devem demitir-se antes de tudo”, afirmou o ministro na rede social Facebook, referindo que “num país civilizado não se pode morrer pelo desabamento de uma ponte”. O ministro anunciou ainda que “ativou todos os procedimentos para a possível revogação das concessões e a imposição de uma multa de até 150 milhões de euros”. “Recebem milhares de milhões, pagam uns poucos milhões de impostos e nem sequer realizam a manutenção necessária para as pontes e autoestradas”, acusou. 

Acusações que a empresa rejeita liminarmente. “Os trabalhos e o estado do viaduto estavam sujeitos a constante observação e vigilância”, afirmou em comunicado. E garantiu que tinha instalado uma ponte suspensa para poder avançar com os trabalhos de manutenção. Os argumentos da empresa não foram suficientes para tranquilizar os investidores – e as suas ações afundaram na bolsa. Caíram mais de 10% e as operações financeiras tiveram de ser suspensas para se evitarem perdas maiores. No final, a empresa fechou com as suas ações a desvalorizarem 5,39%. 

Para tranquilizar o povo italiano, o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, anunciou que as autoridades irão analisar todas e cada uma das infraestruturas rodoviárias espalhadas pelo país para garantir que catástrofes destas não se voltam a repetir. E o ministro dos Transportes defendeu um “Plano Marshall” para reparar, demolir e reconstruir milhares de pontes no país que já tenham entretanto ultrapassado o seu tempo de vida,  com especial enfoque nas que remontam às décadas de 1950 e 1960. 

No rescaldo da catástrofe, os pormenores sobre a ponte e o seu estado de manutenção têm vindo a público e, pelos vistos, já havia quem tivesse alertado para os riscos que a infraestrutura representava. O professor universitário Antonio Brencich, da Universidade de Génova, avisou, há dois anos, que a ponte era um “fracasso da engenharia”, obrigando a inúmeras correções desde a sua inauguração, em 1967. “Deve ser reconstruída em breve porque os custos de manutenção serão exorbitantes e superarão os da construção”, afirmou o especialista em entrevista ao site de engenharia Ingegneri. Uma tragédia anunciada, lê-se hoje nos media italianos.

Um troço de uma outra ponte desenhada pelo mesmo arquiteto da ponte Morandi, Ricardo Morandi, colapsou na Venezuela, em 1964, após um cargueiro ter embatido nela. Morreram sete pessoas. 

Ainda que os especialistas se debrucem sobre os problemas estruturais da ponte Morandi, o debate em Itália alargou-se para incluir o investimento governamental nas infraestruturas rodoviárias nos últimos anos. A tragédia desta terça-feira foi o quinto colapso de uma ponte nos últimos cinco anos no país, segundo o jornal italiano “Corriere della Sera”. Segundo a OCDE, a Itália é – entre a Alemanha, Espanha, Reino Unido e França – o país que menos investiu nas suas infraestruturas rodoviárias entre 2009 e 2015. 

Para Salvini, a resposta é clara que nem água: os constrangimentos orçamentais impostos pela União Europeia. “Devemos questionar–nos se respeitar esses limites [orçamentais] é mais importante que a segurança dos cidadãos italianos”, disse o ministro poucas horas depois da tragédia acontecer.