Pedro Queiroz Pereira. Morte de magnata português investigada em Espanha

Era dono da Navigator, a antiga Portucel, e da cimenteira Secil. Falamos, aliás, daquele que era um dos homens mais ricos do país. Morreu este sábado, aos 69 anos, em Ibiza

Morreu Pedro Queiroz Pereira.  Tinha 69 anos e morreu em Ibiza. De acordo com a imprensa espanhola, o empresário terá morrido devido a uma queda no iate, que estava atracado na marina de Ibiza. Os órgãos de comunicação espanhóis falam de “acidente fatal” e foi aberta uma investigação para perceber melhor o que aconteceu e precisar a causa da morte. No entanto, tudo aponta para que tenha sido um acidente e a morte terá acontecido após ataque cardíaco, na sequência de uma queda nas escadas do iate, uma embarcação com mais de 30 metros. Além de presidente do conselho de administração da Semapa e da Navigator, era ainda dono de uma das maiores fortunas de Portugal. 

De acordo com o ranking da Forbes, o empresário deixa uma fortuna que lhe valeu o quinto lugar na tabela dos dez mais ricos de Portugal: 1 129 milhões de euros. Também a Exame o destacou no ranking que fez. Pereira Queiroz ou PQP, como era conhecido, estava em sétimo com um património avaliado em mais de 700 milhões. 

Pedro Queiroz Pereira nasceu em nasceu em Lisboa em 1949 no seio de uma das famílias mais ricas do Estado Novo. Foi, aliás, ao pai de Queiroz Pereira que Salazar entregou a construção do primeiro hotel de luxo da capital portuguesa: o Ritz. 

Conhecido por todos os investimentos que fez no país, nem sempre teve em Portugal a sua vida. De 1975 a 1987 foi no Brasil que fez vida, depois de se ter mudado com a família a seguir ao 25 de Abril. E foi nesta fase da sua vida que começou a ser conhecido por PêQuêPê. Amante de competição automóvel, chegou a competir e ficar amigo de Ayrton Senna, piloto brasileiro que viria a ser uma das maiores lendas de Fórmula 1. 

O regresso a Portugal aconteceu quando o pai morreu. Queiroz Pereira regressou por causa da herança, da qual faziam parte as empresas que tinha de dirigir. 

O nome de Queiroz Pereira é de tal forma incontornável que surge na imprensa sempre ligado a vários cenários de negócios e interesses empresariais. Muitos deles concretizados, outros nem por isso. A vida do empresário ficou também marcada pelas guerras que travou. Uma delas aconteceu com Ricardo Salgado, quando, em 2013, o “caso Semapa” forçou a separação entre o empresário e o Grupo Espírito Santo. 

Um outro caso que mereceu destaque e onde Queiroz Pereira não baixou os braços foi o da Cimpor. Ficou conhecida a guerra com o governo de Guterres, em 2011, por causa desta empresa que tentou controlar, sem sucesso. Queiroz Pereira chegou a chamar mentiroso a Joaquim Pina Moura, então ministro das Finanças. Há quem garanta que esta operação fracassada foi sempre uma das maiores mágoas do empresário. 

Falar de Pedro Queiroz Pereira é falar, sobretudo, do grande industrial português. Só nos últimos 15 anos, os investimentos da Navigator em Portugal atingiram valores superiores a 1,3 mil milhões de euros. Com dinheiro para fazer o que bem entendesse, sempre preferiu investir e, principalmente, abrir novas fábricas. Fazendo as contas, pode falar-se de uma média de uma nova por ano. Através da Semapa, sempre controlou empresas como a Navigator, na área da pasta e papel, e a Secil, nos cimentos. A isto soma também investimentos no ambiente e na energia. Em 2017, a sua holding teve lucros de mais de 124 milhões. 

Segundo um estudo da KPMG, que avaliou o impacto das unidades do grupo, só a Navigator gera mais de 30 mil empregos em Portugal, diretos, indiretos e induzidos. 

No entanto, importa referir que a última semana foi dura para esta empresa. Em três sessões, a bolsa nacional perdeu dois mil milhões de euros. A penalizar a bolsa nacional, que somou quatro sessões de quedas, esteve o tombo da Navigator e ainda a turbulência na Turquia. A imposição de uma taxa de 37% sobre as vendas nos EUA ditou a maior descida da Navigator em bolsa desde 2012. Chegou mesmo a falar-se de perdas na ordem dos 270 milhões de euros. 

A força e os valores Em nota enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a administração da Semapa expressou o “mais profundo pesar” e salientou que “Pedro Queiroz Pereira foi uma referência no meio Industrial português, dotado de raras qualidades humanas e profissionais, e de um notável espírito empresarial com que promoveu a refundação do Grupo Económico de que esta sociedade faz parte”. Na nota, pode ainda ler-se que “mais do que um património, Pedro Queiroz Pereira deixa força e deixa valores. Força numa estrutura empresarial robusta e com uma liderança profissional organizada e empenhada em continuar o caminho em curso, mas principalmente valores como a Coragem, Independência, Frontalidade e Honestidade, com que sempre geriu as suas empresas e que deixa como legado a todos os mais de 6000 colaboradores da Semapa e das suas participadas Navigator, Secil e ETSA”.

Também Marcelo Rebelo de Sousa recordou o “grande industrial” e lamentou “ a morte prematura”. 

José Maria Ricciardi relembra que falar de Pedro Queiroz Pereira é falar de um “homem criador de riqueza e de emprego” e um “amante de desporto”. “Queremos hoje saudar um homem criador de riqueza e de emprego, um amante do desporto, um homem atento à nossa comunidade”. Ricciardi aproveitou ainda para lembrar o “grande adepto de ‘fair-play’” e “homém sério, um grande empresário português”.  

Já João Soares, que foi secretário de Estado das Florestas, sublinha: “Desde a primeira vez que falámos, em 2004, fui descobrindo nele um homem jovial e generoso que escolhia os seus amigos e que não gostava de perdoar traições e infidelidades.”

João Soares recorda ainda que PQP era um homem de convicções fortes. “Não fugia a lutas, embora procurasse a discrição e o recato público. Meses após a aquisição da Torralta pelo grupo SONAE teve lugar uma reunião em Tróia a que assisti, com a presença de muitos convidados importantes. A certa altura, o Eng. Belmiro de Azevedo, sempre truculento, virou-se para PQP e disse-lhe: ‘Tudo isto podia ser mais fácil se você tirasse dali aquele mamarracho’, referindo-se à presença da Secil na paisagem. PQP ficou vermelho e retorquiu de pronto: ‘Pode ser um mamarracho, mas se não fosse a presença dele ali, talvez você não tivesse comprado isto (Tróia) tão barato!’ A sala riu. Belmiro sorriu e não respondeu.”

Jorge Bleck, advogado e amigo de Pedro Queiroz Pereira, diz que só uma coisa o entusiasmava profissionalmente: “Desenvolver o país que amava”