Livreiros criam associação para combater grandes cadeias

Três livreiros unem-se contra as “ilegalidades” dos grandes monopólios. 

"Com muito esforço, estamos a tentar um movimento que una os livreiros e tente alterar o estado da situação, muito político, encoberto pelo fator económico", refere Joaquim Gonçalves, livreiro da A das Artes, em Sines, à Lusa. "Com muito esforço, estamos a tentar um movimento que una os livreiros e tente alterar o estado da situação, muito político, encoberto pelo fator económico", acrescentou.

Já para Vítor Rodrigues, da Leituria, situada na zona da Estefânia, em Lisboa, "o fim das livrarias pode vir a verificar-se se o Estado não intervier, apoiando-as ativamente e corrigindo os atuais desequilíbrios de mercado". E continua: "na minha opinião, os problemas devem-se à inoperância da Lei do Preço Fixo, e aos problemas imobiliários que expulsam livrarias e alfarrabistas de locais decentes para o comércio", acrescentou.

Para Francisco Vaz da Silva, da livraria Gigões e Anantes, em Aveiro. "O que se está a passar no mercado livreiro é gravíssimo, porque é um negócio em que só há batota", acusa. 

O livreiro lamenta que apesar de a lei estabelecer que as livrarias só podem fazer feiras do livro durante 25 dias por ano, isso não acontece com as grandes cadeias. Este livreiro exemplifica com o caso de uma grande livraria em Aveiro "que está em campanha de feira do livro desde 25 de abril ininterruptamente até agora".

"Já foi apresentada reclamação e o IGAC [Inspeção-Geral das Atividades Culturais] não funciona. Uma das últimas vezes que apresentámos uma reclamação por incumprimento da lei do preço fixo, tivemos imediatamente uma inspeção na nossa livraria por parte do IGAC e na semana a seguir tivemos uma inspeção da ASAE", denunciou.

Outro problema é o dos descontos feitos pelas grandes cadeias, que considera uma "barbaridade": "Como se pode aceitar que haja uma campanha com descontos entre 20% a 50%, quando este é um valor inferior àquele que é o preço de compra por parte das livrarias independentes (que é em média de 30% a 35% de desconto sobre preço de capa do livro)? Não há uma lei da concorrência", critica. 

 Vítor Rodrigues, da Leituria diz que "o Estado não existe para as livrarias independentes. Zero apoios, zero vontade, zero tudo", lamenta. 

"Quando algo surge, como o recentemente anunciado 'Selo de mérito cultural para livrarias', trata-se de cosmética. Esta medida foi anunciada em maio pelo ministro da Cultura – não por acaso, na Feira do Livro de Lisboa, que leva ao desespero as livrarias independentes de Lisboa, às moscas antes, durante e após esse evento -, mas estará a navegar pelos pântanos burocráticos durante muito tempo", suspeita.