Os anos do Ié – Ié

O país era censurado, cinzento e segregado. Eusébio marcava à Inglaterra, Amália cantava até ao Japão e a música pop coloria romances adolescentes. Eram os anos do Ié-Ié em Portugal. Ecos de um rock’n’roll inocente mas agitador de consciências, visto como um belzebu. Um desvio à moral dominante que alimentou namoros clandestinos de vão de…

Chinchilas

A banda de Phil Mendrix. Se os Sheiks eram os Beatles portugueses, os Chinchilas eram os Animals. A mimetização de êxitos era prática comum na época e não havia YouTube nem redes sociais para reclamar. O acesso à música era tão restrito que a prática era aceite sem contestação do direito de autor. Os Chinchilas não guardam segredo da devoção prolongada aos Monkeys, de quem interpretam o clássico ‘I’m a Believer’. A banda é importante no contexto do movimento Ié-Ié mas é nos anos 70 que alcança um dos momentos de maior glória quando dá um concerto no primeiro Vilar de Mouros. 

 

Daniel Bacelar

Enquanto Os Conchas venceram na categoria coletiva, Daniel Bacelar ganhou o primeiro ‘Caloiros da Canção’ enquanto artista solo com apenas 17 anos. Fã de Ricky Nelson, revelou queda para a música ainda na adolescência. Gravado o disco com Os Conchas, edita um EP por ano até 1967, mas a carreira profissional acabaria por ser a da aviação. Já reformado da TAP, grava uma versão de ‘Lonesome Town’, de Ricky Nelson, com Rita Redshoes. Daniel de Sousa Bacelar morreu no ano passado com 74 anos e foi um dos pioneiros do rock em Portugal.

Ekos

A seguir aos Sheiks, a grande banda de rock português na era de todas as restrições. Formados em 1963 pelo baterista Mário Guia – vinte anos mais tarde, o dono do Rock Rendez-Vous – nascem com os Shadows como referência central. Conhecem Cliff Richard no verão algarvio e chegam a acompanhar o cantor numa festa privada. Quando gravam o primeiro disco em 1965, a influência maior passaram a ser os Beatles. Já sem o fundador, ficam em quinto lugar do concurso do Ié-Ié. A banda vai sofrendo alterações mas não perde atualidade e ainda chega a 1970, ano do último disco. 

Sheiks

Eram quatro figurões: Paulo de Carvalho, Carlos Mendes, Fernando Chaby e Jorge Barreto. Os Beatles portugueses tiveram nas mãos o sonho da internacionalização. ‘Missing You’ atinge o oitavo lugar do top francês e a banda passa uma temporada em Paris onde grava o EP Sheiks em Paris. Compromissos familiares obrigam a regressar a Lisboa e, na aterragem, Carlos Mendes sai do grupo, substituído por outra figura familiar: Fernando Tordo. Foram a banda portuguesa mais popular dos anos 60 com singles como ‘Missing You’, ‘’Tell Me’ e o instrumental ‘Eusébio’. Um musical de 2007 reativou-os e devolveu-os à estrada.

Victor Gomes e os Gatos Negros

Um dos maiores ídolos daquela época, Victor Gomes era um rebelde em palco. Chega de África em 1963 e é reconhecido na Revista, contracenando com Florbela Queiroz, Simone de Oliveira, Madalena Iglésias e Tony de Matos. Os Gatos Negros, da Trafaria, cortejam-no mas recusa-se a gravar em português por defender que a língua materna do rock é o inglês. Grava, mas com os Sideirais, o EP Juntos Outra Vez. Regressa a África e fixa-se depois em França; no regresso a Portugal, grava o álbum O Regresso do Rei do Rock em 1993. É o anfitrião do vídeo de ‘She’s a Go-Go Dancer’ dos WrayGunn.

 

Conjunto Académico João Paulo

O conjunto, como então se usava, formado na Madeira, foi muito bem recebido na primeira deslocação ao continente em 1964. Vencem o prémio da imprensa no ano seguinte. Continuam a gravar regularmente e entre essas canções está a reconhecível ‘Hully Gully do Montanhês’. Em 1966, sai o primeiro LP, formato inusual nos anos 60, onde se incluía a balada ‘Stasera Pago Io’. São liderados por Sérgio Borges, que se aventura a solo. O serviço militar quase dissolve o grupo que se mantém até finais dos anos 70.

Quarteto 1111

Inspirados pelos Shadows, o Quarteto 1111 é um dos mais importantes da época por vários motivos. José Cid, Tozé Brito e Mike Sergeant fizeram carreira na música e os dois primeiros ainda se mantêm no ativo. A lenda do quarteto é devida a ‘El-Rei D. Sebastião’, balada psicadélica de grande arrojo censurada de imediato devido ao seu conteúdo político. Ainda concorrem ao Festival da Canção com ‘Balada para D. Inês’ mas o primeiro LP volta a gerar problemas com a censura.