EUA. Casa Branca reage friamente à morte de McCain

Foi mais um sinal da inimizade entre o senador republicano e o presidente Donald Trump

Nem a morte do senador republicano John Sidney McCain III, do Arizona, parece ter contribuído para o amenizar das tensões com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Enquanto as reações à morte do senador se multiplicavam em declarações oficiais e nas redes sociais por republicanos e democratas, entre os quais vários antigos presidentes, como Barack Obama e George W. Bush filho, a Casa Branca não publicou qualquer comunicado oficial. Trump recusou-se a incluir a palavra "herói" no comunicado. 

O presidente Trump limitou-se a publicar uma mensagem rápida e curta na rede social Twitter, dirigida à família de McCain. "As minhas mais sinceras simpatias e respeito para a família do senador John McCain. Os nossos corações e preces estão convosco!", escreveu Trump. Uma reação que não passou despercebida por ser curta e direta, além de não fazer qualquer referência ao trabalho político do senador nas últimas décadas. Depois do breve tweet, Trump foi jogar golf. 

Ao abandonar o senador em dezembro, McCain deixou claro que quando morresse não gostaria de ter o chefe de Estado no seu funeral, indicando aos seus mais próximos para não lhe enviarem qualquer convite. E manteve essa posição até falecer este sábado no seu rancho no estado do Arizona, vítima de um tumor no cérebro.

A inimizade entre os dois políticos começou durante a campanha para a nomeação republicana para a Casa Branca, em 2016. O então candidato republicano Donald Trump abriu as hostilidades ao criticar abertamente o passado militar de McCain. "Ele não é um herói", disse. "Ele foi um herói de guerra por ter sido capturado. Gosto de pessoas que não são capturadas", acrescentou. E, na sexta-feira passada, o Washington Post relevou que o presidente confessou aos seus conselheiros mais próximos continuar a acreditar no que disse e não se arrepender das suas declarações. 

McCain participou na Guerra do Vietname como piloto da Marinha, bombardeando o VIetname do Norte. Em 1967, foi abatido sob a cidade de Hanói, capital do Vietname do Norte, e passou cinco anos num campo para prisioneiros de guerra, o histórico "Hilton Hanói". O então piloto foi libertado depois de ter assinado uma declaração a repudir a intervenção militar norte-americana no Vietname. Por seu lado, Trump teve cinco adiamentos para se alistar nas forças armadas para ir combater no Vietname, com uma a citar "problemas ósseos". 

Nos meses que se seguiram, McCain criticou o populismo de Trump, mas principalmente a orientação da sua administração para a política externa, nomeadamente o desejo do presidente em encolher a presença militar dos Estados Unidos no mundo e as relações com a Rússia. Comentando a cimeira entre Trump e o presidente russo, Vladimir Putin, em Helsínquia, McCain acusou o primeiro de se ter rebaixado perante o segundo. "Nenhum presidente do passado se rebaixou de forma tão abjecta perante um tirano", afirmou o senador republicano. 

Mais tarde, McCain declarou mesmo guerra aberta a Trump ao votar no senado contra a revogação do Obamacare, uma das principais promessas de Trump desde que anunciou a sua candidatura à Casa Branca. McCain interrompeu o tratamento ao cancro no cérebro e voou dois mil quilómetros para poder baixar o dedo na votação. O voto do senador foi motivado por preocupações processuais, por Trump estar a pressionar para a lei ser votada fora dos normais trâmites do órgão legislativo, e não por apoiar o programa. 

E a retaliação, ainda que subtil, aprofundou ainda mais a inimizade. O senado aprovou este mês uma lei, fomentada por e com o nome de McCain, que aumenta o orçamento do Pentágono em 11,5% (82 mil milhões de euros) face ao ano anterior. Quando o presidente Trump se lhe referiu como um avanço para as Forças Armadas norte-americanas, não fez qualquer alusão ao senador.