Professores sabem onde vão dar aulas dois dias antes de as escolas abrirem

Ministro disse hoje que estão “criadas todas as condições para que o ano escolar possa começar a tempo” lembrando que recentemente houve anos letivos a começar “em outubro e novembro”. De acordo com os professores ouvidos pelo i há, pelo menos, 20 anos que isso não acontece. Além disso, os sindicatos acusam o governante de…

Cerca de 80 mil pofessores contratados souberam hoje, dois dias úteis antes das escolas abrirem, se conseguiram ou não, um lugar para dar aulas no proximo ano letivo. 

Com os resultados do concurso divulgados hoje, os professores que conseguiram um lugar para dar aulas vão ter apenas um dia útil para aceitar a sua colocação, para alugar casa e para organizar a sua vida familiar de forma a que estejam a trabalhar já na segunda-feira. Há casos de docentes que ficam colocados em escolas que ficam a centenas de quilómetros de casa.

Os que não conseguiram um lugar numa escola ficam, para já, no desemprego e terão de encontrar uma outra solução profissional ou candidatarem-se a futuros concursos.

Esta é a realidade com que se deparam todos os anos os professores contratados, no entanto, quando assumiu funções o ministro da Educação tinha como meta antecipar os concursos de professores, para que os docentes tivessem mais tempo para se prepararem.

Este é um terceiro ano letivo lançado pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e os resultados do concurso anual não foram antecipados.

Questionado pelo i sobre a previsão da divulgação dos resultados, o Ministério da Educação diz apenas que os resultados saem entre hoje e amanhã.

Há 20 anos que o ano letivo não começa em outubro

No entanto, hoje de manhã à TSF o ministro diz que "estão criadas todas as condições para que o ano escolar possa começar a tempo" e com "normalidade e tranquilidade".

Tiago Brandão Rodrigues aproveitou ainda para dizer que "há pouco tempo tivemos anos letivos que se iniciaram em outubro e novembro". No entanto, os professores ouvidos pelo i dizem que há pelo menos 20 anos que nem ano letivo não arranca em outubro e nem os resultados do concurso anual são divulgados depois de setembro.

Nos últimos anos, a única vez que o ano letivo atrasou foi em 2004 quando a ex-ministra Maria do Carmo Seabra viu o arranque do ano letivo sendo adiado para o final de setembro, por causa de erros nas colocações dos professores, recorda ao i o professor Paulo Guinote. Nesse ano, os erros detetados nos concursos aconteceram enquanto se passou da divulgação das listas de colocações de formato em papel para computador. Processo que estava a cargo da Compta.

Já antes o ex-ministro da Educação David Justino teve problemas com o concurso por causa do mesmo processo.

Chuva de criticas ao ministro

Horas depois das declarações do ministro sobre o arranque do ano letivo, os sindicatos teceram duras criticas a Tiago Brandão Rodrigues pela falta da divulgação dos resultados do concurso e consideram que o governante tem “falta de respeito” pelos professores.

A Fenprof frisa que "começar o ano escolar não é apenas o abrir das portas das escolas, são as condições em que as escolas abrem as portas e são essas condições que falta perceber se estão ou não criadas".

O secretário-geral Mário Nogueira lembra ainda que também não foram colocados ainda cerca de 20 mil docentes através da mobilidade interna, concurso para professores dos quadros que se queiram aproximar à residência.

Também o secretário geral da Federação Nacional da Educação (FNE), João Dias da Silva, lembra ainda que as escolas não viram reforçado o número de auxiliares, tal como prometido pelo governo. Desta forma, o novo ano vai começar “sem que as escolas estejam dotadas dos funcionários de que precisam” como é o caso de pessoal nas cantinas, na segurança, nas secretarias ou psicólogos, alerta Dias da Silva.  

Já o presidente do STOP, André Pestana, diz que “não se compreende porque não se define, de uma vez por todas, que o resultado destes concursos tenha de sair no máximo até meados de agosto” considerando que “basta haver vontade política nesse sentido, sem qualquer custo financeiro” e que iria trazer uma “evidente melhoria na preparação do arranque do ano letivo.

Além de todas estas críticas, os sindicatos aproveitam para lembrar que ainda estão em curso as negociações com o governo sobre as regras a aplicar aos professores com o descongelamento de carreiras, havendo já protestos agendados durante a altura do arranque do ano letivo.

Por tudo isto, João Dias da Silva adivinha que, ao contrário do que diz o ministro, o arranque do ano letivo será de “grande intranquilidade”.