Presidente da CP culpa “sucessivos governos” pelo estado da ferrovia

Para Carlos Gomes Nogueira houve uma maior aposta nas autoestradas e, como tal, um maior desinvestimento no setor. CP quer agora 22 comboios

O presidente da CP apresentou ao governo um plano de 170 milhões de euros para comprar 22 novos comboios. O número foi avançado ontem por Carlos Gomes Nogueira aos deputados e garantiu que está à espera que o executivo dê luz verde ao concurso a qualquer momento. Deste total, 10 serão elétricos e 12 serão híbridos, podendo estes últimos circular em linhas eletrificadas e não eletrificadas “para evitar transbordos”, revelou na comissão parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas no âmbito de um requerimento do PSD. 

No entanto, mesmo que o pedido seja aprovado, os novos comboios só deverão chegar em 2023 ou 2024, “depois de assegurado o investimento e de aberto o concurso internacional”, acrescentando ainda que, “até lá, vamos viver de forma simples e paradigmática”. 

Neste momento, a empresa tem 20 unidades alugadas à Renfe para linhas não eletrificadas e a estas somam-se quatro unidades a diesel que chegam ao mercado português no início do próximo ano. 

Já em relação às dívida, as contas são simples. De acordo com o presidente da CP, o Estado terá de injetar, através de reforço do capital estatutário, 455 milhões de euros este ano e mais 900 milhões de euros em 2019. Esta é a forma encontrada para que a dívida fique abaixo dos dois mil milhões de euros. Mas para isso, a CP terá de “ter resultados positivos e as indemnizações compensatórias têm de ser pagas”, garantiu no Parlamento. 

Aponta dedo aos governos

Para Carlos Nogueira a meta é simples: a empresa quer conseguir “mais regularidade e mais pontualidade e menos comboios suprimidos”, objetivos nos quais a ação da Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário (EMEF) é  considerada “indispensável”. Ainda assim, o responsável, responsabiliza os vários governos pelo estado do setor. “A aposta dos sucessivos governos no modo rodoviário, em estradas, autoestradas, IP [itinerários principais], IC [itinerários complementares], em autocarros para transporte de passageiros e em camiões para transporte de mercadorias contribuiu para o estado a que se chegou na ferrovia”.

No entender do presidente da CP, tem havido um “abandono durante décadas” neste setor que é acompanhado por uma “falta de investimento tempestivo”, e lembrou que “uma oferta mais fiável e de maior qualidade só é possível com uma perfeita simbiose entre a infraestrutura e o material circulante”. 

Mais reforços Carlos Gomes revelou também aos deputados que tem em marcha um plano de contratação para a EMEF, tendo já sido aprovado a contratação de 102 trabalhadores e a integração de outros 40 no âmbito do programa de regularização extraordinária dos vínculos precários na Administração Pública (PREVPAP). 

Ao mesmo tempo, o presidente da CP anunciou que está em curso um plano para renegociar os acordos de empresa com 20 cerca de 20 sindicatos, depois da empresa ter enfrentado nos últimos meses uma série de greves que levaram à supressão de mais de seis mil comboios. “É um tema que está em cima da mesa e temos vindo a negociar”, assinalou.
O responsável recordou que “umas vezes, o tribunal arbitral decreta serviços mínimos, outras vezes não”, e, quando isso não acontece, a empresa opta por recorrer a dois agentes por cada serviço, um dos quais o maquinista. Mas deixou um recado aos deputados: “Santa paciência, não vamos ficar reféns de um sindicato”.