Costa abriu champanhe à conta de Rui Rio

O PSD, historicamente, sempre foi um partido aberto a grandes discussões e confrontos de ideias. Ao contrário do PS, que preferia escolher sótãos para as conspirações, os sociais-democratas faziam até uma certa gala em colocarem as suas divergências na praça pública. Isso dava-lhes uma certa superioridade moral sobre os outros partidos, embora conspirassem tanto como…

O PSD, historicamente, sempre foi um partido aberto a grandes discussões e confrontos de ideias. Ao contrário do PS, que preferia escolher sótãos para as conspirações, os sociais-democratas faziam até uma certa gala em colocarem as suas divergências na praça pública. Isso dava-lhes uma certa superioridade moral sobre os outros partidos, embora conspirassem tanto como os outros nos bastidores. Mas a imagem de marca é que era diferente.

Quem não se lembra do que disse Rui Rio da troika e do Governo de Passos Coelho? E o que dizer daqueles que no PSD defenderam publicamente António Capucho quando este aceitou fazer parte de uma lista à Câmara de Sintra concorrente da do seu partido? Isto já para não falar de Pacheco Pereira , que ao longo dos anos tem dito de algumas lideranças o que Maomé não disse do toucinho. Essa era a essência do PSD e de quem faz parte dele, como também tanto gostam de dizer os seus militantes. Confesso que sempre achei piada a essa liberdade que não vemos noutros partidos, embora tenha consciência absoluta que os tubarões sociais-democratas são iguais ou piores aos dos outros partidos nos tais bastidores. Basta recordar uma figura que tem estado meio afastada do partido e sempre que se aproximam eleições vai oferecer os seus préstimos para ajudar na definição das listas, leia-se nomes, que irão concorrer aos lugares da Assembleia da República ou às câmaras?

Mas toda a liberdade de pensamento do PSD ficou em causa desde ontem. O presidente do partido aconselhou todos os críticos a saírem do clube laranja se não estão contentes com o seu comando. E fez mais, até sugeriu que seguissem os passos de Pedro Santana Lopes e se juntassem ao antigo primeiro-ministro na sua nova Aliança. Ao tomar conhecimento deste aviso à navegação laranja, calculo que António Costa deva ter aberto uma garrafa de champanhe e tenha encomendado as faixas de campeão absoluto, leia-se vencedor com maioria absoluta nas próximas legislativas. 

Ao mesmo tempo, o BE e o PCP devem ter ficado com vontade de aconselhar Rui Rio a moderar o seu discurso, pois se Costa tiver maioria absoluta, o papel dos companheiros da ‘geringonça’ ficará mais diminuído. Isto é: o BE e o PCP não abriram seguramente garrafas de champanhe e devem ter ficado furiosos com o desastre laranja. Não sei se alguma vez ficaram tão preocupados com as asneiras do PSD, mas contentes não ficaram seguramente.

Mas as questões que se colocam são bastante pertinentes: se Rio hostiliza os homens das autarquias que ultrapassaram os gastos permitidos pelo partido nas últimas eleições autárquicas, e se aconselha os críticos a abandonarem o partido, com quem estará a contar para ganhar eleições? Com os seus indefetíveis do Porto? Será que Rio está a seguir a estratégia que Pinto da Costa seguiu há uns anos e abandonou porque percebeu que precisa de ter uma equipa com dimensão nacional? Será que Rui Rio vai vencer o mundo, colocando-se contra todos? Rio ganhou o respeito dos portuenses quando não cedeu a Pinto da Costa, mas nessa fase não se pôs a atacar todos os clubes da cidade. Que é o que está a fazer agora no partido. 

Percebo que Rio queira dar a ideia que não pactua com jogadas de bastidores e quer transparência no partido, mas devia ter lido a entrevista de João Cravinho ao Público quando este afirmou que foi «ingénuo e estúpido» no combate que fez à corrupção.  Afinal, o PS não estava preparado para essa luta… O mesmo se passa agora com o PSD…