O PCP, a Sorefame e a CP

O país não vai permitir ao PCP a farsa do sujeito que matou o pai e a mãe, e em tribunal pediu clemência por ser órfão.

Recentemente ouvi a ex-deputada do PCP Ilda Figueiredo lamentar a penúria a que chegou a CP, pretendendo ligá-la ao encerramento da Sorefame, «a última fabricante de carruagens de comboio» (sic). Valendo-se do facto de o seu interlocutor não ter vivido o PREC, Ilda Figueiredo insinuou que o encerramento da metalomecânica da Amadora fora… responsabilidade da direita.

Na URSS, a história foi reescrita até ficar estabelecida a versão oficial, mas isso foi há um século. Sucede que estamos em Portugal, o PCP já não controla a imprensa e há testemunhas dos crimes económicos dos anos da governação PCP/Vasco Gonçalves, que recordam como a Sorefame funcionou como um dos bastiões das ‘vanguardas’ comunistas que, com total impunidade, ‘governavam’ a cintura industrial de Lisboa. 

Por muito que custe ao PCP, os portugueses não lhe vão permitir a farsa do sujeito que matou o pai e a mãe, e em tribunal pediu clemência por ser órfão. 

O país não esquece os ‘feitos’ do PREC, onde avulta a ocupação selvagem das maiores empresas, que se tornaram inviáveis por força de greves constantes e aumentos salariais incomportáveis. 

De empresa de excelência, a Sorefame – e também a Mague – deixou de ser consultada para concursos internacionais de fornecimento de carruagens, quando ficou patente que era incapaz de cumprir os prazos de entrega e os seus preços estavam fora do mercado. A Sorefame morreu às mãos do PCP, como morreram a Mague, a Cometna, a Metalúrgica Duarte Ferreira, a Siderurgia Nacional, a Lisnave, a Setenave e a Fundição de Oeiras. Isto para restringir a análise à fileira do ferro e aço, porque, se o PCP quiser discutir a destruição do grupo CUF… é só chamar os milhares que perderam o emprego.

Os portugueses lamentam a evidente degradação do transporte ferroviário, que se deve à inversão das prioridades nas políticas de comunicações, em especial a partir da chegada dos negócios do betão. 

O PCP também tem os seus telhados de vidro nestes escuros domínios. Mas daí ao absurdo de ir desencantar a extravagante explicação do desaparecimento da Sorefame para justificar os males da CP, vai o pequeno passo de quem conserva a arte da manipulação. 

A CP chegou ao estado em que está porque os partidos preferiram as autoestradas – e um aeroporto em Beja!!! – a uma rede ferroviária moderna, com ligações à Europa, que teria a vantagem de valorizar os portos nacionais e a celebrada economia do mar. 

Agora, se o Partido Comunista quer mesmo salvar a CP, que se deixe de tretas e comece a preparar a luta contra a eventual (quem sabe se provável) integração na RENFE. Argumentos não faltam: maior eficiência de uma rede ibérica, economias de escala e vantagens destacadas em pareceres técnicos ‘irrebatíveis’. Não vimos isso na Ota e nas PPPs? Ou alguém acredita que o aluguer de composições à RENFE é inocente? 

Se pilares da economia como a banca, a eletricidade, a TAP, os aeroportos, o porto de Sines e as pontes foram entregues de mão beijada ao estrangeiro… por que não a CP?