Elect a clown, expect a circus

“Elejam um palhaço, esperem um circo”. A frase, vista por uma amiga, estampada numa t-shirt, não deixa dúvidas quanto ao destinatário: o Presidente dos EUA, Donald Trump. Para tentar explicar porque é que ele está a levar os EUA e o resto do mundo para um lugar muito perigoso, vou expor a minha tese em…

“Elejam um palhaço, esperem um circo”. A frase, vista por uma amiga, estampada numa t-shirt, não deixa dúvidas quanto ao destinatário: o Presidente dos EUA, Donald Trump. Para tentar explicar porque é que ele está a levar os EUA e o resto do mundo para um lugar muito perigoso, vou expor a minha tese em pontos.

Em primeiro lugar, convém não esquecer que a maioria dos americanos não votou em Trump, mas em Hillary Clinton, que teve mais 2,9 milhões de votos do que ele. Foi o particular sistema de eleição do Presidente norte-americano, onde se vota não para escolher o Presidente mas para escolher os grandes eleitores que o escolherão, mais o sistema em que, em cada estado, é igual ganhar-se por um voto ou por 1 milhão, pois elege-se sempre a totalidade de grandes eleitores desse estado (exceto na Louisiana, que usa a eleição proporcional dos grandes eleitores) que levou à eleição de Trump. Em qualquer outra democracia, 2,9 milhões de votos a mais teriam ditado outro vencedor. Na prática, é impossível mudar o sistema arcaico de eleição do Presidente norte americano, pois ele beneficia os estados mais pequenos, que se oporiam a qualquer revisão constitucional nesse sentido. Por fim, alega-se que Trump pode ter contado na sua campanha eleitoral com a ajuda de elementos dos serviços secretos russos, algo que ainda está por provar.

Na frente económica, Trump tem a seu favor a economia a crescer e um desemprego muito baixo, mas com um dólar cada vez mais fraco, o que auxilia as exportações e prejudica as importações americanas. Na prática, é como se exportasse desemprego. Não contente com esta estratégia, Trump decidiu lançar uma série de tarifas aduaneiras contra, praticamente, todo o mundo, tarifas essas que serão inevitavelmente retaliadas por parte dos países alvo, pelo que corremos o risco de uma recessão a nível mundial. Trump disse que as guerras comerciais são fáceis de ganhar; na realidade, estamos todos a perder.

Ainda na frente externa, Trump celebra o seu acordo com o regime mais brutal do planeta, o da Coreia do Norte. Na realidade, o acordo não vale o que quer que seja, pois não fixa objetivos concretos nem um calendário definido para a desnuclearização da Coreia do Norte. Esta ficou a ganhar, pois quebrou o seu isolamento diplomático e viu aliviadas algumas sanções económicas, enquanto o resto do mundo não ganhou o que quer que fosse. Trump gaba-se de uma vitória oca.

A nível pessoal, Trump, segundo várias fontes, é um javardo. Ficou célebre, ainda durante a campanha eleitoral, a sua frase “Grab them by the pussy” (Agarrem-nas pela …) Agora, segundo uma testemunha ocular, Omarosa Manigualt (que fez parte da administração Trump, mas já se demitiu) o Presidente é “um animal” quando a esposa não está por perto. Aliás, a ausência de mulheres nos mais altos cargos do governo americano sugere misoginia.

Será esta semana publicado nos Estados Unidos o livro “Fear: Trump in the White House” (Medo: Trump na Casa Branca) de Bob Woodward, um dos jornalistas que divulgou o escândalo Watergate, que levaria à demissão do Presidente Nixon. Mas já se conhecem alguns extratos. E o que livro descreve é um governo norte-americano à beira de um ataque de nervos. Há membros importantes do governo que fazem pactos para desobedecerem às ordens de Trump. Há outros que, mesmo sem pactos, dizem a Trump “Sim, senhor Presidente” e depois vão fazer exatamente o contrário do que tinham prometido. Há membros do governo que retiram papéis importantes da secretária de Trump, sem que este se dê conta. Há membros do governo que dizem que o Trump tem a inteligência de “um miúdo do 5º ou do 6º ano”. E há o desabafo do chefe de gabinete de Trump, John F. Kelly, que terá dito numa reunião: “Não sei porque é que algum de vocês está aqui. Este é o pior emprego que eu já tive na vida.”

E assim está descrito o panorama. Para finalizar, li há umas semanas um texto no “Jornal de Negócios” escrito em parceria pelo Professor de Economia Jeffrey Sachs e por uma Professora de Psicologia de seu nome Bandy X. Lee, cujo título era “A Psicopatologia de Trump está a piorar”. Segundo este texto, escrito por quem é especialista na matéria, o cargo de Presidente dos Estados Unidos da América, tradicionalmente o líder do mundo livre, é atualmente ocupado por um psicopata. O que torna o mundo um lugar mais perigoso, enquanto Trump estiver no cargo.