Brasil. Bolsonaro rejeitado pelas mulheres

Bolsonaro à frente na corrida às eleições de 7 de outubro, mas com taxa de rejeição do eleitorado feminino de 49%.

Brasil. Bolsonaro rejeitado pelas mulheres

Controvérsia é talvez a palavra que melhor encaixe no universo Jair Bolsonaro. O candidato de extrema-direita à Presidência do Brasil divide opiniões, sobretudo entre homens e mulheres. O discurso machista, xenófobo e de apelo à violência não convence a maioria do público feminino brasileiro e Bolsonaro tem neste momento uma taxa de rejeição de 49% entre as eleitoras. 

Na verdade, as mulheres constituem o grande desafio de Bolsonaro. O Brasil tem um universo eleitoral de 147 milhões e as mulheres representam cerca de 52,5% do eleitorado brasileiro. Para qualquer candidato ao Palácio do Planalto, é muito difícil lá chegar sem o apoio do eleitorado feminino, principalmente num cenário de segunda volta. Porém, essa é uma possibilidade cada vez mais real para o candidato do Partido Social Liberal (PSL), que tem até já um movimento organizado de mulheres que rejeitam tudo aquilo que ele representa.

As manifestações de repúdio à misoginia bolsonariana intensificaram-se nas redes sociais, um meio onde rapidamente a opinião se difunde, e foi criado um grupo no Facebook que conta já com cerca de 1,8 milhões de membros. Mulheres unidas contra Bolsonaro!!!, assim se chama o grupo que foi criado no dia 31 de agosto. 

Com apenas duas semanas conseguiu mobilizar parte das mulheres brasileiras contra Bolsonaro e, entre quinta e sexta-feira, por exemplo, o grupo somou mais de 300 mil novas adesões. A descrição do grupo do Facebook é clara e destina-se «à união das mulheres de todo o Brasil contra o avanço e fortalecimento do machismo, misoginia e outros tipos de preconceitos representados pelo candidato Jair Bolsonaro e seus eleitores».  

Entre os milhares de publicações, há dois pontos em comum – as acusações ao candidato do PSL e o hashtag #elenão, que já faz parte da maioria dos comentários escritos no grupo. 

O grupo define-se como apartidário, a «única bandeira é ser anti-Bolsonaro», escreve um dos membros. No entanto, a candidata Marina Silva é muitas vezes referida ao longo dos comentários.  

Alguns sociólogos brasileiros já se manifestaram em relação à criação do grupo do Facebook e defendem que o movimento pode ter o mesmo impacto no Brasil que teve a marcha das mulheres contra Donald Trump nos Estados Unidos. 

O movimento visa conseguir a união das mulheres contra Bolsonaro. E, para demonstrar que estão unidas e que caminham na mesma direção, não só nas redes sociais, as mulheres vão sair à rua numa manifestação marcada para 29 de Setembro em São Paulo. A convocatória já tem a confirmação de 54 mil pessoas e manifestação de interesse de 188 mil. Também noutras cidades do Brasil estão já  marcadas manifestações para a mesmo data. 

Futuro dos votos

No próximo dia 7 de outubro, os brasileiros vão às urnas para escolher o seu candidato e, sem Lula da Silva na corrida – abdicou de insistir na sua candidatura e recomendou o voto em Fernando Haddad – , as sondagens colocam Bolsonaro na frente da corrida, mesmo com tal rejeição entre as mulheres. A sondagem do site  Poder 360 dá-lhe 26,6% das intenções de voto, algo que tem vindo a ser o habitual das pesquisas desde que foi ferido com um golpe de faca num ato de campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais.

No entanto, se é quase certo que Bolsonaro estará na segunda volta, não é menos certo que dificilmente conseguirá derrotar qualquer adversário que enfrente numa segunda volta, tendo em conta a alta taxa de rejeição que tem no eleitorado. Os mais bem colocados para passar à segunda volta são, neste momento, Ciro Gomes (Partido Democrático Trabalhista), com 11,9%, Marina Silva (Rede Sustentabilidade), com 10,6%, e Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores), com 8,3%.

Reinaldo Meirelles, presidente do instituto de pesquisa Locomotiva, Bolsonaro tem um problema. dificilmente o seu discurso conseguir ir muito para além do máximo já alcançado até agora pelo candidato, os 26% de que falam as sondagens. Isto é, uns 20 a 22% de verdadeiros entusiastas das suas propostas e mais uns quatro a seis por cento de gente que se sente impelida a votar nele por ter sido vítima de uma tentativa de assassinato durante a campanha. Porque o deputado federal e candidato do PSL «prega para convertidos», disse Meirelles ao El País Brasil, e a maioria das medidas que propõe é «contrária ao pensamento da maioria da população brasileira, em especial  na questão de igualdade de salário e oportunidades de trabalho entre homens e mulheres».

Com apenas oito segundos de tempo de antena na televisão – meio ainda muito importante para o Brasil, país onde a taxa de penetração da internet e o grau de literacia informática é ainda muito baixo -, Bolsonaro acabou por beneficiar do ato de violência que foi alvo para ganhar mais tempo de antena – não faltaram as teorias de que teria sido a própria campanha a preparar o atentado para captar mais atenção pública. 

No Brasil, em relação ao cargo de Presidente e de governador de estado, o sistema funciona por maioria absoluta. Ou seja, os candidatos têm de conquistar a maioria dos votos para serem eleitos e, caso isso não aconteça, a disputa eleitoral segue para a segunda volta com os dois mais votados que, a realizar-se, será no dia 28 de outubro. E aí está o essencial da corrida, Ciro Gomes, Marina Silva, Fernando Haddad e mesmo Geraldo Alckmin apostam todas as fichas em chegar à segunda volta contra Bolsonaro, pois as suas hipóteses de ganhar aumentam com esse cenário.

Segundo a sondagem da Datafolha, Ciro Gomes será o candidato mais forte numa segunda volta para enfrentar Bolsonaro: a sua vitória seria de 45% a 35%. Logo a seguir, aparece Marina Silva, com 43% para a segunda volta (com Bolsonaro a ficar com 36%. Geraldo Alckmin alcançaria 43% contra 34%. Haddad, neste momento, é aquele menos bem posicionado para derrotar Bolsonaro na segunda volta, com 39%, contra 38%.