Um início difícil para todos

Embora seja inevitável sentir o mundo mais vazio quando os deixo pela primeira vez, sei bem que é assim que deve ser

Ao longo destas semanas há muitos corações partidos pelo país e mundo fora. Uns mais pequeninos do que outros mas todos cheios de amor e de saudades.

O início da escola é sempre difícil. Sobretudo para quem entra pela primeira vez, mas também para quem regressa de férias e para quem sai de lágrimas nos olhos sem sentir na sua mão uma mais pequenina.

Hoje quando deixei o meu filho mais novo pela primeira vez na escola revivi uma sensação de enorme e estranha tristeza. É um dia difícil para os dois. Para ele, que não percebe por que o deixo ali, apesar de ir preparado e já conhecer a escola de quando ia buscar os irmãos, e para mim, que, apesar de ir também preparada, sentia que o deixava onde ele não desejava estar e por tudo o que a entrada na escola representa. Embora saibamos que os nossos filhos estão no caminho certo e que crescerem, tornarem-se cada vez mais independentes, conhecerem pessoas novas, descobrirem todo um mundo para além daquele que lhes mostrámos seja o melhor que lhes podemos oferecer, há uma inevitável sensação de perda e de nostalgia de quando os tínhamos só connosco.

 

Há quem defenda que os filhos não são nossos. Que nos são emprestados para cuidarmos deles o melhor possível e os prepararmos para que um dia possam ser independentes e felizes sem nós. Acho que a ideia deve ter surgido para ir contra pais demasiado protetores e absorventes, que têm dificuldade em deixá-los pensar e agir por si e um dia caminhar, mesmo que para longe, pelos seus próprios passos. Embora me custem estes primeiros dias e seja inevitável sentir o mundo mais vazio quando os deixo pela primeira vez, sei bem que é assim que deve ser, que é o caminho certo e espero que um dia, quando saírem definitivamente do ninho, possa sentir o mesmo. Mas ainda assim, não acho que sejam emprestados. Sei que são muito meus, ainda que respeite as suas escolhas e que um dia possam escolher um caminho diferente do que eu escolheria, que se esqueçam de mim para viverem a sua vida ou que se lembrem menos vezes de mim do que eu gostaria. Desejo que possam viver livremente como eu também gosto de viver. Sem culpas nem receios, nos seus percursos, longe ou perto. Mas ainda assim vou senti-los sempre meus. Pelo menos neste coração que estica e encolhe conforme os dias. E enquanto este dia não chega, aproveito para com o início de mais um ano letivo fazer planos para que tudo corra melhor, para que o tempo depois da escola possa ser longo e bem aproveitado, mais bem organizado, com espaço e dedicação de uns para os outros, porque é nestas alturas que sentimos os anos a passar mas ainda temos todo o tempo para os aproveitar, melhorar, tornar únicos e especiais. Até ao dia em que, ainda que para sempre nossos, serão mais deles e, se fizemos um bom trabalho, estarão preparados para já não sermos essenciais nas suas vidas.

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