Liga dos Campeões. O regresso à casa da última grande memória

Nenhum adepto do FC Porto esquecerá alguma vez – apesar da dificuldade de pronunciação – a localidade de Gelsenkirchen. Mais de 14 anos depois da conquista dos pupilos de Mourinho, o palco da final de 2003/04 marca o início de nova caminhada europeia dos dragões

É verdade: já lá vão mais de 14 anos que um grupo de meninos praticamente desconhecido na montra europeia, liderado por um treinador jovem e com uma ambição do tamanho do mundo, surpreendeu a Europa e conquistou a Liga dos Campeões com um inapelável 3-0 na final sobre outro ‘outsider’ (Mónaco). Nos dias que antecederam essa final de 26 de maio de 2004, a euforia era generalizada nas hostes azuis-e-brancas, mas poucos eram os que conseguiam dizer o nome da cidade onde ia ter lugar o jogo decisivo.

Na noite desta terça-feira, a partir das 20 horas, será precisamente nesse lugar muito difícil de pronunciar que o FC Porto inicia a caminhada 2018/19 na Liga dos Campeões, com os olhos postos numa repetição do feito conseguido por José Mourinho, Vítor Baía, Jorge Costa, Deco e companhia. Gelsenkirchen é o nome do local – e até o hotel escolhido para a concentração dos dragões antes do encontro de hoje com o Schalke 04 foi o mesmo de 2004: o Vienna House, a cerca de 25 km da Arena AufSchalke.

A ambição existe, e os integrantes portistas nem o escondem. Na véspera de iniciar a 20.ª participação na prova, Iker Casillas deixou isso mesmo bem expresso no discurso. “Temos vontade de fazer as coisas bem, qualificar-nos, competir e chegar o mais longe possível. O nosso sonho é conquistar a Liga dos Campeões, mas só podemos prometer luta e ambição para, pelo menos, superar essa barreira dos oitavos-de-final”, salientou o internacional espanhol, vencedor de três Champions ao serviço do Real Madrid.

O historial frente ao Schalke – e a equipas alemãs no geral –, todavia, impõe cuidados a ter. Nas duas ocasiões em que defrontou o conjunto germânico, o FC Porto caiu: em 1976/77, na primeira ronda da Taça UEFA, e em 2007/08, nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Nesta última, os dragões até conseguiram a primeira vitória, mas o 1-0 em casa, que anulava a derrota pelo mesmo resultado na Alemanha, acabou por não valer de nada: os portistas caíram nos penáltis, com o guarda-redes alemão, um jovem de 21 anos praticamente desconhecido da Europa do futebol, a defender as tentativas de Bruno Alves e Lisandro López, depois de já ter feito várias defesas absolutamente monstruosas durante a partida. O seu nome? Manuel Neuer…

No que toca a confrontos na Alemanha na Taça dos Campeões Europeus/Liga dos Campeões, os registos do FC Porto começaram, curiosamente, a piorar apenas nos últimos anos: os dragões somam três derrotas consecutivas (o tal 1-0 com o Schalke em 2007/08, o pesado 6-1 com o Bayern em 2014/15 e o 3-2 com o Leipzig na época passada), a que se junta um 2-1 com o Bayern nos quartos-de-final de 99/00. Contra os bávaros, conseguiu um empate em 90/91 (1-1), a que se somaram três vitórias: um impressionante 5-0 no terreno do Werder Bremen em 93/94, um 1-0 em casa do Hertha de Berlim em 99/00 e um 3-1 em Hamburgo em 2006/07. E até nos golos o equilíbrio é a nota dominante: 14 marcados… e 14 sofridos.

 

História dá favoritismo Vice-campeão alemão na última temporada (uma forma simpática de pôr a coisa, pois acabou 21 pontos atrás do campeão Bayern), este Schalke 04 está ainda assim muito longe de ser uma equipa atemorizadora. Esta época, de resto, está a protagonizar um início terrível na Bundesliga: três derrotas noutros tantos jogos e o último lugar, a par do também histórico Bayer Leverkusen.

Dados compreensivelmente desvalorizados por Sérgio Conceição: o treinador do FC Porto considera o campeonato alemão “o mais competitivo do mundo” e, por essa razão, assumiu estar à espera de um duelo muito complicado esta noite. “Se somos favoritos? Pela história do nosso clube, sim: é a 23.ª vez que estamos na Liga dos Campeões e somos o clube mais titulado deste grupo. No entanto, o Schalke está inserido num contexto competitivo de um nível muito alto, e daí eu desvalorizar este início de campeonato e valorizar a capacidade e qualidade desta equipa. Este é um grupo equilibrado e amanhã vai ser um jogo equilibrado. No ano passado, o Mónaco era campeão francês, toda a gente o apontava como favorito no grupo e acabou em último; nesse sentido, este grupo é um pouco perigoso”, salientou o técnico portista, respondendo às palavras do seu homólogo do Schalke, o alemão Domenico Tedesco, que havia atribuído favoritismo aos dragões, que considerou “um nome grande no mundo do futebol”.

Garantindo conhecer “duas ou três fragilidades” do Schalke, a quem ainda assim elogiou as variações táticas e a largura no jogo através dos laterais, Sérgio Conceição surpreendeu ao convocar Riechedly Bazoer, médio internacional holandês de 21 anos contratado no último dia do mercado (cedido pelos… alemães do Wolfsburgo) e que ainda espera a estreia de dragão ao peito. André Pereira, Chidozie e o terceiro guarda-redes Diogo Costa, recuperado de lesão, são as outras novidades na convocatória – que não inclui o lateral-direito brasileiro João Pedro, titular na sexta-feira, no empate (1-1) caseiro frente ao Chaves, para a Taça da Liga.

Para já, um apontamento que deixará os dragões de água na boca para o encontro desta terça-feira: Pinto da Costa, presidente portista, revelou ontem ter recebido uma mensagem de José Mourinho. “Presidente, que voltemos ao mesmo resultado de 2004, um abraço.” Que seja um bom prenúncio, pede-se a norte.

 

Robben e Ribèry em dúvida para a Luz Vinte e quatro horas depois do início do Schalke 04-FC Porto, inicia-se no Estádio da Luz o Benfica-Bayern Munique. As conferências de imprensa de antevisão à partida só decorrem hoje, mas os bávaros já foram adiantando algumas ideias sobre o que esperam do encontro em Lisboa.

Em declarações ao canal de televisão do clube, Niko Kovac, que esta temporada assumiu o comando do gigante de Munique, deixou elogios aos encarnados, frisando a necessidade da sua equipa não desvalorizar o adversário. “No Bayern queremos ganhar todos os jogos, é essa a nossa missão. É importante viajar para Lisboa com confiança e com um bom sentimento porque é um jogo completamente diferente, vamos jogar longe de casa com uma equipa muito boa. Precisamos de jogar como na Bundesliga, porque se não o fizermos vamos ter problemas. Mas estou confiante que a equipa vai estar bem e espero que possamos começar a fase de grupos com uma vitória”, salientou o antigo internacional croata.

Para este encontro, Kovac não poderá contar com Rafinha e Tolisso, depois de ambos terem contraído lesões frente ao Bayer Leverkusen – no caso do médio francês, uma mazela grave que o irá afastar vários meses dos relvados. “É uma pena, é triste, afetou-nos a todos nós. Infelizmente as lesões fazem parte do futebol mas esperamos que eles voltem rápido e fortes”, realçou o técnico. Em dúvida estão ainda Arjen Robben e Franck Ribéry: os dois consagrados (e veteranos) extremos falharam o treino de ontem do Bayern Munique e ainda não há garantias de que estejam aptos para jogar na Luz. Robben fez os 90’ frente ao Leverkusen e até marcou um golo, mas Ribèry já não foi utilizado nesse encontro, tendo inclusive deixado o banco de suplentes com o jogo ainda a decorrer.