Pressão aumenta nos direitos televisivos

Continua a não haver acordo para disponibilização dos canais da Eleven Sports na MEO, NOS e Vodafone. Preço tem sido o principal entrave.

Chegou e nem precisou de prometer. Passou diretamente à fase de pôr em marcha uma verdadeira revolução no mercado. A Eleven Sports veio para mudar as regras de transmissão e conseguiu. Mas os objetivos são ainda mais ambiciosos e não se ficam por esta fase. A empresa chegou, quer ficar e tem como trunfo o facto de só no seu canal é que se pode ver todos os jogos das equipas portuguesas na ‘Champions’. Até pode ser através da NOWO ou da Internet, mas tem é de ser naquele canal. E foi exatamente este ponto que deixou milhares de pessoas sem alternativa. 

Chegou a tão aguardada estreia do Benfica contra o Bayern Munique, mas as operadoras MEO, NOS e Vodafone continuavam sem conseguir chegar a acordo para poder transmitir o jogo. A alternativa para milhares de adeptos era recorrer ao site. Mas também aqui houve problemas, com várias notícias a dar conta de que tinha estado inoperacional largos minutos, tanto antes como durante a partida. 

No entanto, a empresa apressou-se a garantir que a transmissão decorreu sem incidentes. «A situação relatada refere-se à página institucional internacional da Eleven Sports e não à página nacional (www.elevensports.pt) onde está a plataforma de streaming que dá acesso aos conteúdos exclusivos que os subscritores da Eleven Sports têm ao seu dispor», explicou a empresa em comunicado, acrescentando que pode falar-se num «crescimento de subscritores da plataforma superior a dez vezes», em apenas algumas horas, «o que faz com que sejam já dezenas de milhares os portugueses a subscreverem os canais (…)».

Mas, para muitos, continua a existir o problema de as negociações com as operadoras ainda não ter chegado a bom porto. Apesar de a Eleven Sports admitir que, com ou sem acordo, «todas as pessoas no país» vão poder assistir aos jogos, a verdade é que a pressão tem aumentado. Há cada vez mais clientes destas operadoras a pedir para ter acesso ao canal. Mas o SOL sabe que os valores que têm estado em cima da mesa têm dificultado um acordo. 

No início de setembro, prosseguiam as negociações entre a NOWO e os outros três operadores de televisão por cabo em Portugal para que a Eleven Sports pudesse chegar a todos os clientes. Pedro Mendonça Pinto, diretor não executivo da Eleven Sports, admitiu que a presença de FC Porto e Benfica na principal prova de clubes da Europa acabou por colocar «mais pressão na NOS, MEO e Vodafone para chegarem a um acordo». E garantiu: «É impensável não disponibilizarem a Eleven e consequentemente todos os jogos da Liga dos Campeões aos seus clientes».

O SOL questionou os três operadores sobre o estado das negociações e o tempo que o processo pode demorar, mas todas optaram por não fazer comentários. Ainda assim,  a Altice Portugal, por exemplo, «reitera que prima por integrar os melhores conteúdos na sua plataforma de TV, desde que os mesmos estejam disponíveis respeitando critérios equilibrados de caráter financeiro, operacionais e, acima de tudo, de transparência».

A Eleven Sports garante que «não é possível estabelecer um prazo, e estamos certos que todas as partes envolvidas estão a procurar endereçar a situação o mais rapidamente possível, pois não é do interesse de ninguém privar os portugueses dos conteúdos de Desporto Premium da Eleven Sports, entre os quais a Liga dos Campeões e os jogos da La Liga, como um clássico Barcelona-Real Madrid».

 

Propostas em cima da mesa

Ao SOL, fonte ligada às negociações explica que os preços exigidos pela NOWO para a disponibilização dos canais da Eleven Sports às operadoras concorrentes continua a ser o principal obstáculo nas negociações com vista à distribuição da estação de desporto em todo o mercado de cabo. 

A MEO, NOS e Vodafone têm estado a apresentar propostas à antiga Cabovisão mas, até ao momento, não foi possível chegar a um entendimento quanto ao valor dos canais da Eleven, que se mantêm, desta forma, e desde o lançamento (15 de agosto), exclusivos da NOWO. 

No entanto, esta não é a única questão. Fonte ligada a um dos operadores em questão explica que «não se compreende como entregaram os direitos televisivos a uma empresa quase em insolvência face aos graves problemas financeiros [ver texto ao lado]». 

Seja como for, a NOWO já anunciou que qualquer cliente NOS, Vodafone ou MEO pode subscrever os canais da empresa na televisão e explica como: através de um sistema de IPTV. Este pode ser de qualquer operadora, o cliente apenas precisa de ter uma velocidade mínima de Internet de 10 megabits por segundo e adquirir uma box da NOWO. Ainda assim, os clientes pagam muito mais do que pagariam se os operadores chegassem a acordo. É necessário pagar o equipamento, pagar a mensalidade da operadora e ainda a mensalidade do canal. E este é um dos pontos que tem feito com que muitos clientes se queixem aos operadores: Querem ter acesso ao canal sem ter todos estes encargos.  

No entanto, as operadoras não concordam com  preço exigido pela NOWO para a disponibilização dos canais da Eleven Sports, até porque estavam longe de imaginar ter de face a esta situação. Durante vários anos a Sport TV tinha o monopólio e nada fazia prever que as alterações que a Eleven Sports provocou no mercado. 

 

Direitos

A empresa que conseguiu ficar com os direitos de transmissão da ‘Champions’ [Liga dos Campeões] para Portugal, nas próximas três temporadas, entrou em força no mercado português. Além destes direitos, a operadora internacional conseguiu ficar também com os direitos da Liga espanhola para Portugal. Até aqui, os direitos destas duas importantes competições estavam nas mãos da Sport TV que acabou por ser destronada na corrida para as próximas temporadas. No entanto, se a aposta de alguns era na descida de preço deste canal que até aqui mantinha quase um monopólio nos canais desportivos por subscrição, está perdida. 

A polémica instalou-se em torno dos preços, com muitos a defenderem que a Sport TV fizesse uma revisão dos valores. No entanto, Nuno Ferreira Pires, presidente executivo do canal, não deixou margem para dúvidas. Sobre a possibilidade de uma descida de preços, que muitos queriam ver tornar-se realidade, Nuno Ferreira Pires afastou qualquer tipo de flexibilidade. «Não tenho qualquer dúvida de que qualquer português que faça as contas, olhando para as 55 mil horas de programação, as modalidades que nós damos, os 2 mil jogos que damos e tudo aquilo que é o nosso conteúdo no próximo ano, estará tão ou mais tranquilo como os nossos clientes já estavam com o valor que nós cobramos na Sport TV», concluiu.

O foco do canal passou a ser a Liga Europa, uma grande aposta da Sport TV esta temporada. «No nosso entender, os minutos de visionamento de uma Liga Europa na próxima época desportiva tem um valor incomensurável maior à ‘Champions’ para os portugueses», explica.