Naomi Osaka ajuda a combater racismo

A vitória de Naomi no US Open tem sido bem usada como apelo a uma maior abertura à miscigenação na sociedade japonesa

‘Eropecei’ num artigo de Brook Lamer no New York Times (NYT) sobre a vida de Naomi Osaka, a tenista de 20 anos que saltou para a ribalta ao vencer o Open dos Estados Unidos, numa das mais polémicas finais de sempre em Majors.

Uma vez que esta coluna não existiu na semana passada, não faz agora sentido debruçar-me sobre a controvérsia dessa final. Mas as recentes acusações de racismo por parte de Serena Williams, depois das de sexismo, deixaram-me desconcertado.

Afinal, do outro lado da rede estava Naomi Osaka, uma japonesa com cidadania norte-americana, de pai haitiano negro e mãe japonesa. O árbitro Carlos Ramos foi sexista e racista por prejudicar uma mulher negra e favorecer outra mulher que tem sangue negro e japonês?

O que desconhecia é que enquanto Serena vociferava no court defender os direitos das mulheres, Naomi estava a contribuir para quebrar barreiras étnicas e culturais no país onde nasceu.

Brook Lamer conta no NYT que a mãe de Naomi, Tamaki, conheceu o pai da campeã do US Open, Leonard Maxime François, no início da década de 90 do século passado, em Sapporo, no Japão, quando os negros eram raros na província de Hokkaido.

 

Apaixonaram-se e mantiveram o namoro em segredo durante anos. O avô materno de Naomi iniciou o processo tradicional de combinar o casamento da filha com uma família ‘adequada’  e foi então que soube do romance que há muito proliferara.

A reação familiar foi violenta e o pai de Tamaki acusou a filha de desonrar e desgraçar a família, forçando o casal inter-racial a mudar-se para Osaka e perder todo o contacto com o resto da família japonesa durante mais de uma década. Hoje em dia já se reconciliaram, mas é por isso que Naomi e a sua irmã Mari nasceram em Osaka.

 

Esta história trouxe-me memórias dos tempos em que eu viajava no circuito. Acompanhei a carreira da japonesa Kimiko Date, que entre 1994 e 1996 atingiu as meias-finais em três dos quatro Majors e chegou a n.º 4 mundial.

A Kimiko era atraente, chamava a atenção de rapazes de todo o mundo, mas não era demasiado vista com homens de outros países. Agora compreendo melhor o falatório provocado pelo seu casamento com o piloto de automóveis alemão Michael Krumm.

 

Há uns tempos, algumas jogadoras japonesas ainda não encaravam Naomi como uma delas, por ser mais alta, mais musculada e de pele mais escura. Até o seu ténis tem uma potência diferente.

A vitória de Naomi no US Open tem sido bem usada como apelo a uma maior abertura à miscigenação na sociedade japonesa. Eis uma consequência bonita daquela terrível final.