Lucília Gago e Ivo Rosa no olho do furacão

Marques Vidal ficará na história como a mulher que melhor permitiu uma Justiça igual para ricos e para pobres

Vive-se um momento particularmente ativo na Justiça portuguesa. Vejamos: a PJ conseguiu descobrir em pouco tempo os supostos assassinos de uma professor do Montijo, crime cometido alegadamente pela filha adoptiva e pelo marido, e de um triatleta que terá sido morto pela mulher e um suposto amante. No primeiro caso, a Judiciária levou muito pouco tempo a ir ao encontro dos suspeitos, mas no segunda descobriu rapidamente os alegados autores do crime. Note-se que este tipo de crimes não são muito vulgares em Portugal, ao contrário do que acontece noutras latitudes. Só por isso mereceram tanto destaque.

Mas as notícias sobre Justiça inundaram todos os meios de comunicação social nos últimos tempos. Começou tudo com a novela da recondução ou não de Joana Marques Vidal do cargo de procuradora-geral da República, notícia que acabaria por ser ‘abafada’ pelos recentes desenvolvimentos do caso de Tancos, em que a Polícia Judiciária entrou em conflito com a sua homóloga Militar. Pelo meio houve ainda o início do julgamento dos comandos mortos do curso 127, e, antes de a semana terminar, mais um caso revelador do trabalho da equipa liderada por Joana Marques Vidal: a acusação de eventuais responsáveis nas mortes dos incêndios de Pedrógão: 12, no total, entre autarcas, gestores de empresas e homens da proteção civil. 

Para terminar uma semana em cheio, o insólito sorteio eletrónico do juiz que ficará com a fase de instrução do processo Operação Marquês, cujo principal arguido é José Sócrates. O brinde calhou ao juiz Ivo Rosa, um homem a quem são apontadas diversas guerras com o Ministério Público, por não aceitar muitas vezes as provas apresentadas pela investigação. Calculo que José Sócrates e outros arguidos tenham batido palmas de contentamento com o afastamento de Joana Marques Vidal da PGR e de Carlos Alexandre da Operação Marquês. Não será muito difícil de imaginar que houve rolhas de garrafas de champanhe a voarem…

Para apimentar ainda mais a ‘guerra’ da Justiça, Marcelo envolveu-se numa troca de galhardetes com Cavaco Silva a propósito da nomeação de Lucília Gago, tendo o atual Presidente dito que é ele que escolhe o titular do cargo de PGR, já que Cavaco tinha afirmado que a não recondução de Joana Marques Vidal foi a pior jogada da geringonça. Marcelo que é acusado por alguns de ter ficado contente com o afastamento de Marques Vidal por causa da sua amizade com Ricardo Salgado, deve ter ficado duplamente chateado: primeiro, porque foi o Governo que escolheu Lucília Gago, e, em segundo lugar, por há muito não ter qualquer relação de amizade com o banqueiro.

É óbvio que todos os olhos estão agora virados para Lucília Gago e para Ivo Rosa. A futura procuradora-geral da República terá a sua ação fiscalizada ao pormenor e, por isso, serão determinantes os primeiros sinais que der. Já Ivo Rosa, para o bem e para o mal, diz-se que é um homem profundamente correto e que, por isso,  não aceita provas inconclusivas. Veremos é se não vai dar cabo da Operação Marquês e, dessa forma, dar uma verdadeira machadada na Justiça portuguesa. Afinal, se a PJ e o Ministério Público são brilhantes a descobrirem assassinos e ladrões, não terão as mesmas qualidades para denunciarem crimes de colarinho branco? Não terão tido profissionalismo a recolher as provas da Operação Marquês? Veremos.