Treinadores portugueses em panela de pressão

José Mourinho, Miguel Cardoso e Leonardo Jardim: o trio português que comanda Manchester United, Nantes e Mónaco, respetivamente, está na corda bamba. 

Treinadores portugueses em panela de pressão

Não se pode dizer que a época vá longa, mas já há quem aposte que o fim do caminho está para breve para alguns dos treinadores portugueses espalhados pela Europa. Ainda assim, para um dos protagonistas em concreto, a meta, que aqui não significa chegar com sucesso ao fim de um objetivo, parece estar a escassos metros (ou seja, por dias). José Mourinho é o nome incontornável nesta última semana – ou mesmo mês. Ao comando do Manchester United, o outrora Special One parece perder cada vez mais o brilho a cada jogo que passa.

O descalabro, porém, parece ter chegado na passada terça-feira, dia em que os red devils foram eliminados na segunda ronda da Taça da Liga inglesa em pleno Old Trafford perante o Derby County, equipa que milita no segundo escalão e que é treinada por Frank Lampard. Num frasco que parecia ter atingido o seu limite, esta derrota parece ter sido a gota de água final, numa conta que, esta época, vai somando polémicas, críticas e muito, muito, poucos… pontos. É que, em boa verdade, a equipa de Manchester tem estado pelos piores motivos nos radares da imprensa nacional e internacional desde, praticamente, o início da época 2018/19. Tudo começou há pouco mais de um mês, na 2.ª jornada da Premier League, quando os red devils perderam por 3-2 no reduto do modesto Brighton.

À data, a terrível exibição dos diabos vermelhos não deixava agourar nada de bom, algo que veio a confirmar-se na semana seguinte, na terceira ronda da prova, quando o vice-campeão de Inglaterra voltou a perder, em casa, com o Tottenham, por 3-0. Os triunfos, de resto, (na 1.ª, 4.º e 5.º jornada) não convenciam: quase sempre muito sofridos e pela margem mínima até… novo tropeção. Antes do afastamento da Taça da Liga- prova em que, recorde-se, na temporada transata os red devils já tinham sido afastados pelo secundário Bristol City, – José Mourinho e companhia não foram além de um empate (1-1), mais uma vez em Old Trafford, no duelo com o Wolverhampton de Nuno Espírito Santo, recém-promovido à Liga Inglesa, na 6.ª ronda da Liga. Este sábado joga-se a sétima jornada e o United desloca-se até ao reduto do West Ham numa altura em que é sétimo classificado na tabela (10 pontos), com menos oito pontos do que o Liverpool. Todavia, os maus resultados desportivos não são o único motivo que parecem deixar Mourinho na direção da porta de saída.

O mau ambiente entre treinador e jogadores parece estar cada vez mais evidente, com especial destaque para a relação Mou-Pogba. O francês, contratado pelo orientador luso no início de 2016/17 por 105 milhões de euros, perdeu a braçadeira de capitão após a derrota do United com o Derby County – sentença ditada por Mou, que não quis alongar-se nos comentários sobre o assunto. Entretanto, a meio da semana, a imprensa norte-americana avançou que vários jogadores do Manchester United estiveram reunidos com o diretor geral dos red devils, Ed Woodward, para pedirem a saída do técnico português, ameaçando que se tal não acontecer poderão eles próprios sair no mercado de inverno.

Se é certo que o técnico de 55 anos (que conquistou na sua primeira temporada ao comando do United a Taça da Liga, Supertaça e Liga Europa) renovou, em janeiro passado, com o clube de Manchester até 2020, auferindo 23 milhões de euros anuais, também é inquestionável que o setubalense lidera, nas casas de apostas britânicas, a categoria de ‘primeiro treinador a apresentar a demissão na presente temporada da Premier League’. De resto, o grande problema deve mesmo morar no método de proceder a esta saída. É que os valores da indemnização iam certamente pesar aos cofres do clube de Manchester que, muito possivelmente, espera que Mourinho tenha a atenção especial de apresentar a sua… demissão do cargo. 

Jardim e Cardoso na corda bamba

A par de José Mourinho, Leonardo Jardim (Mónaco) e Miguel Cardoso (Nantes), ambos na Ligue 1, são outros dois treinadores lusos que parecem não estar a corresponder às expetativas dos respetivos clubes. Num momento em que estão oficialmente cumpridas sete jornadas da Liga francesa, o emblema do Principado é atualmente 16.º na tabela, dois lugares acima da zona de despromoção. Jardim, que conseguiu, recorde-se, a proeza de tornar o clube monegasco no campeão nacional de França em 2016/17, está a ter um arranque comprometedor, colecionando, até ao momento, três derrotas, o mesmo número de empates e apenas uma vitória. O último tropeção, em casa, com o Angers (1-0), valeu mesmo ao técnico madeirense um coro de assobios por parte dos adeptos. O arranque de época desastroso foi, aliás, comentado pelo técnico, que reconheceu o mau momento do plantel monegasco. Embora tenha admitido que está desiludido com a espiral negativa em que a equipa se encontra, Leonardo Jardim afastou a hipótese de se demitir. «Já estou aqui há cinco anos e respeitei sempre o meu contrato. Prolonguei o meu vínculo, era essa a minha vontade numa altura em que podia ter saído. Não é agora que vou fugir. Estou aqui para dar o meu melhor», assegurou o treinador de 44 anos que tem contrato válido até 2020. 

A confiança de Jardim, todavia, não se estende a outro português, que assumiu esta época o comando técnico do Nantes. Miguel Cardoso, contratado pelo emblema francês após o brilharete que fez ao serviço do Rio Ave na temporada transata, em que terminou no 5.º lugar, está longe de ter a estreia de sonho desejada. Ao fim de sete jogos, Cardoso mostra quatro derrotas, dois empates e uma vitória. Assim, o Nantes está na linha vermelha, num inesperado 18.º lugar, com apenas cinco pontos conquistados. Waldemar Kita, presidente do clube, já tinha deixado o aviso: «É normal um bocadinho de brincadeira, mas é preciso começar a jogar futebol». A imprensa francesa diz mesmo que o próximo jogo, em Lyon, que se disputa ainda hoje, será um teste decisivo para a continuidade de Miguel Cardoso à frente da equipa técnica. Resta saber se não será, até lá, o treinador de 46 anos a bater, por sua conta em risco, com a porta.