Diogo Vaz Guedes: a queda do empresário que chegou a ser um dos mais influentes no início do milénio

Foi à frente da Somague que ganhou maior notoriedade. Mas depois da venda da construtora apostou no negócio hoteleiro que acabou por não correr bem. Depois da insolvência, segue-se agora a sua falência. Ao lado de António Mexia, Filipe de Botton e António Carrapatoso foi responsável pelo movimento Compromisso Portugal, em 2004, que pretendia ‘lançar uma nova geração de…

Diogo Vaz Guedes: a queda do empresário que chegou a ser um dos mais influentes  no início do milénio

Diogo Vaz Guedes abriu um processo de falência. Apontado como um dos nomes incontornáveis da nova geração de gestores em Portugal, no início do milénio, o empresário pede um perdão de dívida de 67,2 milhões de euros que resultam, maioritariamente, de garantias pessoais que prestou às sociedades Gespura e Stravaganza e que não poderá reaver, sendo os grandes credores o Novo Banco e o BCP. Segundo a ação que deu entrada no Tribunal de Comércio de Sintra, Vaz Guedes solicitou a exoneração do passivo restante, ou seja, dentro de cinco anos, e tendo cumprido com todas as suas obrigações neste período, o que estiver ainda por pagar será perdoado. O património declarado resume-me apenas a dois bens: a casa onde reside com a família na Quinta Patiño e um automóvel.

O empresário de 52 anos é licenciado em gestão pela Universidade Católica e durante alguns anos foi visto ao lado de outros gestores igualmente influentes, entre eles Filipe de Botton e António Mexia. Aliás, entrou logo no mercado de trabalho como diretor financeiro. Com Filipe de Botton e Alexandre Relvas – fundadores da Logoplaste – criou a Interfinanças. No entanto, foi à frente da Somague, empresa da família criado pelo seu tio na década de 40, que se destacou como empresário e responsável por uma das maiores construtoras nacionais, que viria a ser vendida mais tarde aos espanhóis da Sacyr. O processo de alienação foi concluído em 2003 e permitiu-lhe um encaixe financeiro na ordem dos 180 milhões de euros. Mas só em 2007 é que abandona em definitivo a empresa, concluindo o processo de transição há muito definido entre o empresário e os espanhóis da Sacyr. «O setor da construção é uma etapa da minha carreira, mas não é definitiva», revelou após ter saído da construtora.

O início do fim

Mais tarde, Vaz Guedes cria a Gespura (originalmente com o nome Esquilo SGPS) para avançar com um conjunto de projetos de investimento em várias áreas. O seu objetivo era simples: «constituir um grupo empresarial de referência, de base portuguesa, em Portugal, para operar internacionalmente», com investimentos no imobiliário, no ambiente e na energia, entre outros. A entrada no turismo deu-se em 2007, em parceria com António Mexia e Miguel Simões de Almeida, através do Aquapura Hotels Villas & Spa. A ideia passava por abrir sete empreendimentos até 2010, o que exigia um investimento de 180 milhões. Um projeto que não correu como estava previsto e terminou com a declaração de insolvência da Aquapura Hotels Villas & Spa, em fevereiro de 2016, depois de somar dívidas sobre dívidas, ultrapassando os 46 milhões de euros. Acabou por ter de entregar o Aquapura Douro Valley ao fundo Discovery – um empreendimento de luxo que está na génese dos créditos detidos pelo Haitong, herdados do antigo BES Investimento. 
Antes deste desfecho, a própria Aquapura Hotels Villas & SPA chegou a avançar para os tribunais pedindo a abertura de um Processo Especial de Revitalização (PER), depois de ter dado entrada em tribunal um pedido de declaração de insolvência da empresa por parte de Miguel Simões de Almeida, que procurava reaver em tribunal vencimentos que lhe eram devidos na qualidade de administrador. Durante o PER da empresa, que suspendeu o requerimento de insolvência interposto pelo antigo administrador, houve 13 entidades que reclamaram créditos. A maior fatia, 43 milhões, eram créditos do BES Investimento, que entretanto passou para as mãos do banco chinês Haitong, mas passavam também pela Caixa Geral de Depósitos, pelo Banco Português de Gestão, passando pela Gespura (empresa de Diogo Vaz Guedes que era o acionista maioritário da Aquapura) e por António Mexia (que deixou de ser acionista daquela empresa, mas que foi incluído na lista por via de suprimentos feitos à Aquapura quando ainda tinha uma participação). Nessa altura, Diogo Vaz Guedes chegou a admitir que a solução passava por ele e não pela Gespura, já que a empresa não tinha qualquer património.

No seu curriculum consta ainda a passagem pela presidência da Privado Holding, dona do Banco Privado Português entre 2009 e 2012.

Encontro do Beato

Com António Carrapatoso, António Mexia e Filipe de Botton dinamizou o «Compromisso Portugal», movimento que reuniu mais de 300 pessoas em Lisboa, a 10 de fevereiro de 2004, para «lançar uma nova geração de decisores», empenhados em debater um modelo económico que permitisse ao país alcançar níveis superiores de riqueza e «sair da cauda da Europa nos dez anos seguintes». Também conhecido como o ‘Encontro do Beato’ trouxe, na altura, para primeiro plano da atualidade um dos temas que ainda hoje origina controvérsia na classe empresarial: devem-se, ou não, manter centros de decisão estratégicos em Portugal? Ou deve optar-se apenas por manter centros de competência? Perguntas que 14 anos depois continuam sem respostas.