João Ribas. Eternizado nos Coruchéus, lugar onde foi feliz

O bairro de Alvalade, em Lisboa, passou a contar com um mural do grande herói do punk português, local que ele chamava ‘a capital da capital’.  O músico morreu, em abril de 2014, com 48 anos, vítima de doença respiratória. A homenagem chegou agora, mas para breve poderá dar nome ao jardim

João Ribas. Eternizado nos Coruchéus, lugar onde foi feliz

João Ribas voltou ao Jardim dos Coruchéus, mas em forma de homenagem. Quatro anos depois da sua morte, o cantor punk tem agora um mural em Alvalade, local onde nasceu e onde deixou a sua marca e a que chamava ‘a capital da capital’. A iniciativa coube à junta de Freguesia «que assim procurou homenagear o músico, cuja vida e carreira profissional estiveram profundamente ligados a Alvalade. João Ribas viveu toda a sua vida em Alvalade, freguesia à qual os seus percursos pessoal e profissional estão indelevelmente ligados. Foi aqui que surgiram as suas bandas, era aqui que se realizavam os ensaios e alguns dos vídeos das músicas têm Alvalade como cenário», explica a entidade ao b,i.

 O mural é da autoria de João Morais e foi criado a partir de uma fotografia de Pedro Lopes tirada nesse jardim. «Muitos dirão que os Coruchéus eram a segunda casa dele. Mas eu direi que o Jardim dos Coruchéus foi para o meu irmão, durante grande parte da sua vida, mais do que uma segunda casa. Foi uma extensão da sua casa, no número 96 da Avenida de Roma», referiu a irmã do músico durante a cerimónia de inauguração. Segundo Isabel Ribas, era neste local que Ribas «se encontrava e convivia com os amigos», funcionando também este espaço como «sala de ensaios, sala de aula, escritório e local de eleição para refletir ou relaxar».

Esta ideia não é nova. Nos últimos anos, esta Junta de Freguesia tem vindo a promover várias obras de arte urbana, «por entender que esta forma de expressão contribui não só para o embelezamento do espaço público mas também para a criação de ligações da comunidade com o ambiente que a rodeia», lembrando que «tem olhado para a arte urbana como forma de gravar para a posteridade a memória de alguns dos seus nomes maiores». E dá, como exemplo, os dois murais inaugurados recentemente dedicados ao arquiteto Nuno Teotónio Pereira e ao escritor José Cardoso Pires.

Mas a homenagem ao músico punk pode não ficar por aqui. Em marcha está uma petição para mudar o nome do jardim dos Coruchéus para jardim João Ribas. Uma mudança que, no entender da Junta, faz todo o sentido. «É uma questão que colocamos na nossa agenda há muito, desde o falecimento de João Ribas, e pela qual continua a pugnar. Também é essa a vontade da sua família, amigos e admiradores». 

A petição foi apreciada pela Assembleia Municipal de Lisboa, em 2014, que aprovou por unanimidade e aclamação um parecer da Comissão Permanente de Cultura, Educação, Juventude e Desporto que manifestava posição favorável a esta alteração. No entanto, a atribuição do nome do músico ao jardim é uma questão da competência da Comissão Municipal de Toponímia. «Segundo informações recolhidas pela Junta de Freguesia de Alvalade junto da Câmara Municipal de Lisboa, a apreciação da atribuição de topónimo não teve ainda lugar por não terem decorrido cinco anos desde a morte de João Ribas – princípio que consta da Postura Municipal sobre Toponímia e Numeração de Polícia», refere. 

Nome incontornável no movimento punk

Antes dos Tara Perdida – formados em 1995 e regressados em 2013, com o álbum Dono do Mundo, depois de um interregno de cinco anos -, o músico já tinha tido várias aventuras punk. Sobretudo com os Ku de Judas e os Censurados, bandas que formou durante a década dos 1980 com o seu grupo de amigos de Alvalade, onde era uma espécie de herói local. 

A vida de João Ribas confunde-se com a própria história do punk em Portugal. «De facto, o punk afirma-se em Portugal a partir de Alvalade, embora sempre numa lógica underground, de não-reconhecimento», chegou a revelar Paula Guerra, autora do livro Palavras do Punk, lembrando ainda que este era então «um bairro residencial habitado por uma classe média-alta aberta às influências externas, onde os discos iam chegando». E onde havia , sobretudo, muitos adolescentes – alguns dos quais nunca cresceram totalmente, como João Ribas. 

Em 2009, antes da estreia dos Tara Perdida no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, o músico, em entrevista à Lusa, dizia: «Acho que continuo a ser a criança que sempre fui, continuo um Peter Pan. Claro que há responsabilidades, mas ao nível musical sempre fui assim. Continuo a dizer que o punk é eterno, as regras estão feitas e não mudam». 

Mas apesar da fidelidade ao passado e ao punk, chegou a admitir que a idade acarretou uma evolução: «Cresces e crias o lado filosófico da situação e acho isso normal. A nível de letras é isso que estamos a fazer, numa onda mais ‘cool’. Até porque não somos uma banda política. A minha política é o trabalho».

O músico morreu, em abril de 2014, com 48 anos vítima de doença respiratória.