Montepio. Eleições na reta final

Tomás Correia já conta com uma lista adversária. Ribeiro Mendes, atual membro da administração, já oficializou candidatura. Presidente ainda não decidiu mas tem de haver uma lista de continuidade.

Montepio. Eleições na reta final

O ainda administrador da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) Fernando Ribeiro Mendes já oficializou a candidatura às eleições da instituição, marcadas para 7 de dezembro. Este tem sido uma das principais vozes críticas contra a liderança de Tomás Correia, ao apelar a mudanças profundas na associação. O ex-vice governador do Banco de Portugal, João Costa Pinto, aparece como nome indicado para o Conselho Geral da Mutualista.

«Conhecemos bem a enorme crise de confiança que afeta o nosso Montepio Geral, e que atinge a economia social no seu todo bem como a sociedade portuguesa. Para superar esta situação, temos um caminho difícil pela frente. O objetivo essencial que nos há de guiar é a reconstrução da confiança associativa e junto dos nossos parceiros fundamentais – o governo, o parlamento, os reguladores da atividade económica e as entidades da economia social», referiu Ribeiro Mendes na apresentação da candidatura. 

Também João da Costa Pinto, em entrevista ao i, já tinha admitido que estava disponível para dar o seu contributo para a reorganização da Associação Mutualista. «Como associado do Montepio e como economista que dá importância ao grupo Montepio, com certeza que estaria disponível para dar o meu contributo a um processo de reorganização do Montepio que, no essencial, respeitasse os princípios fundadores e permitisse consolidar a sua posição na sociedade portuguesa», revelou o economista, acrescentando ainda que «não faria sentido que andasse há anos a chamar a atenção para os problemas que se foram desenvolvendo no Montepio e depois me pusesse de lado relativamente a um esforço no sentido de encontrar as melhores soluções». 

 A oficialização da lista ocorreu na quinta-feira e contou com a presença de várias personalidades como Norberto Pilar (ex-presidente da TAP e dos CTT) e João Proença (ex-UGT), dois dos subscritores do designado manifesto Anti-Tomás Correia. Também Miguel Coelho, outro administrador desalinhado dentro da atual administração da AMMG, esteve presente.

Segundo o manifesto, «no perfil dos candidatos inclui-se, não só a competência para o desempenho de cada particular função, como a completa ausência de suspeições de idoneidade que decorram de processos judiciais em curso ou de comportamentos de ética duvidosa».

Ainda não há certezas em relação a António Godinho, que nas últimas eleições era apoiado por Braga Gonçalves – antigo homem forte da Moderna e que esteve detido durante quatro anos – e contava com nomes como o sindicalista João Proença, o ex-ministro das Finanças António Bagão Félix , o general Pinto Ramalho e Vítor Batista, que foi deputado socialista e governador civil. Godinho é um ex-trabalhador do Montepio, mas acabou por sair para se dedicar ao mundo dos negócios. Fundou o grupo Onebiz, que oferece redes e serviços em sistemas de franchising. 

Incertezas 

 Ao que o SOL apurou, o presidente ainda não decidiu se irá recandidatar-se, mas, caso avance, será para o seu último mandato. Tomás Correia está na liderança da Associação Mutualista há 10 anos e até 2015 acumulou com a presidência da Caixa Económica Montepio Geral.

Para já, ainda só deu uma garantia: depende de «muita interação, muito diálogo em torno do caminho e das pessoas mais hábeis para percorrer o caminho». As listas de candidaturas terão de ser entregues até 31 de outubro. Mas em relação aos movimentos que vão surgindo, Tomás Correia já deixou um recado: «as alternativas não têm qualidade e não têm determinação para poder assumir tamanha responsabilidade».

Mas, segundo os estatutos das Associações Mutualistas, o atual conselho de administração é obrigado a apresentar uma lista de continuidade, mesmo que não mantenha os administradores que estão ainda em funções. Até 2003, houve sempre apenas uma lista a eleições. Só no final desse ano é que começaram a surgir candidaturas alternativas. Nessa altura, coube a António Maldonado Gonelha, ex-ministro do Trabalho e da Saúde, fazer face à lista de José da Silva Lopes que saiu vencedora.

Eleições concorridas

A partir daí, o interesse pelas eleições no Montepio foi ganhando maior relevo e as listas também se foram multiplicando. Exemplo disso, foi o que aconteceu no último ato eleitoral: apareceram na corrida quatro candidaturas e foi possível, ao mesmo tempo, encontrar um pouco de tudo, de ex-políticos a dirigentes sindicais, contando ainda com apoios públicos, nomeadamente com figuras ligadas às artes, como a fadista Mariza e o cantor brasileiro Ivan Lins, Filipe La Féria ou o gestor Rui Nabeiro. 

A lista liderada por Tomás Correia venceu as eleições para a Associação Mutualista com 58,7% dos votos, mas envolvida em forte contestação. Uma das candidaturas derrotadas – de António Godinho, um dos rostos do projeto ‘Renovar Montepio’ – chegou a pedir a impugnação dos resultados, nomeadamente por não ter sido possível às listas da oposição assistir ao processo de validação dos votos por correspondência (mais de 95% dos votos não são presenciais), com o argumento de que os dados dos associados são protegidos por sigilo bancário (uma vez que a validação das assinaturas é feita por semelhança com a assinatura dos clientes na base de dados bancária), considerando que isso facilitaria eventuais falsificações de votos. Mas no ano passado o Tribunal chumbou a repetição das eleições, considerando improcedente o processo que tinha sido intentado.

Recorde-se que, a Associação Mutualista Montepio Geral teve lucros consolidados de 831 milhões de euros em 2017, o que compara com prejuízos de 151 milhões de euros em 2016. 

As contas foram fortemente influenciadas pelos créditos fiscais, por reconhecimento de ativos de impostos diferidos. Uma situação que provocou uma onda de constestação com críticas e pedidos de esclarecimento por parte dos partidos PSD, CDS-PP, PCP e Bloco de Esquerda.