Mais de 200 artistas denunciam estado da Arte em Portugal em “oferta simbólica” ao primeiro-ministro

“Com a crise dos últimos anos perdeu-se uma geração de artistas”, denunciam os signatários da carta emoldurada que será entregue quarta-feira a António Costa. 

A criação de uma coleção de arte portuguesa contemporânea e de um fundo do Estado para aquisições, bem como de uma agência para a arte contemporânea separada da DGArtes, que “deve passar a ser oficialmente o que tecnicamente já é: a Direção-Geral das Artes do Expetáculo” são as principais reivindicações de um grupo de mais de 200 artistas numa carta intitulada “O Estado da Arte em Portugal”, que nesta quarta-feira às 18h será entregue, emoldurada em forma de cruz, como “oferta simbólica ao primeiro-ministro” na sua residência oficial, em São Bento. 

Num extenso texto que traça um diagnóstico do estado da Arte em Portugal – o mercado, as galerias, as coleções, as instituições e os museus, a crítica e a (cada vez menor) atenção dada pelos media às artes visuais – os signatários, acusam o Estado de “ao longo dos anos se ter alheado das suas responsabilidades”.

No momento atual, afirmam logo de início, “cumpriram-se (grosso modo) duas etapas que agradariam a alguns artistas anteriormente ressentidos: o ‘fim’ do mecenato e o ‘fim’ da crítica. Com a crise dos últimos anos perdeu-se uma geração de artistas”, denunciam os mais de 200 signatários, entre os quais figuram nomes como Ana Vidigal, Ana Perez-Quiroga, Daniel Blaufuks, Fernanda Fragateiro, Gustavo Sumpta, João Cutileiro, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, João Queirós, José de Guimarães, José Pedro Cortes, José Pedro Croft, Julião Sarmento, Pedro Proença, Rui Calçada Bastos, Rui Chafes, Rui Toscano, Tomaz Hipólito Raposo, Valter Vinagre e Vasco Araújo. 

“Terão os artistas de continuar a emigrar por falta de solução, nem vinda do Estado, nem do mercado?”, questionam para logo de seguida afirmar que “o mercado de arte em Portugal é uma falácia. Nem há horizonte nem há visibilidade. A escala e posição demográfica de Portugal são os argumentos quando não há estratégia cultural”. 

E acrescentam: “Durante cerca de 15 anos (de 1987 a 2002) pensou-se que o mercado da arte em Portugal existia, que as instituições iam fazer o que lhes cabe e que seria possível aos artistas viver do que os define”, lê-se na carta, a que o i teve acesso. “Hoje tudo mudou. O colapso de 2008 foi o super-argumento para bancos e empresas interromperem a aquisição de obras de arte.” 

Numa carta que denuncia repetidamente uma total inoperância do Estado na criação de políticas para as artes visuais, sublinham a inexistência de um local com uma coleção que permita “ver hoje a produção artística contemporânea em Portugal” (são tecidas duras críticas também à gestão do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado). “O que existe é uma manta de retalhos, resultante de um conjunto de coleções, pensadas casuisticamente e sem estratégia a médio e longo prazo.” E advogam: “Não é necessário criar mais museus, o que é necessário é saber o que fazer com os atuais.”