Christian Clot. ‘Ouvir o som da voz humana é fundamental para não enlouquecermos’

Já passou meses em expedições solitárias nos locais mais hostis do planeta – das montanhas geladas da Patagónia à floresta tropical, do deserto ao Círculo Polar Ártico. O fascínio pelos exploradores que o antecederam levou-o a fundar uma coleção de banda desenhada dedicada aos seus heróis. Fernão de Magalhães é um deles.

Christian Clot. ‘Ouvir o som da voz humana é fundamental para não enlouquecermos’

Nasceu na Suíça em 1972 e em pequeno queria ir à descoberta da floresta que rodeava a sua aldeia. Quando tinha apenas quatro anos um dia saiu de casa, perdeu-se e passou lá a noite. Os pais ficaram apavorados, mas a experiência não o traumatizou. Hoje, Christian Clot é vice-presidente da Societé des Explorateus Français e organiza expedições científicas aos lugares mais remotos do planeta. Em 2006 passou três meses sozinho na inóspita cordilheira Darwin, na Patagónia chilena; entre 2012 e 2013 atravessou a pé durante meses a Tanzânia, o Burundi, o Ruanda e Uganda numa expedição à nascente do Nilo.

Paralelamente à carreira de explorador, Clot iniciou uma coleção de banda desenhada sobre algumas das personagens históricas que mais admira. Em Portugal acaba de ser publicado pela Gradiva o livro que dedicou a Fernão de Magalhães: Magalhães – Até ao Fim do Mundo. Conversámos com o autor numa esplanada de Lisboa.

Robert Peary conquistou o Polo Norte em 1909. Roald Amundsen atingiu o Pólo Sul em 1911. O Evereste foi escalado pela primeira vez em 1953. Em 1960, um submarino desceu a Fossa das Marianas, a quase 11 mil metros de profundidade. Pensava que o Homem já tinha chegado a todos os recantos do planeta. Apesar disso, ainda há exploradores?

Quando Fernão de Magalhães foi ter com o Rei de Portugal, o Rei disse-lhe isso: ‘Para que queres explorar se já sabemos tudo?’. E Magalhães respondeu: ‘Não sabemos nada sobre a América do Sul’. Há sempre essa ideia de que sabemos tudo, porque é muito difícil pensar nas coisas que não sabemos. A exploração muda isso: é encontrar novas formas de fazer uma viagem ou de encontrar outra rota. Se pensar bem, neste momento estamos mesmo no início da era da exploração, porque o universo é enorme e está quase tudo por descobrir.

Sim, mas aqui na Terra…

Mesmo aqui na Terra. Ainda há um mês foram encontradas no meio da floresta tropical as ruínas de uma nova cidade maia de que ninguém tinha ouvido falar. Pense no deserto. Pode andar por lá, olhar à volta, ver a areia. Acha que já viu o deserto. Mas sabe o que se esconde um metro abaixo da superfície? Chegámos a muitos lugares, como você disse, mas há muita coisa por descobrir no fundo dos oceanos ou mesmo debaixo da terra.

O que estudou para se tornar um explorador?

Para se ser explorador tem de se estudar muitas coisas. As mais óbvias são a geografia e a meteorologia. Mas também tem de se saber de geopolítica, para conhecer o ponto da situação no mundo. Há países que estão fechados durante décadas e de repente dá-se uma mudança política e voltam a abrir a estrangeiros.

Pode dar um exemplo?

O Sudão do Sul. Esteve completamente fechado durante mais de 40 de anos e agora pode-se ir lá. Para se ser explorador, também se deve estudar geologia e glaciologia, é preciso conhecer os diferentes tipos de gelo, a natureza. Por mim, estudei sobretudo como os seres humanos se adaptam a novas condições, o que é todo um novo campo de exploração – exploro o cérebro em contexto real, o que é algo sobre o qual nada sabemos. Tem de se compreender muitas coisas, se só tivermos formação num campo nunca poderemos ser exploradores.

E tem de fazer exercício físico?

O treino é importante para estar em forma. Mas é sobretudo no cérebro e na preparação mental que temos de confiar para atingir os objetivos mais difíceis.

Já esteve em sítios muito inóspitos, como as montanhas da Patagónia, no Chile, o deserto do Irão e o coração de África. Foi sozinho ou em grupo?

Fiz algumas expedições sozinho, mas também já liderei grupos de cientistas ou de outras pessoas. Diria que em 20-25 % das expedições fui sozinho e nas restantes fui com grupos.

Do que gosta mais?

Gosto de ambas. Quando estamos sozinhos temos de ser nós a tomar todas as decisões. Não há ninguém com quem discutir nem para nos ajudar ou aconselhar. Temos de estar extremamente concentrados, tentar perceber tudo. Isso é muito interessante mas também é muito desgastante. E percebemos que falta qualquer coisa – essa coisa são outras pessoas. Somos humanos e gostamos de estar rodeados de outras pessoas. Ninguém consegue viver sozinho. Por isso também gosto de ir em grupo.

Quando está só sente falta de dizer a outra pessoa: ‘Olha para aquilo, que bonito’?

É isso. E há outra coisa. Uma pessoa não consegue ver tudo. Se estivermos os dois, por exemplo, eu vou olhar naquela direção e ver umas coisas e você vai olhar na outra direção e ver outras coisas e assim temos uma ideia mais completa do que nos rodeia.

Quanto tempo já passou sozinho?

As minhas expedições duram normalmente entre um e seis ou sete meses. Em 2006 passei três meses numa expedição solitária na cordilheira Darwin, no Chile.

Quando não tem companhia fala sozinho?

Sim, temos sempre de falar. E quando estamos sozinhos temos de falar para nós próprios. Ouvir o som da voz humana é fundamental, se não ouvirmos o som da voz humana enlouquecemos. Por isso falo sempre quando estou sozinho.

Sei que tem estudado o impacto que viver em condições extremas provoca no cérebro. O que concluiu?

Tenho um instituto de pesquisa sobre como o cérebro reage a diferentes tipos de condições. Conseguimos perceber que o cérebro se altera nos primeiros dias, aparecem novas sinapses [elementos que fazem a ligação entre neurónios] e há outras que se destroem. Antes, sempre acreditámos que demorava muito tempo a mudar alguma coisa no cérebro, agora sabemos que isso não é verdade. É demasiado cedo para chegar a conclusões, o que podemos dizer é que a parte emocional do cérebro muda quando enfrentamos novos desafios. Muito mais do que os centros de decisão, ou seja, é mais importante trabalhar com as emoções do que com as decisões.

E, tendo passado por essa experiência, sentiu de alguma forma o seu cérebro a adaptar-se?

Não se sente mesmo o cérebro a mudar, obviamente. Mas notam-se as diferenças. Quando se está num local com características especiais – muito frio, muito quente ou muito húmido – no início da expedição parece completamente impossível viver ali. À medida que o tempo passa, damo-nos conta de que estamos em condições difíceis, mas já compreendemos o que nos rodeia, vemos mais coisas, sentimos mais coisas. Ao fim de alguns dias pensamos: ‘Estou bem, já consigo viver aqui’. Sabemos que algo está a mudar dentro de nós, é difícil é dizer exatamente o quê.

Quais são as principais competências necessárias para sobreviver nesses locais?

Estar vigilante. Estar aberto a tudo, ter curiosidade. Estar preparado para tudo e ouvir o nosso medo. Quando estamos em novos lugares ou sob condições diferentes, temos muito medo. Normalmente as pessoas dizem: ‘Não quero ouvir o meu medo, não preciso do medo’. Não se deve fazer isso, porque temos de perceber por que tememos alguma coisa. Se conseguirmos perceber o porquê de aquilo nos assustar podemos trabalhar sobre isso. Portanto acho que a melhor forma de nos adaptarmos a novas condições é vigilância e escutar com atenção o nosso medo, o nosso corpo, tudo aquilo que estamos a sentir.

E quanto a equipamento, o que leva?

O equipamento depende do tipo de expedição e do local para onde vamos. O equipamento tem de ser adequado e temos de ter a certeza de que o sabemos usar, porque às vezes temos um novo equipamento, chegamos ao terreno, olhamos para aquilo e pensamos: ‘Wow, não sei como é que isto funciona!’. São apenas ferramentas. O mais importante é o nosso cérebro estar preparado para enfrentar qualquer tipo de situação.

O que leva em concreto? Uma faca, corda, tenda…

Levo uma faca, claro, uma tenda, saco-cama. Tenho uma lista de mais 500 artigos.

E comida?

Levo água e comida desidratada, porque não quero ‘roubar’ nada do meio onde me encontro. Se perder toda a comida, aí sim, terei de caçar porque isso pode salvar-me a vida, mas só mesmo em última instância. Em princípio, prefiro não usar animais nem vegetais dos sítios onde fico.

Leva uma arma consigo?

Levo tudo. Tenho um trólei e uma mochila grande, dá para levar muita coisa.

Quantos quilos pode pesar a bagagem?

Depende. Quando fui para o deserto levei 160 quilos num trólei.

Em cima da areia?

Sim. É difícil, mas não tanto como parece. Quando dizemos 160 quilos parece impossível, mas com rodas é muito mais fácil, é manejável. Na floresta tropical tinha uma mochila com 50 quilos, o que é muito pesado. É preciso algum treino para isso.

Alguma vez ficou doente numa expedição?

Só uma vez, no Nepal. Fui convidado de umas pessoas e ofereceram-me água para beber. Quando alguém nos convida para casa e nos oferece alguma coisa é muito difícil recusar. Às vezes sabemos que podemos ter problemas, mas é impossível dizer não porque iria ofender os nossos anfitriães.

Nunca sente que está a correr demasiados riscos?

Às vezes sei que estou a correr riscos, mas isso faz parte da minha profissão. Trabalho muito para minimizar os riscos e estar preparado, em forma e com bom espírito, e ter o equipamento adequado. Uma expedição leva dois a três anos a ser preparada, é muito tempo. Tento estar consciente de tudo o que vou enfrentar e preparo-me para enfrentá-lo. Claro que quando se está no deserto com mais de 60ºC e 2% de humidade, o mais ínfimo erro pode provocar grandes estragos. Claro que há risco, eu aceito-o e tento controlá-lo.

Tem uma tenda especial para o deserto?

Gostava de ter, mas ainda não encontrei a tenda perfeita. O melhor é ter uma tenda de algodão, mas é muito pesada. Tive de construir um novo tipo de tenda e agora estou a tentar fazer outra ainda melhor, sobretudo para o dia. Ao meio dia o sol é tão forte que é preciso uma proteção. Por isso arranjei uma cobertura que reflete o sol, mas não era a ideal. Estou a trabalhar nisso.

O repórter polaco Riszard Kapuscinski escreveu que na Etiópia o sol era tão forte que parecia um martelo a bater-lhe na cabeça.

E é. No início da expedição, ao terceiro dia, o sol era tão forte que parecia que estava a ser atacado com uma faca. Depois não é melhor, o calor é sempre o mesmo, mas percebi que tinha de deixar de o combater. Desisti e aí tornou-se muito mais fácil.

Nunca teve problemas com animais selvagens?

Tive uma situação potencialmente perigosa com um urso polar.

O que aconteceu?

Estava a andar em Spitzbergen [ilha norueguesa situada no Ártico] e havia um urso polar deitado no chão. Só o vi quando estava a 10, 15 metros dele e ele levantou-se. Estava a dez metros de um urso polar – o que não é boa ideia – e ele estava a acordar. Ficou assustado por nos ver e é quando estão assustados que eles podem ser mais perigosos. Mas ele viu-nos e fugiu. Ainda estou aqui, portanto… Também tive alguns problemas na floresta tropical, mas nada de especial.

Picadas de insetos?

Também. Mas o pior foi uma bactéria que entrou no meu organismo. Ainda assim nada de grave.

Disse-me que o cérebro tem de se adaptar às condições extremas. E no regresso a casa, não tem de se adaptar?

Em parte tem, mas é o sítio onde sempre vivemos. Regressamos à nossa vida normal, por isso é muito mais fácil. Não tenho qualquer problema em regressar. O que é estranho é perceber que posso dormir sem ter de estar sempre alerta, sem ter de me levantar hora a hora para ver se vem aí uma tempestade ou um animal. No início acordamos todas as noites e só depois percebemos onde estamos. Outra coisa é que não precisamos de perder duas horas a derreter água, como quando estamos num sítio gelado. Basta abrir a torneira. Ao princípio é estranho ser tudo tão simples, tão fácil. Mas isso dura um ou dois dias e depois limitamo-nos a ficar contentes por estarmos em casa.

Por que começou a sentir necessidade de ir para estes sítios?

É uma pergunta que já fiz a mim próprio algumas vezes. Não sei dizer. Só me lembro de que quando era miúdo estava sempre desejoso de descobrir coisas novas. Nasci numa pequena aldeia na Suíça rodeada de floresta. Queria ir para a floresta e explorá-la – a palavra ‘explorar’ não é correta, porque eu tinha quatro ou cinco anos e não tinha essa noção, mas queria ir para lá e ver a floresta. Desde que me lembro de mim sentia necessidade de ir aos sítios e ver como eram. Nunca aceitei a ideia de me dizerem: ‘Aquilo é assim e pronto’. Queria ver, queria perceber. Penso que é por isso que hoje sou um explorador, quero compreender as coisas, preciso de as ir ver com os meus olhos.

E esse desejo de descoberta alguma vez o levou a fugir de casa?

A primeira vez que fiz isso foi quando tinha quatro anos.

Só para ter a certeza de que percebi bem: disse quatro anos?

Sim. Saí de casa sem dizer nada aos meus pais, fui para a floresta e perdi-me. Tive de passar a noite na floresta. Claro que isso não estava nos meus planos e os meus pais ficaram apavorados. No dia seguinte consegui encontrar o caminho de volta e regressei a casa.

Tem alguma memória desse episódio?

Muito pouca. Lembro-me de sentir que estava sozinho, de ficar escuro e de ter medo, claro. A primeira coisa que pensei foi: ‘Tenho de esperar’. Por isso passei a noite, não me lembro da noite, devo ter ficado muito assustado com os sons. A única coisa de que me lembro muito bem é da cara dos meus pais quando voltei. Provoquei-lhes muito sofrimento, mas na altura era demasiado pequeno para perceber isso. O segundo momento em que desafiei os meus pais foi quando comprei um bilhete de avião para ir para o Canadá para fazer uma expedição. Tinha 16 anos, é um pouco cedo, mas deixaram-me ir.

Não se zangaram?

Acho que eles perceberam que havia duas hipóteses: deixar-me ir e ajudar-me, e eu acabaria por voltar; ou tentarem-me impedir e eu acabaria por ir na mesma.

À medida que começou a fazer essas expedições, o entusiasmo que elas provocam tornou-se uma espécie de droga?

No início isso era verdade porque organizava expedições mais de aventura. Limitava-me a ir e sentir coisas. Assim que decidi empreender estudos científicos isso mudou, porque tenho outros objetivos. Tento conciliar essas emoções com os estudos, continuo a gostar imenso de ir numa expedição, se passa demasiado tempo sem fazer uma sinto falta de alguma coisa. Mas não é uma coisa de que precise como uma droga.

Continua a sentir o entusiasmo?

Completamente. Sei que vou ver coisas novas, experienciar novas sensações, conhecer novas pessoas. Só vir aqui a Lisboa foi uma grande excitação para mim.

Também viaja em lazer?

Nem por isso. As expedições ocupam-me muito tempo e quando não estou a preparar ou envolvido numa tenho de dar conferências, reuniões, etc. Mas tento sempre misturar o lazer com o trabalho.

Falando agora deste livro. Foi você que escreveu a história?

Sim, criei uma coleção que já tem 16 álbuns e eu escrevi as histórias.

Quando começou a interessar-se pela vida de Magalhães e pela sua viagem de circum-navegação?

Antes de iniciar uma expedição tento estudar a história do lugar, a história das pessoas que lá viviam e a das que o descobriram. Ao fazer essas pesquisas fiquei apaixonado pela história da exploração e descobri a vida de muitos exploradores, e Magalhães é dos mais incríveis. Hoje que temos o Google Earth e vemos o planeta a partir do espaço, faz sentido, parece perfeitamente lógico. Naquela época era algo impensável. Então criei esta coleção de banda desenhada e dediquei o primeiro número a Magalhães. Para mim é o maior explorador que já existiu.

Acha que o facto de você também ser explorador lhe permite compreender melhor a vida e os feitos de Magalhães?

Quando escrevo uma história leio muito sobre o assunto, vou a arquivos, cartas, tudo o que consigo encontrar. E tento ler nas entrelinhas, porque já liderei expedições com outras pessoas e sei que nos diários nunca escrevemos tudo. Escrevemos algumas coisas e deixamos outras de fora. Tento perceber como aconteceu, é assim que escrevo as minhas histórias.

Também costuma velejar?

Não sou um velejador, mas às vezes ando em barcos à vela. Sobretudo na Patagónia, na rota de Magalhães.

E já apanhou uma tempestade?

Infelizmente sim.

Como é?

É uma loucura. Perdemos a noção de tudo, ficamos desorientados. Acontecem duas coisas: tudo se mexe à nossa volta. Já não somos nós que tomamos as decisões, é o vento que as toma por nós. E há outra coisa de que ninguém fala: o som. O som do vento é como estar numa discoteca com a cara mesmo em cima da coluna no máximo volume. Perdemos toda a capacidade de ouvir seja o que for além disso. Estamos no meio do nada e sabemos que a nossa vida já não está nas nossas mãos. É uma coisa horrível. Uma vez apanhei uma tempestade que durou 13 dias, na Patagónia, com ventos de 200 km/h. Agora, quando ando num navio à vela ouço muitas vezes pessoas a dizerem que gostavam de experimentar uma tempestade para saber como é. E eu costumo dizer-lhes: ‘Nunca desejem uma tempestade. É uma coisa engraçada de imaginar mas é uma coisa horrível de se viver’.

Por que acha que Magalhães foi o primeiro homem a conseguir circum-navegar o planeta? Porque era mais esperto? Porque era mais determinado? Porque teve sorte?

Acho que foi um pouco de tudo. Ele teve uma ideia e fez tudo para a pôr em prática, até deixar o seu país. Tenho a certeza de que não lhe passava pela cabeça fazê-lo por outro país. Mas quando o Rei de Portugal lhe disse que não o ia ajudar, ele tinha duas hipóteses: abandonar a ideia ou tentar outra coisa. Acho que é aí que se vê que se alguém é ou não é um explorador. Nunca aceita um não. Tenta-se de outra maneira. Foi o que ele fez. Tenho a certeza de que não ficou feliz com isso. Depois de ir a Espanha, teve de lutar em cada momento da expedição contra outros capitães, contra o vento, contra o frio, contra os homens, que queriam voltar para trás. Para isso é preciso uma determinação absoluta. Também era esperto, de certeza. Muitos capitães nesta época eram homens ricos, nunca se misturavam com os outros homens do barco nem eram eles que navegavam. Ele fez tudo isso e sabia tudo sobre navegação. Muitos historiadores dizem que ele era irascível, que estava sempre sozinho. Tenho a certeza de que isso não é verdade. Se ele conseguiu prosseguir a expedição naquelas condições – navegar na Patagónia com aquele tipo de barco é impensável – é porque os homens confiavam nele. A confiança dos homens é um elemento-chave.

Acha que quando ele descobriu e atravessou aquele que hoje é o Estreito de Magalhães teve noção do feito que tinha acabado de conseguir? Imaginaria que 500 anos depois ainda estaríamos a falar disso?

Ele sabia que estava a fazer algo de incrível, que iria mudar tudo para Espanha, para Portugal, para a Europa. E também sabia que por ser um estrangeiro às ordens de Espanha, Espanha nunca iria admitiria a real importância desse feito.