Exportar Embarcações – Foz do Guadiana (Vila Real de Santo António)

Uma das decisões estratégicas mais relevantes para a sustentabilidade desta indústria em Vila Real de Santo António foi, sem dúvida, a aposta na produção em Fibra de Vidro

Vila Real de Santo António nasceu numa povoação de Pescadores que Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal, decidiu transformar em cidade, investindo fortemente na construção de edifícios, praças e vias de comunicação. O objetivo era criar uma cidade costeira que reforçasse a proteção, na zona de fronteira com Espanha. 

Nessa época, a grande fonte de receitas dos seus habitantes provinha da pesca. No final do século XIX e início do século XX, a cidade viveu um período de grande prosperidade. O setor das pescas (principalmente sardinha e atum) dinamizavam a cidade, transformando-a num relevante centro pesqueiro e conserveiro. Era igualmente um importante porto para os barcos que transportavam minério desde as minas de São Domingos. Atualmente, à semelhança do que acontece em todo o Algarve, o turismo representa uma fatia muito importante do produto interno bruto gerado pela cidade, a escassez de atum e de sardinha tem vindo a provocar uma redução na importância da pesca, no entanto, a indústria da construção naval continua bem viva.

 

Parte do segredo de longevidade da construção naval em Vila Real de Santo António é explicado pela existência na cidade de recursos humanos com significativa experiência na indústria, pelo permanente acompanhamento das mudanças tecnológicas e de materiais previstas, pela competência da equipa de gestão e pela aposta no mercado da exportação. Espanha, França, Itália, Malta, Croácia, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné, Senegal, Marrocos, Cabo Verde e Costa do Marfim, são alguns dos mercados para os quais se tem vendido, ao longo da última década.

Uma das decisões estratégicas mais relevantes para a sustentabilidade desta indústria em Vila Real de Santo António foi, sem dúvida, a aposta na produção em Fibra de Vidro. Construir neste material permitiu uma grande eficiência e uma grande flexibilidade na construção de várias Embarcações de Recreio, Pesca Desportiva e Mergulho; Embarcações Especiais – Embarcações Ambulância, Embarcações de Pesca – Cercadoras, Arrasto, Polivalentes,  Auxiliares; Atuneiros, Ganchorra, Palangre e Armadilhas.

 

A Foz do Guadiana ao contribuir significativamente para a modernização da frota atuneira que pesca na Macaronésia (Cabo Verde, Canárias, Madeira e Açores), para a renovação da frota pesqueira de Angola e para abastecer o mercado de embarcações marítimo turísticas do continente de Portugal, dá uma lição de que, mais importante do que estar próximo do centro, mais importante do que estar numa cidade de grandes dimensões, perceber bem como funcionam os mercados fora da região onde se está inserido e ter capacidade para implementar as ideias inovadoras que podem, com um elevado grau de certeza, provocar a disrupção e a transformação de todo um setor é fundamental para reduzir o risco e construir um futuro economicamente sustentável, através do mar.

*Sócio da PwC