Samuel recebia “cinco euros e duas sandes” para atear fogos

Cristiano e Samuel são dois dos oito inimputáveis na cadeia de Santa Cruz do Bispo, no Porto

Em Portugal, das 136 pessoas suspeitas e condenadas por crimes de incêndio florestal, 20 são consideradas inimputáveis, incapazes de reconhecer o mal causado. Um ano depois das tragédias de Pedrógão Grande e dos incêndios de outubro, a jornalista Amélia Moura Ramos, da SIC, falou com dois deles, que atualmente cumprem medidas de segurança na cadeia de Santa Cruz do Bispo.

Cristiano entra e sai do sistema prisional há 26 anos e garante que não quer sair porque não quer “beber álcool”.

O antigo pastor, que agora cuida das ovelhas da cadeia de Santa Cruz do Bispo, uma antiga quinta agrícola, tinha apenas 19 anos quando conheceu a primeira medida de segurança por crimes de incêndio florestal, seguiram-se outras três.

“Fiz fogo num pinhal vizinho à casa da minha mãe”, começa por dizer, confessando de seguida que o fez por “vingança”.

Das outras vezes, Cristiano culpa o álcool, sente fascínio pelo fogo e pelo alarme causado pelo mesmo, mas não pode ser considerado pirómano, devido a deficiência.

Mas o testemunho deste homem não fica por aqui. Cristiano revela que lhe pagaram para atear fogo, cerca de 500 euros.

“Quem me pagou está do lado de Espanha”, afirma, confirmando posteriormente que se tratava de um madeireiro.

Outro suspeito considerado inimputável é Samuel Carrondo. Em 2007 venceu duas medalhas nos Jogos Paralímpicos de Xangai em provas de natação, mas depois, segundo a família, perdeu “o norte”.

“Samuel preciso de um favor teu, vai botar um incêndio no pinhal assim e assim e lá ia eu”, conta Samuel à jornalista, acrescentando de seguida que em troca recebia “cinco euros e duas sandes”.

Em tribunal foi a palavra de Samuel contra a pessoa que alegadamente lhe pagou.

“Tinha um bom advogado que pagava do bolso dele”, conta.

A irmã de Samuel conta que este lhe chegava a contar o que havia feito, que recebia “dois ou cinco euros” e que “tinha fascínios por fogos, por ver arder, pelos bombeiros”.

Questionado se sente arrependimento, Samuel não hesita e garante que sim.

“Estou bem arrependido. Podia matar pessoas, dar cabo de casas, matar animais”, afirmou.

Cristiano e Samuel são dois dos oito inimputáveis na cadeia de Santa Cruz do Bispo.