Salvar Asia Bibi – o que podemos fazer

Em 2009 uma mulher paquistanesa foi presa por ter bebido água de um poço. Na verdade foi presa por, sendo cristã, ter bebido água de um poço e, por isso, acusada de insultar o profeta Maomé. No Paquistão a lei da blasfémia preconiza a condenação à morte para este ‘crime’. Detida desde 2009, Asia Bibi,…

Em 2009 uma mulher paquistanesa foi presa por ter bebido água de um poço. Na verdade foi presa por, sendo cristã, ter bebido água de um poço e, por isso, acusada de insultar o profeta Maomé. No Paquistão a lei da blasfémia preconiza a condenação à morte para este ‘crime’.

Detida desde 2009, Asia Bibi, hoje com 47 anos, casada e com 5 filhos, foi julgada e condenada à morte em 2011. Desde então, com o apoio de várias organizações internacionais, têm-se sucedido os pedidos de libertação e os recursos para a comutação da pena.

Várias organizações internacionais, com destaque para a Fundação Ajuda a Igreja que Sofre, têm-se mobilizado no sentido de manter vivo este caso com campanhas internacionais e apelos às autoridades paquistanesas. Também o Papa Francisco se envolveu neste caso recebendo a família no Vaticano e enviando um terço para ser entregue a Asia Bibi, tomando, deste modo, uma posição inequívoca e contribuindo para a exposição deste caso. 

Neste momento, após esgotar todas as tentativas, foi apresentado um último recurso ao supremo tribunal de justiça do Paquistão que reservou a sua decisão para um futuro próximo. Trata-se da última esperança para salvar Asia Bibi de uma sentença injusta e desumana. 

O Paquistão vive um clima de tensão entre a vontade fundamentalista e intolerante dos extremistas e a corrente moderada alimentada pela pressão internacional. O desfecho deste caso marcará o futuro do Paquistão e da comunidade islâmica. Se a sentença de morte for cumprida será a primeira execução por blasfémia no Paquistão. Pelo contrário, se Asia Bibi for libertada poderá ficar em causa a lei da blasfémia e será um passo importante para o rumo de moderação dos regimes islâmicos.

Em Portugal o caso tem passado quase despercebido. Com exceção do empenho da secção portuguesa da Fundação AIS em denunciar esta situação e de algumas (poucas) notícias, os portugueses têm estado indiferentes ao sofrimento desta mulher paquistanesa e à desumanidade que esta situação significa. A única mobilização que se verificou ocorreu em 2016 através de um conjunto de deputados que reuniram a subscrição de cerca de 60 parlamentares numa carta dirigida ao Presidente do Paquistão e que foi entregue à embaixadora de então. Orgulho-me de ter ajudado a dinamizar esse movimento.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que «toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos».

O que está em causa no caso Asia Bibi é o respeito pela liberdade religiosa e também o respeito por um ser humano. O que se verifica é uma contradição gritante entre a atitude radical e fundamentalista praticada e os fundamentos do islamismo como a tolerância e o amor.

Asia Bibi é apenas mais um caso entre os milhões de cristãos que são perseguidos no mundo (um relatório internacional recente refere 215 milhões). Mas há também perseguições de outras religiões, perseguições por motivos políticos e outros.

Não tem de ser assim. Não pode ser assim! Cabe aos Estados, aos políticos e aos cidadãos a defesa dos direitos humanos, da paz e da tolerância.

No caso de Asia Bibi podemos fazer mais. Em primeiro lugar não sermos indiferentes, manifestar indignação e agir. O Estado português, signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, tem a obrigação de manifestar a sua oposição ao que se está a passar, os políticos podem retomar formas organizadas de pressão como sucedeu em 2016 e os cidadãos podem mobilizar-se e manifestar-se. Os crentes têm ainda uma possibilidade adicional: rezar.